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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Meu bebê é diabético. E agora?





Aprenda a lidar com cada etapa da doença de seu filho pequeno, do diagnóstico ao tratamento diário.




Só quem passou pela experiência sabe o quanto é difícil descobrir que um bebê tem diabetes. Primeiro, porque é incomum o surgimento da doença nessa faixa etária. Segundo, porque ele não fala e os sintomas são imperceptíveis. Terceiro, porque os pais nunca acham que isso pode acontecer com seu filho...

A publicitária Roseni Moraes Vitzel e o representante comercial Mario Ferreira de Lima passaram por isso com sua primeira e única filha, Maria Luiza, que é diabética tipo 1 há 8 meses e tem hoje 1 ano e 10 meses. “Foi difícil diagnosticar o diabetes na Malu. “Acho que o instinto de mãe me ajudou muito. Sempre questionava o médico, achando que ela ganhava pouco peso. Achava estranho também ela tomar tanta água”, lembra Roseni.

Foram idas e vindas ao médico, exames de sangue e nada. O nível de glicemia estava sempre normal e os médicos afirmando que o diagnóstico de diabetes era pouco provável. O tempo passou e os sintomas da doença continuaram. A menina comia bem e não engordava, bebia muita água e Roseni trocava a fralda da filha de hora em hora.

“Eu sabia que tinha alguma coisa errada, por isso levei a Malu ao hospital e pedi para o médico fazer exame de sangue. Ele fez o destro e a glicemia estava 445 mg/dl”, relata a mãe. Muito preocupada e com o coração a mil por hora, ela conta que 40 minutos depois a enfermeira repetiu o exame e a glicemia baixou para 385 mg/dl.

“Quando vi o resultado entrei em pânico”, recorda a publicitária. Geralmente quando o diabetes é confirmado, o bebê já apresenta um quadro avançado de cetoacidose diabética, que se caracteriza por desidratação e dificuldade respiratória, além, é claro, da glicemia estar nas alturas.

“A maioria dos bebês não nasce com diabetes. Eles podem vir a se tornar portadores da doença nos primeiros meses ou anos de vida”, afirma o endocrinologista e pediatra Luis Eduardo Calliari, professor assistente da unidade de Endocrinologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo.

O diabetes tipo 1 é o mais comum em crianças e é reflexo de uma predisposição genética associada a uma doença auto-imune, ou seja, o próprio organismo destrói as células beta produtoras de insulina. “É muito comum o diabetes aparecer na vigência de um processo infeccioso em que os sintomas da inflamação são mais valorizados do que os do diabetes. A presença de uma infecção faz com que naturalmente o pâncreas produza mais insulina e, como o bebê já não fabrica mais este hormônio, os sintomas da doença começam a aparecer”, explica Calliari, também coordenador da equipe de endócrino-pediatria do hospital São Luiz.

O médico chama a atenção dos pais para alguns sintomas recorrentes que, aliás, são quase os mesmos do adulto. Entre eles estão irritabilidade, sede intensa, excesso de urina, perda ou pouco ganho de peso, hipoatividade e mal-estar em geral. “Detectar o diabetes em um bebê é quase um trabalho de detetive, por isso os pais devem observar muito bem o quadro clínico da criança para relatar com detalhes ao médico e informar também se há algum familiar com diabetes tipo 1”, orienta o pediatra.

Não existe culpa

Diagnóstico confirmado chega a hora de começar o tratamento. Neste momento, os pais entram em desespero e se culpam por isso ter acontecido com seu filho, associam o diabetes a cegueira e amputações e buscam respostas sobre o futuro do pequeno.

“Quando o diabetes se confirmou eu só pensava como seria a vida dela: a alimentação, a escola, e principalmente, a convivência com uma sociedade que de saudável não tem nada”, assume a mãe Roseni. “Diagnóstico do diabetes é um grande impacto na vida de toda a família. É uma revelação quase sempre traumática e com sentimento de aniquilamento psíquico dos pais. Neste momento é preciso muita cautela para que os medos e dificuldades dos adultos não sejam transferidos para a criança”, orienta a psicóloga Rosana Manchon, membro do conselho consultivo da Associação de Diabetes Juvenil, em São Paulo (SP).

Roseni e Mario ficaram extremamente assustados quando souberam que teriam de fazer o teste de ponta de dedo e aplicar insulina diariamente na filha. “Nosso mundo caiu. Chorávamos dia e noite. Não acreditávamos que isso estava acontecendo com a gente”, desabafa Roseni, que sempre teve medo de injeção e não podia ver sangue de jeito nenhum. “Fiquei uma semana no hospital com a Malu para a glicemia dela estabilizar e eu tomar coragem para picá-la”, conta a publicitária.

Segundo a psicóloga Rosana Manchon, a principal dificuldade dos pais é lidar com as injeções de insulina e os testes de ponta de dedo porque as picadas diárias no bebê geralmente são associadas a um sentimento de culpa. Mas, na verdade, o que vale é o contrário: deveriam estar associadas a um bom controle da glicemia e a um tratamento adequado. “Infelizmente, a injeção é culturalmente ligada à dor e ao castigo, mesmo os pais sabendo que a aplicação de insulina é muito pouco dolorida”, lamenta a psicóloga.

