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segunda-feira, 11 de março de 2013

Tratamento especial na Holanda, para pacientes com Alzheimer- Reportágem do Fantástico-10-03



O Fantástico foi até a Holanda para mostrar uma cidadezinha que se parece com qualquer outra. Mas que mantém um segredo muito bem guardado dos próprios moradores. No salão de beleza, duas senhoras capricham no visual. Querem ficar bonitas para o encontro no clube cultural, onde é o dia de música clássica.

Enquanto isso, muitos moradores aproveitam para dar um pulo até o mercado, para fazer as compras do almoço. Alguns preferem comer no conforto do restaurante. E outros curtem apenas um simples chá, no bar.
O que parece a descrição do dia-a-dia de uma pacata vila holandesa é, na verdade, a revelação de um segredo médico. Os bastidores de um revolucionário sistema de tratamento para um dos mais terríveis males que afetam o cérebro: a demência.

Mas que ninguém se engane: nesta comunidade, quem não é paciente, é profissional da área da saúde.

Quem chega meio desavisado pode até achar que está numa vila qualquer, num bairro comum. E é exatamente essa a proposta deste lar para pacientes psiquiátricos em Weesp, na periferia de Amsterdam, no interior da Holanda.

Lá os pacientes se sentem em casa. E os médicos, enfermeiros, os assistentes sociais, agem como se fossem comerciantes ou trabalhadores dos vários estabelecimentos ou ainda simplesmente vizinhos.

Lembra do salão de beleza?
 
Uma das cabeleireiras é, na verdade, enfermeira; a outra, assistente social.

“Lidamos tranquilamente com os pacientes internados, fazendo com que eles se sintam normais. Quando algum deles precisa tomar remédio, é só botar escondido no chá ou no café", revela a assistente social que trabalha como cabeleireira.

E no mercado, quem é a atendente que trabalha no caixa?

“Sou assistente social, formada em psicologia, conta. Ajo normalmente e não costumo ter problemas com os ''clientes''. Mas é claro, quando é necessário chamo a equipe de apoio que vem na hora”, afirma.

No restaurante, quem serve não é apenas um garçom, é um médico psiquiatra, sempre pronto para entrar em ação.

A diretora da clínica diz que ela mesma é conhecida como uma espécie de síndica ou mesmo a ‘prefeita'.

“E é bom que seja assim, diz ela. A demência, causada por várias doenças, entre elas o mal de Alzheimer, por enquanto não tem cura. Pelo menos aqui os doentes tem uma vida normal dentro do mundo criado pela mente deles. E nós procuramos respeitar a individualidade de cada um. Todos, ao seu modo, são felizes”, explica.

A diretora explica que na Holanda o estado tem a obrigação de tratar de qualquer doente.
No caso da demência, existem clínicas públicas e privadas ou ainda mistas. É o caso da Hogewey Village, construída com dinheiro do governo, mas mantida com doações e também com mensalidades cobradas das famílias dos pacientes.

Ao todo são 140 internos e cerca de 30 funcionários, que vivem nas 23 casas da vila. A diretora conta que antes da construção da clínica há 8 anos, o que havia era um hospital psiquiátrico comum.

“Era um hospício e mais parecia uma cadeia. Tinha aquele cheiro de hospital. E os pacientes se sentiam presos. Bem diferente daqui”, lembra. Fomos conhecer uma das casas onde vivem até 10 pacientes. Num dia frio, eles passam jogando, lendo, botando conversa fora.

Um homem que já foi um conhecido artista plástico e fazia barcos em miniatura, agora recorta figuras e fotos de revistas e cola sobre caixas de papelão ou madeira. O assistente social, que se passa por camareiro, conta que a ideia é essa mesmo: incentivar os pacientes a se sentirem úteis.

Em outra casa, encontramos os moradores preparando o almoço. Dona Wilma que hoje recebeu a visita do filho. Ele diz que dá graças a Deus por ter conseguido vaga na Hogewey Village. E conta que que na vila pode visitar a mãe normalmente, como fazia antes da doença se manifestar. Afinal, é como se fosse a casa dela.

Muitos tem o que os médicos chamam de fishing memory ou memória de peixe. Só lembram das coisas por alguns minutos e tornam a esquecer tudo outra vez. Mas pelo menos jamais esquecem que são seres humanos, com direito a viver com toda a dignidade que merecem.

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