Quando
nos deparamos com o corpo do nosso ente querido definhando, é
impossível não se assustar. O emagrecimento, muitas vezes, chega sem
alarde, silencioso, e nos deixa paralisados sem saber por onde começar.
Com
o envelhecimento, o organismo muda. A digestão desacelera, a absorção
de nutrientes diminui, e a deglutição — que começa a perder ritmo por
volta dos 45 anos — se torna ainda mais lenta após os 70. Em pessoas com
demência, essa perda se intensifica. Chega um momento em que já não
reconhecem nem os talheres. Ficam ali, imóveis, olhando para a colher
como quem encara um mistério.
E,
infelizmente, em muitos lares, a resposta a isso é cobrança, não
acolhimento: — Pega a colher e come! Você sempre soube o que é uma
colher!
Mas o doente, perdido em si mesmo, talvez pense:
“Eu não sei o que é isso na minha frente… mas se eu perguntar, vou levar bronca.”
“Eu não sei o que é isso na minha frente… mas se eu perguntar, vou levar bronca.”
Ao
mesmo tempo, seguimos entupindo esse corpo frágil de medicamentos —
cápsulas abertas, comprimidos triturados, efeitos colaterais em cadeia. E
para acompanhar esse coquetel, um “café da manhã” composto por bolo e
café preto. Enquanto isso, os demais da casa se servem de um banquete:
cuscuz, ovos, sucos frescos, mingaus e pães quentinhos.
Mas não ouso descrever o almoço, o lanche ou o jantar.
A diarreia vem. E com ela, a pressa por respostas: recorremos ao Google, aos “universitários”, à vizinha.
E lá vem o chá de hortelã com biscoitinho cream cracker.
E lá vem o chá de hortelã com biscoitinho cream cracker.
O tempo passa, e o pai — outrora forte — já mal consegue abrir os olhos.
— Meu Deus, o que será que papai tem?
— Meu Deus, o que será que papai tem?
Comparam-se os casos: — Mas a mãe do vizinho também tem demência, e é forte, come com gosto!
Pois bem, eu sinto informar: é FOME.
Sim, FOME.
Sim, FOME.
A
desnutrição devasta a mente, enfraquece o corpo, rouba a vida pouco a
pouco. O intestino, nosso segundo cérebro, chora com fezes ácidas, e a
alma se desidrata em silêncio.
E o que oferecemos em resposta? Mais um pedaço de bolo com café.
Todo
ser vivo precisa de nutrientes. Eles são responsáveis pelo sono, pela
força, pelo bom humor, pela absorção dos medicamentos, pela energia do
dia. E não existe vitamina no mundo que substitua a proteína do alimento
verdadeiro.
Dar
uma vitamina pode abrir o apetite. Mas se, com o apetite desperto, tudo
o que oferecemos for café com bolo, o que estamos alimentando?
Não é apenas um doente. É uma vida. É alguém que precisa de cuidado — com amor, com respeito e com comida de verdade.
Por Berna Almeida.
FONTE: https://www.facebook.com/groups/mentesedemencias/
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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