O pediatra Luís EduardoCalliari acrescenta que o tratamento do diabetes hoje é muito melhor do que há 20 anos e que a criança vai ser criada com uma alimentação que qualquer outra pessoa deveria ter, inclusive os adultos. “Os pais também devem ter em mente que a criança irá se beneficiar das evoluções que ocorrerem no tratamento do diabetes. Há muitas pesquisas em andamento e grandes avanços na medicina”, destaca o médico.

A psicóloga Rosana Manchon ressalta que o bebê capta a desorganização emocional dos pais e pode responder com comportamento de protesto, por isso é fundamental que se desenvolva um sentimento de parceria e de apoio mútuo dos pais em relação a responsabilidades, tarefas e cuidados com o bebê. “Nessa fase é importante que o pequeno se sinta em um ambiente de equilíbrio, serenidade e segurança”, sugere a psicóloga.

Rosana lembra que a primeira aprendizagem social da criança ocorre em casa, ou seja, as experiências com a família, sobretudo o elo com a mãe, são antecedentes decisivos para as relações posteriores. “A posição dos pais em relação ao diabetes, de aceitação ou rejeição, irá desenvolver semelhante postura do filho. Por isso a importância dos pais manterem-se compreensivos e enfrentarem as dificuldades com naturalidade, sem transformar o diabetes em um bicho-de-sete-cabeças”, explica Rosana. E para que isso aconteça, a especialista sugere que os pais freqüentem associações de diabetes com dois principais objetivos: troca de experiências com outras famílias e educação em diabetes.

Para os pais de Malu aceitar o diagnóstico de diabetes tem sido um desafio que se supera dia a dia. “Parei de trabalhar para cuidar da minha filha. Faço tudo para ela ter uma vida tranqüila, mas tenho muita esperança de cura”, revela Roseni.

Picadas diárias

A insulinoterapia e a monitorização da glicemia por meio do teste de ponta de dedo são a base do tratamento de um bebê. Os acessórios para aplicação de insulina utilizados nos pequeninos são os mesmos do adulto, com uma única diferença: as agulhas são mais curtas. Os pais podem aplicar insulina com a menor seringa (30 unidades) ou com a caneta que é tecnicamente mais fácil de ser manuseada. “As bombas de infusão de insulina também podem ser usadas em bebês. A vantagem é que elas melhoram o controle da glicemia e diminuem os episódios de hipoglicemia, porém ainda há muita resistência dos pais na utilização de deste aparelho”, informa Luís Eduardo Calliari.

Os tipos de insulina também não mudam, porém as doses são muito baixas e as quantidades de aplicações diárias aumentam. Isso porque o metabolismo de uma criança é mais rápido do que o do adulto. A recomendação é aplicar a insulina logo depois do bebê se alimentar. “Para ajustar a dose de insulina de um bebê, o ideal é que no início os pais visitem o médico toda semana. Depois, a visita passa a ser a cada três meses”, indica o pediatra.

É muito difícil para os pais detectarem se a criança está com hipoglicemia ou hiperglicemia, por isso a monitorização glicêmica é essencial e deve ser feita de quatro a oito vezes ao dia e os locais podem variar entre os dedos dos pés e das mãos ou o calcanhar. “A hipoglicemia em bebês é extremamente perigosa porque o cérebro da criança está em desenvolvimento e a glicose é a única fonte de energia. Quando falta o açúcar, o bebê pode entrar em uma crise convulsiva e com isso adquirir danos neurológicos”, alerta o pediatra.

Os sintomas de hipoglicemia são: irritabilidade ou choro excessivo, modificação no comportamento e sonolência em horário que ele não costuma dormir. Antes de tomar qualquer atitude, os pais devem fazer o teste da ponta de dedo e confirmar a queda da concentração de açúcar no sangue. Se a glicemia estiver entre 50 mg/dl e 60 mg/dl, a criança deve ingerir uma mamadeira de leite ou de suco de laranja. Se os valores estiverem abaixo disso, é obrigatório o consumo de açúcar. A sugestão do médico é misturar 20 ml a 30 ml de água com uma a duas colheres de chá de açúcar.

Se a glicemia não subir em 15 minutos, repetir o procedimento. Os valores aceitáveis de glicemia para bebês são: 100 mg/dl a 140 mg/dl para pré-prandial e até 180 mg/dl para pós-prandial.

Introdução dos Alimentos

A amamentação de um bebê com diabetes deve ser a mesma de outra criança da mesma faixa etária. A introdução dos primeiros alimentos também não muda. “A criança deve comer legumes, carnes, frango e frutas sem restrições. É nessa fase que ela começa a se familiarizar com os sabores e mais tarde com as texturas”, destaca Calliari. O médico orienta apenas que a alimentação seja feita a cada 3 horas para evitar episódios de hipoglicemia. A única ressalva é em relação ao consumo de açúcar. “Nenhuma criança deve crescer acostumada a ingerir muito açúcar. A criança com diabetes vai substituí-lo pelo adoçante sem nenhum problema”, garante o pediatra e endocrinologista.

Ele lembra que para a criança não vai ser sofrimento a restrição do açúcar, porque desde pequena ela nunca o consumiu. Pelo contrário, ela vai ter a chance de fazer uma alimentação muito mais saudável do que a de outras crianças. Mesmo sem entender muito bem o que está acontecendo, a pequena Malu é um exemplo de criança saudável. Ela come de tudo, não tem medo de picar o dedo 5 vezes ao dia, brinca, corre, faz travessuras e é feliz.

Não dê medicamentos sem prescrição médica. Consulte o médico pediatra e/ou endocrinologista.

abs,


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