Pedagoga,
Instituto Alzheimer Brasil - IAB.
Muitas vezes é doloroso para a família assistir a um ente querido
ninando uma boneca ou cantando para ela, se este for um adulto. Isto é
bastante compreensível. Ninguém gosta de ver alguém que se ama
regredindo a um estado “infantil”, como acontece na Doença de Alzheimer (DA).
A Terapia da boneca nos cuidados diários de pessoas com
demência vem ganhando reconhecimento por parte de pesquisadores da área
de intervenções não-farmacológicas, embora não seja recomendada para
todos. Esta estratégia algumas vezes não é aceita na família,
especialmente por parte dos filhos e cônjuge, pois muitos a veem como
humilhante, degradante e que infantiliza o idoso. Mas a ideia não é
esta.
Diversos estudos demonstram reais benefícios desta abordagem para as
pessoas com Doença de Alzheimer, que vai lenta e progressivamente
afetando a capacidade intelectual do indivíduo e que, com o tempo, pode
fazê-lo sofrer de diversas manifestações e consequências da doença como:
depressão, ansiedade, agitação, apatia, irritabilidade, incapacidade de
se comunicar, perda da autonomia e da independência, isolamento social,
entre outras.
Alguns estudos também defendem a idéia de que as pessoas com DA podem
regredir através de estágios do desenvolvimento cognitivo (Piaget) e
assim, apresentar interesses associados a cada fase. Vão perdendo
funções cognitivas na ordem inversa que a criança adquire. Isto talvez
possa explicar porque pessoas com Alzheimer vão infantilizando no
processo da doença e justificar porque a terapia da boneca parece ser
eficiente em fases moderada a grave da doença.
O tratamento (tanto farmacológico quanto não farmacológico) tenta controlar os sintomas e melhorar o bem-estar e a qualidade de vida
dessa pessoa e dos que convivem com ela. Porém, nada é fácil na DA e,
quando há alguma possibilidade a mais de oferecer alívio e conforto,
todo preconceito deve ser extinto e a oportunidade analisada e
aproveitada, se for o caso. Não se trata de indicar esta ou aquela
terapia, apenas de demonstrar as evidências relacionadas a ela, a
experiência de quem a introduziu e tentar estimular uma reflexão sobre a questão.
Segundo evidências científicas, a Terapia da boneca pode trazer os seguintes benefícios para a pessoa com DA:
- Acalmar;
- Torná-la mais dócil;
- Aliviar sua aflição;
- Reduzir o estado de confusão;
- Aumentar a incidência de comportamentos positivos e diminuir a incidência de comportamentos negativos e desafiadores;
- Reduzir a agitação;
- Permitir que a pessoa se reconecte com memórias e emoções felizes do passado, promovendo maior estabilidade emocional;
- Oferecer conforto;
- Ter a sensação de utilidade (por cuidar da boneca);
- Reduzir a incidência de comportamento agressivo;
- Trazer memórias felizes de sua maternidade (ou paternidade), de quando seus filhos eram pequenos;
- Aliviar a necessidade de amar e ser amada;
- Estimular a comunicação, a linguagem e a interação com a boneca, família e o cuidador;
- Estímulo sensorial.
É importante deixar bem claro de que a terapia da boneca não serve para todos.
É preciso tomar bastante cuidado ao introduzir (como disse a
profissional Judy, na reportagem apresentada neste site) e também no
acompanhamento diário junto à pessoa com DA, pois cada uma pode reagir
de uma maneira diferente, dependendo de suas preferências ao longo da
vida e necessidades atuais. Algumas pessoas ficam estressadas pela
responsabilidade que imaginam ter com os cuidados à boneca. Outras, nunca tiveram afinidade com crianças. Tudo isso precisa ser pensado.
No caso de D. Libéria, a senhora da reportagem, tudo aconteceu de
maneira bem natural, pois ela foi dando sinais de que necessitava de
algo assim e a filha, que era resistente à ideia no início, percebeu e
resolveu experimentar para ver se faria bem a ela.
A apresentação da boneca também precisa seguir alguns critérios
básicos para causar impacto positivo: deve ser feita de maneira
discreta, devagar; não se deve forçar a pessoa a pegar; jamais entregar
em caixa, como presente e a boneca deve ser bem parecido a um bebê de verdade.
Para cuidar de uma pessoa com DA é importante entrar em seu mundo para compreender seus sentimentos e interagir melhor com ela. Não se trata de estimular atitudes infantis, apenas de tentar transformar seu mundo no mais feliz possível.
Os cuidados à pessoa com DA devem concentrar-se em oferecer conforto e
alívio. Se o cuidador e a família não entenderem a natureza da DA e os
valores terapêuticos dessa ou de qualquer outra intervenção (desde que
seja baseada em evidências científicas), poderá estar perdendo a oportunidade de poder ajudar seu ente querido a viver melhor, apesar da demência.
“Humilhante e indigno é não poder ser feliz”.
Bibliografia
Jenny Ellingford, Licenciatura; Ian James, PhD, MSc, BSc, C.Psychol;
Lorna Mackenzie, RMN; Lisa Marsland, BSc, MScJenny Ellingford; Lorna
Mackenzie, RMN; Lisa Marsland. Using dolls to alter behaviour in patients with dementia. Enfermagem Times, VOL: 103, Issue: 5, nenhuma página: 36-37Nursing Times, VOL: 103, ISSUE: 5, PAGE NO: 36-37 (2007)
Julia McGregor Thornbury, Age-or stage-appropriate? Recreation and the relevance of Piaget's theory in dementia care. AM J ALZHEIMERS DIS OTHER DEMEN, January 1, 18: 24-30, (2003).
Mackenzie, L. et al(2006a). A pilot study on the use of dolls for people with dementia. Age and Aging; 35: 4, 441-444.
James, I. A., Mackenzie, L., & Mukaetova‐Ladinska, E. Doll use in care homes for people with dementia. International journal of geriatric psychiatry, 21(11), 1093-1098, (2006).
Mackenzie, L; Woo-Mitchell, A; James, I. Guidelines on using dolls. Journal of Dementia Care, 15(1), January/February 2007, pp.26-27.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs,
Carla
extraído:http://www.institutoalzheimerbrasil.org.br/demencias-detalhes-Instituto_Alzheimer_Brasil/67/terapia_da_boneca.
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