Abrale na Mídia
14 de setembro de 2023
O estudo ‘Quanto custa o câncer?’ apontou que, nos últimos quatro
anos, aumentou em 400% o custo médio dos procedimentos de tratamento da
doença, como a quimioterapia, radioterapia e imunoterapia
Para
cada ano do triênio 2023-2025, segundo a publicação Estimativa 2023 –
Incidência de Câncer no Brasil, produzida pelo Instituto Nacional de
Câncer (INCA), são esperados 704 mil casos novos da doença no país, com
destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da
incidência de casos.
No triênio 2020-2022, eram esperados 625 mil
novos casos de câncer por ano no Brasil, ou seja, com a nova estimativa,
a cada ano serão registrados 79 mil casos a mais. As respostas para
esse aumento, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, podem estar,
além de no próprio envelhecimento natural da população, nos hábitos de
vida pouco saudáveis, como o consumo de tabaco e de álcool, dieta
desequilibrada e sedentarismo, que são fatores de risco para a doença em
todo o mundo.
Nas leis de mercado, a alta demanda por um serviço
significa ampliação de oferta e, oportunidade de receita para as
empresas. Um relatório do Itaú BBA, apontou que em 2021, o ticket médio
de um paciente de um tratamento oncológico era de R$ 138 mil.
Daí
os altos investimentos vistos nos últimos anos no segmento. Só em 2022, a
Dasa investiu R$ 420 milhões, na área que soma hospitais e oncologia.
No segundo trimestre de 2023, o resultado do segmento oncológico
representou um crescimento de 36% em relação ao mesmo período do ano
passado na empresa.
Na Rede D’Or, no relatório divulgado, a
receita acumulada no primeiro semestre na área é de R$ 1,3 bilhão, um
incremento de 21,3% em relação ao mesmo período no ano passado. A
Oncoclínicas comemorou, nesse período, a expansão de 31% do faturamento
orgânico da companhia.
Impacto nos custos
Paralelamente a
esse aumento no número de pessoas diagnosticadas, crescem também os
investimentos em novas ferramentas diagnósticas e em novos tratamentos,
cada vez mais eficientes e com menos efeitos colaterais, porém, com
custos cada vez maiores para a saúde pública e privada.
O estudo ‘Quanto custa o câncer?’, produzido em uma parceria entre o Observatório de Oncologia, o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer,
apontou que, nos últimos quatro anos, aumentou em 400% o custo médio
dos procedimentos de tratamento da doença, como a quimioterapia,
radioterapia e imunoterapia.
Para Nina Melo, coordenadora do estudo e também coordenadora sênior de pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale),
esse aumento pode encontrar resposta em duas hipóteses. ‘A primeira é a
incorporação de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), com
moléculas mais avançadas e, consequentemente, mais caras. E a segunda, a
mais preocupante, é o aumento no número de diagnósticos avançados, o
que eleva o custo do tratamento do câncer por exigir mais linhas de
tratamento, mais intervenções e intercorrências como internação, por
exemplo.’
Só em 2022, os gastos com o tratamento do câncer no SUS
foram de R$ 4 bilhões, o que representou 3% dos recursos totais
destinados à saúde no Brasil. Neste valor estão incluídos procedimentos
ambulatoriais, internações e cirurgias, e também as terapias inovadoras
incorporadas ao SUS nos últimos anos.
No entanto, há
muitas outras coisas que ainda poderiam ser incorporadas, pois para
alguns tipos de câncer, o tratamento no sistema público ainda é muito
diferente do tratamento do sistema suplementar, como é o caso do mieloma
múltiplo, por exemplo. Por outro lado, há que se pensar na
sustentabilidade do sistema como um todo. Essa é uma discussão complexa
que não pode ser pautada apenas por um estudo. Os gastos com câncer vão
muito além de R$ 4 bilhões, pois envolvem promoção e prevenção, cuidados
paliativos e reabilitação, por isso não podemos afirmar se este valor
atende à demanda atual’, explica Nina.
