Falar
sobre tentativa de suicídio na infância é ainda mais difícil porque o
ato pode ser facilmente mascarado como acidente. No entanto, o que vai
diferenciar um de outro é a intencionalidade, saber se a criança tinha
como objetivo se ferir propositadamente ou cometer o suicídio. “Na
dúvida é importante conversar com a criança para entender o que
aconteceu”, afirma Karen Scavacini, autora do livro ‘E agora? Um livro
para crianças lidando com o luto por suicídio’. No caso das crianças, a
cada 300 tentativas de suicídio uma se completa.
A psicóloga reforça que um dos maiores fatores de risco do suicídio na
infância é a criança não ser levada a sério quando fala de sua vontade
ou intenção de tirar a própria vida e ressalta que meninos e meninas têm
acesso a métodos como remédios e janelas sem proteção. “Tentativas de
suicídio anteriores são um dos maiores fatores de risco para o
comportamento suicida. É importante ressaltar que não é por que alguém
tentou cometer suicídio que essa pessoa não possa ficar bem de novo. No
caso de acidentes com crianças, o médico deve fazer perguntas para
verificar o que ocorreu. Se caracterizada a tentativa de suicídio, o
Conselho Tutelar precisa ser avisado, o que faz com que, em alguns
casos, essa tentativa não seja notificada justamente para não envolver o
conselho”, pondera.
Karen Scavacini afirma que toda política de prevenção de saúde mental
evita suicídios. “Se as crianças aprendessem, por exemplo, sobre
tolerância à frustração e resiliência, isso poderia ajudar na prevenção
do suicídio a longo prazo”, acredita.
A especialista lembra que 90% dos casos de suicídio têm relação com a
depressão e cita estimativa da OMS que mostra um aumento de 4,5% a 8% no
número de diagnósticos de depressão em crianças de 6 a 12 anos. “A
depressão em crianças tem sintomas diferentes das de adulto e às vezes é
até confundida com TDAH. Choro constante, agressividade, raiva, falta
de vontade em fazer as coisas, irritabilidade, medo excessivo,
culpabilização, tristeza, alterações de sono e/ou apetite, mau humor,
mudanças de comportamento, baixo rendimento escolar são sinais de que é
importante procurar ajuda”, avalia. Segundo ela, a duração (pelo menos
por 2 semanas) e intensidade desses sintomas também são importantes de
serem avaliadas.
Além da depressão, diversos outros fatores como abusos físicos e
sexuais, dificuldade de tolerância à frustração, abandono, negligência,
baixa autoestima, acesso a meios, período estressor recente como luto,
perdas, separações, pressões e cobranças exageradas, bullying e
cyberbulling são fatores de risco. “O suicídio é, na maior parte das
vezes, uma resposta ao sofrimento, ao desespero e à desesperança. A
criança não é capaz de medir qual é a extensão dessa “decisão”. Ela quer
escapar de algo que não vê outra saída”, salienta.
A criança com menos de 6 anos não tem um conceito claro do que é a
morte. “A partir dessa idade, ela pode até entender que vai morrer. O
que acontece muitas vezes - inclusive com adolescentes -, é a falta de
entendimento que a morte é para sempre e de que ela não voltará”,
explica Scavacini. Para a psicóloga, é muito importante informar pais e
mães sobre o suicídio na infância e sensibilizar os profissionais da
saúde e de educação para o assunto. “A tentativa de suicídio e suicídio
infantil são um dos maiores tabus da sociedade”, afirma.
Diante de uma tentativa real de suicídio na infância, o atendimento
psicológico individual e familiar, a avaliação psiquiátrica e o
acompanhamento psiquiátrico (se necessário) são importantíssimos. “Assim
como uma criança com altas taxas de açúcar precisa de acompanhamento,
uma criança ou adolescente que tentou o suicídio também precisa. Não
quer dizer que ele vai precisar de terapia a vida toda, mas que em
momentos de estresse ou mudanças significativas de comportamento, vale a
pena verificar como ele está lidando com a situação. Não devemos jamais
rotular uma criança e achar que ela será uma “suicida” a vida toda,
porém devemos ser mais cuidadosos em relação a sua saúde mental”,
pondera. Em relação à família, Karen defende o acompanhamento
especializado. “Não devemos confundir essa intervenção com
“culpabilizar” a família e sim, dar um atendimento mais integral para
aquela criança e família”, conclui.
Prevenção
A
prevenção ao suicídio consiste na capacitação de profissionais da área
de saúde em urgências psiquiátricas e suicidologia, investir em
campanhas para romper preconceitos, derrubar mitos e disseminar
informações qualificadas sobre o tema. “O suicídio é cercado de tabu e
preconceito, mas temos que começar a falar e discutir de forma clara
sobre o tema. Todos nós conhecemos alguém que já tentou ou se suicidou,
diminuindo o tabu também estamos prevenindo”, acredita Humberto Correa.
Vivian Zicker acredita que o Setembro Amarelo, mês de conscientização
sobre o suicídio, é uma conquista em termos de políticas públicas.
“Todos os principais monumentos e edifícios públicos do país estarão com
a luz amarela neste mês, chamando a atenção para o tema. Além disso,
várias atividades sobre a prevenção de suicídio estarão ocorrendo no
mundo todo em 10 de Setembro, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.
Creio que a melhor forma de prevenção é a informação e a educação.
Falando do assunto, damos a oportunidade para as pessoas tentarem buscar
ajuda especializada. O suicídio é hoje considerado uma epidemia
mundial”, conclui.
Voluntários pela vida
Há 54 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) vem desenvolvendo um
trabalho de prevenção ao suicídio. Espalhados pelo Brasil, já são mais
de 2 mil voluntários treinados para fazer o atendimento das pessoas que
estão em sofrimento mental e pedem ajuda. Além do atendimento por
telefone, em Belo Horizonte, o atendimento presencial pode ser feito das
14h às 17h na Rua Desembargador Barcelos, 1286.
Klênia Batista, 43 anos, é treinadora de desenvolvimento pessoal e, há
seis anos, atua como voluntária do CVV. Segundo ela, o trabalho envolve
uma escuta muito profunda e é um exercício constante de empatia. “O que
nos deixa próximos um dos outros são os sentimentos e não o que é dito.
Alguém pode me contar uma história que me cause mal-estar, mas se eu sou
capaz de me ater aos sentimentos da pessoa, quando a escuta é amorosa,
aí sim, estamos exercitando a empatia e nos colocando, de fato, no lugar
do outro. O nosso trabalho é auxiliar as pessoas a aceitar a história
emocional pela qual estão passando. É um exercício de autoamor, de ter
um olhar bom para consigo. Muitas pessoas que chegam ao CVV estão
vivendo exclusivamente a doença delas e não conseguem enxergar que, na
verdade, é um estágio temporal daquela existência e que vai passar”,
diz. Quer saber mais? Acesse www.cvv.org.br.
* Nomes fictícios a pedido da entrevistada.
http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2016/09/10/noticia_saudeplena,157161/adolescentes-e-criancas-estao-se-suicidando-mais-e-e-preciso-ajuda-los.shtml
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vc é muito importante para mim, gostaria muito de saber quem é vc, e sua opinião sobre o meu blog,
bjs, Carla