Segundo
estimativas publicadas recentemente no Jama Oncology, a expectativa é
que sejam gastos com tratamentos oncológicos mais de US$ 25 trilhões,
até 2050, em 204 países. No Brasil, o Inca estima que, até 2040, o gasto
do SUS com os vários tipos de câncer chegarão a quase R$ 8 bilhões. ‘A
tendência de aumento nos gastos com a doença é global, já que a
incidência por câncer vem aumentando em todo o mundo. Para que essas
projeções e demanda futura não impactem o sistema, é possível que haja
ações coordenadas e um plano de enfrentamento do câncer, levando em
conta todas as especificidades regionais e financeiras que existem no
Brasil’, avalia Nina.
Como manter a sustentabilidade do sistema de saúde
O
investimento em prevenção, principalmente na secundária, na opinião de
Nina, pode ajudar a gerar economia ao sistema de saúde e mais qualidade
de vida ao paciente. ‘Investindo em prevenção, por meio do rastreamento,
temos a possibilidade de aumentar os diagnósticos precoces que vão não
só trazer uma economia para o sistema, mas aumentar as chances de cura e
qualidade de vida do paciente, fazendo com que ele continue ativo e
contribuindo economicamente para a sociedade.’
Além da prevenção,
Nina aponta, de maneira direta, como manter o sistema de saúde
sustentável: sendo custo-efetivo. ‘Se, ao se agregar o custo da
incorporação de uma nova tecnologia isso leva a um desfecho clínico
superior, acredito que essa opção deva ser avaliada. E quando me refiro a
desfecho, estou falando de desfechos oncológicos ou não oncológicos. Se
tenho à disposição uma tecnologia que reduza as taxas de complicações
durante a jornada terapêutica de determinada neoplasia, e isso leva a
uma menor taxa de reinternações ou necessidade de procedimentos
adicionais posteriores, a estratégia pode se mostrar custo-efetiva. Acho
que estamos preparados para uma discussão mais abrangente, inclusive
avaliando o que já temos incorporado, para definir se, de fato, faz
sentido uma nova tecnologia. Ainda existe muito desperdício na
oncologia.’
Importância da prevenção
Prevenção e promoção à
saúde são alguns dos pilares da SulAmérica Saúde. ‘A prevenção inclui
desde a incorporação de hábitos saudáveis até o uso de equipamentos de
proteção individual (EPIs) para funções que tenham contato com
substâncias carcinogênicas, como é o caso do agrotóxico, por exemplo’,
comenta Tereza. ‘Em relação a isso, a SulAmérica faz diversas campanhas
para que os beneficiários procurem incluir práticas mais saudáveis no
seu dia a dia. Essa também é uma recomendação médica em todas as
consultas’, explica Tereza Veloso, diretora técnica de Operações e Rede
Credenciada.
No que se refere a diagnóstico precoce, a operadora
atua em duas frentes: na conscientização dos beneficiários e na
qualificação da rede sobre a importância de realizar os exames de
rastreamento como mamografia, Papanicolau, PSA, entre outros.
Na
opinião de Tereza, é preciso, além de investir em prevenção e promoção à
saúde, também racionalizar o uso de medicamentos para pacientes em
cuidados paliativos e ampliar as campanhas que alertam sobre o uso
consciente do sistema de saúde suplementar, evitando fraudes e
desperdícios.
A SulAmérica também tem feito uso de tecnologias,
como inteligência artificial e big data, na jornada do paciente dentro
do sistema para identificar casos em que é possível atuar precocemente
por meio da análise dos diagnósticos. Essa iniciativa só é possível com o
consentimento do beneficiário, respeitando a Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD).
Investimentos em parcerias
Diante desse
quadro de aumento no número de casos da doença e dos custos cada vez
mais elevados de tratamento, grandes grupos de medicina e saúde têm se
unido em parcerias focadas em serviços oncológicos.
No ano
passado, A BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo -, o Grupo
Bradesco Seguros e o Grupo Fleury anunciaram a criação de uma companhia
dedicada a esse segmento. O objetivo é ser um serviço de referência em
rastreamento, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação.
A
nova empresa, que deverá contar com clínicas e câncer centers em
diferentes cidades do Brasil, tem como meta atuar de maneira disruptiva e
fazer toda a trilha de acompanhamento do paciente, visando, além de
proporcionar a melhor assistência, entregar um modelo de excelência na
coordenação de cuidado em toda a jornada do paciente. Isso, espera-se,
contribuirá com a sustentabilidade do sistema de saúde em virtude da
melhor utilização dos recursos disponíveis, viabilizando um modelo de
custos adequados.
O papel da medicina diagnóstica no futuro do tratamento oncológico
Com
terapias cada vez mais personalizadas e tecnológicas, bem como a
necessidade de investimentos contínuos em pesquisa e tratamentos, um dos
maiores desafios da oncologia está na democratização do acesso.
Encontrar maneiras de prover a melhor jornada de cuidados para o
paciente com câncer é uma das principais necessidades para o setor.
‘O
rastreamento preventivo orientado por critérios clínicos ainda é o que
temos de melhor e mais acessível para o diagnóstico de alguns tumores de
elevada incidência, como mama e próstata, em sua fase inicial. Os
testes genéticos também são grandes aliados para a identificação precoce
do câncer, pois analisam o DNA a partir de amostras de sangue ou saliva
em busca de alterações genéticas hereditárias que aumentam o risco para
determinados tipos de câncer. Além do diagnóstico preditivo, exames
genéticos do DNA tumoral também ajudam na identificação do melhor
tratamento, dado que as novas terapias, em geral, têm alvos moleculares
específicos que são identificados por esses testes’, explica Edgar Gil
Rizzatti, presidente de Unidades de Negócios Médico, Técnico, de
Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury.
Essas inovações
diagnósticas podem auxiliar na estratificação de risco hereditário para
determinados tipos de câncer em fases cada vez mais precoces, no
estadiamento do tumor e na estratificação de risco do paciente, e no
direcionamento do tratamento. Tudo isso de maneira cada vez menos
invasiva.
‘A biópsia líquida é um bom exemplo disso, pois se trata
de um método com alta eficácia, realizado por meio uma amostra de
sangue, sem necessidade de biópsia do tumor. Esse exame, totalmente não
invasivo, permite a análise de diferentes genes e variantes em frações
diminutas do DNA tumoral circulante, quase sempre presente.’
Outra
inovação apontada por Rizzatti é o Oncofoco, um exame direcionado a
pacientes oncológicos que necessitam de uma alternativa terapêutica. Por
meio de algoritmos de inteligência
artificial, o Oncofoco avalia
as alterações existentes em 421 genes e regiões de fusões de 50 genes,
gerando, em poucos segundos, um relatório com dados de ensaios clínicos
presentes na literatura médica mundial e uma lista de medicamentos ou
tratamentos que podem responder às alterações genômicas encontradas no
tumor sob avaliação.
Rizzatti destaca ainda que um dos maiores
desafios em relação aos métodos diagnósticos mais modernos está na
incorporação das novas tecnologias que estão surgindo e, paralelamente a
isso, buscar a democratização do acesso.
‘Em alguns casos, os
novos testes de vanguarda passam por etapas de análise fora do Brasil, o
que torna mais elevado tanto o custo quanto o prazo de liberação dos
resultados, um aspecto crítico em oncologia. Temos buscado maneiras de
reduzir custos e prazos, seja pela internalização desses testes que
inicialmente são feitos fora do país, seja por meio de parcerias com
diferentes entes da cadeia de saúde, com o objetivo de ampliar o acesso e
beneficiar mais pacientes.’
Para o futuro, ele avalia que a
medicina será cada vez mais personalizada e integrada, com foco no
melhor desfecho clínico para o paciente. ‘A construção dessas soluções
integradas passa por quatro etapas que personalizam a jornada do
paciente e entregam uma experiência melhor e mais eficiente na
utilização dos recursos de saúde: entender a necessidade, desenhar a
solução, engajar o paciente e escalar e produtizar (elaborar soluções e
facilitar a transição entre as etapas). No Grupo Fleury, olhamos para
todo o processo, desde o rastreamento, passando pelo diagnóstico,
estadiamento e acompanhamento’, conclui Rizzatti.
Perspectivas para o futuro da oncologia
Nina
acredita ser possível equilibrar o melhor resultado ao paciente, os
custos com as novas tecnologias e os custos em saúde de maneira
sustentável. ‘Tudo faz parte de uma cadeia, na qual se precisa caminhar
de forma coordenada. É muito simples: se o recurso é um só e eu
prevaleço uma área ou alguns, automaticamente a outra vai ficar
deficiente. Os processos de incorporação no Brasil hoje já levam em
conta a questão de custo-efetividade, mas, ainda assim, nem tudo o que é
de fato incorporado chega até o paciente. Em um sistema universal como o
nosso é difícil gerir esse financiamento versus a demanda, por isso,
todos temos responsabilidade na gestão deste recurso, que é finito.
Atualmente, temos tido custos exorbitantes com judicialização, por
exemplo. Por isso, executivo, legislativo e judiciário precisam caminhar
juntos em um plano que vise trazer esse equilíbrio.’
O aumento
progressivo e desenfreado dos custos na cadeia da assistência oncológica
é um problema sério e sistêmico, na opinião do Dr. Walter Henriques da
Costa, oncologista do A.C. Camargo Cancer Center. ‘A incorporação de
novas tecnologias e medicamentos, associada à ineficácia da gestão na
área da saúde, tornam o sistema injusto (já que premia os excessos e o
desperdício) e insustentável do ponto de vista econômico. No A.C.
Camargo Cancer Center, nos sentimos preparados para sermos protagonistas
na transição de remuneração baseada em produtividade para remuneração
baseada em valor. Estruturamos nosso Escritório de Valor com o intuito
de, entre outros temas, gerar indicadores de custo-efetividade e de
estruturação de jornadas e protocolos clínicos que possam ajudar na
elaboração de bundles. Estamos seguros de que conseguimos entregar valor
em oncologia associado a um custo bastante competitivo frente ao
mercado.’
O que norteias as opções terapêuticas da instituição são
protocolos clínicos desenhados pelo corpo de especialistas e baseados
em evidência presentes em literatura médica. Ele também pontua que o
desejo do paciente e família deve ser levado em consideração no momento
da decisão do tratamento, desde que esteja amparado em um claro
benefício clínico presente em estudos científicos e cujo custo
adicionado à jornada clínica seja razoável.
Tereza, da SulAmérica,
também destaca a aplicação de protocolos clínicos com fortes evidências
de efetividade como fundamental para uma boa gestão financeira. Ela
cita como exemplo os investimentos em um dos hospitais credenciados da
rede, da Rede D’Or, que investiu recentemente R$ 80 milhões em um
laboratório de patologia molecular com alguns equipamentos únicos na
América Latina, em que é possível analisar o código genético do tumor
dos pacientes, orientando para um tratamento mais assertivo. ‘Com isso,
conseguimos proporcionar tratamentos mais rápidos e personalizados. A
otimização e a precisão da jornada do paciente contribuem para a
sustentabilidade do sistema.’
Dr. Costa, acredita que, para o
futuro, o foco da terapia oncológica esteja voltado mais para a
manutenção da qualidade de vida pós-tratamento e a redução das
potenciais sequelas relacionadas ao tratamento. ‘Buscamos a resposta
oncológica, sem dúvida, mas a que preço? Dentro da estrutura do nosso
Escritório de Valor, temos nos dedicado a esse tema, com coletas
periódicas e protocolares de questionários de qualidade de vida
pós-tratamento oncológico. Estamos focando nos PROMs (do inglês, Patient
Related Outcome Measures; em português, medidas de desfecho relatadas
pelo paciente) para poder entender e contribuir com essa discussão de
uma forma mais ampla.’
Fonte: Saúde Business
fonte:https://www.abrale.org.br/
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla