27/08/2018
Coma de 3 em 3 horas. Não beba durante as refeições. Evite a qualquer custo as gorduras. Leite animal e glúten fazem mal. Verduras só orgânicas... Somos bombardeados com revelações de alimentos com superpoderes, que vão mudar a nossa vida e auxiliar no emagrecimento, e também pelos vilões, aqueles que devem ser banidos definitivamente do nosso prato. Para desvendar os mitos da alimentação saudável, o portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon entrevistou a engenheira agrônoma e nutricionista Sophie Deran, que tem doutorado na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
“Esse terrorismo da nutrição, que demoniza alimentos e vem apoiado em um discurso supostamente científico, mas que muitas vezes não passa de pseudociência, é chamado de ‘nutricionismo’ [termo cunhado por Gyorgy Scrinis, professor de política pública de alimento e nutrição da Universidade de Melbourne, na Austrália, a partir da junção de ‘nutrição’ e ‘cientificismo’, crença em que tudo se explica pela ciência]: lança um olhar reducionista sobre nutrientes bons ou ruins, numa dicotomia que não é saudável”, afirma.
“Nutrição não é uma ciência exata”, ressalta Sophie. “Se você quiser saber com certeza se um alimento é ou não bem aceito pelo seu organismo, faça um teste de tolerância com um especialista: não decida cortá-lo de sua alimentação só porque há uma onda de terror em torno dele”, orienta. Esse tipo de atitude, diz, pode levar à ortorexia, um transtorno alimentar caracterizado pela obsessão por comer saudável. Para a autora de “O Peso das Dietas”, “é importante ter moderação em tudo, sem demonizar nenhum alimento”.
13 mitos da alimentação saudável
- Deve-se comer de 3 em 3 horas. “Não deve ser uma obrigação. O metabolismo não é um relógio. Apesar de o nosso corpo gostar de rotina, tudo vai depender do que você comeu no café da manhã, no almoço e/ou no jantar. O certo é comer as refeições principais e não comer sem fome.”
- Comer carboidratos após as 18h engorda. “Não tem fundamento científico e pode prejudicar não só o seu organismo como também o seu sono, que pode ficar mais agitado devido à fome. Carboidrato não é o vilão. Excesso de carboidrato, sim.”
- Mastigar devagar ajuda a emagrecer. “Quando a gente mastiga, já está acalmando a nossa fome. Mas essa ação isolada não provoca o emagrecimento. Acontece que quem está sempre de dieta acaba comendo rápido.”
- Não se deve beber durante as refeições. “Procurei estudos que comprovem isso e o que achei foi um estudo, pequeno, que diz que mulheres que se hidratam durante a refeição comem menos. Quer dizer, é o contrário! Mas atenção: não se entupa de água, porque já ouvi até recomendação de encher a barriga de água para enganar a fome. Não faça isso: ao enganar o seu cérebro, você corre o risco de ter um efeito rebote e ter mais apetite ainda.”
- Néctar e suco são a mesma coisa. “Não! Néctar, por definição, é um suco no qual foi acrescentado açúcar. Geralmente, contém mais do que suco de frutas frescas. E atenção: os sucos 100% naturais não são necessariamente bebidas saudáveis, porque vêm com grande quantidade de açúcar da fruta, em geral, maçã. E uma dica: a melhor bebida para hidratar é água, que pode ser com gás, com limão, saborizada...”
- Alimentos light ou diet não engordam. “Para um diabético, faz sentido consumir um alimento diet, porque não tem açúcar. Mas, na maioria dos alimentos light, para diminuir as calorias, retira-se a gordura – parcial ou totalmente –, só que, para que ele fique gostoso, adicionam-se açúcares e farinha. Em resumo, tem menos calorias, mas mais carboidratos. O requeijão light, por exemplo, tem menos calorias, mas tem três vezes mais açúcar!
Há estudos sobre o efeito dos edulcorantes e adoçantes no centro da fome e da procura por alimentos doces. Na dúvida, fique com os alimentos mais in natura possíveis. Em vez de comer um iogurte light ou diet de morango, por exemplo, a opção mais saudável é o iogurte natural acompanhado de morangos e com um pouquinho de açúcar. É um alimento mais verdadeiro [menos processado] e vai conversar de maneira diferente com o seu corpo.”
- Gorduras devem ser evitadas a qualquer custo. “Um dos grandes erros da ciência da nutrição foi a demonização da gordura, nos anos 50, num estudo que a associou a doenças do coração. Hoje sabemos que a gordura boa é essencial para o funcionamento do nosso organismo, na saciedade e no prazer. Mas, como tudo, em excesso, pode prejudicar a saúde.”
- Comer ovo faz o colesterol disparar. “Hoje temos estudos que mostram que não. E há um consenso entre os nutricionistas que esse é um dos melhores alimentos – pode comer, e com a gema, por favor.”
- Contar calorias dos alimentos ajuda a emagrecer. “Se você vira uma calculadora e fica obcecado em contar calorias, claro que, no começo, você vai emagrecer. Tem Dieta da Caloria, Dieta dos Pontos, Vigilantes do Peso... Mas não é sustentável! Contar calorias tira de você o prazer de comer e muda sua relação com a comida: em vez de comer alimentos, você passa a comer calorias e pode perder o controle, desenvolvendo algum transtorno.”
- Leite animal e glúten fazem mal. “São os mitos atuais. O leite animal é um excelente alimento, mas não é obrigatório. Tem pessoas, sim, com dificuldade em digerir a enzima. Mas, quando você come um queijo, uma manteiga ou um iogurte, a lactose já está muito menos presente. Foi um exagero, uma demonização. E, agora, também o pão virou um vilão. É fato que 2% da população tem doença celíaca, que é muito grave, ou intolerância. Mas tirar o glúten para emagrecer virou uma modinha. Você vai emagrecer, sim, porque tem glúten em vários alimentos e deixará de comer muita coisa, principalmente os industrializados. Mas, de novo, não é sustentável. E quem ganha com isso? A indústria de alimentos.”
- Cozinhar os alimentos reduz o teor nutricional. “Quando você cozinha, você muda, sim, o teor nutricional, mas não necessariamente reduz. Tem alimentos, como o tomate, que, quando você cozinha, aumenta o valor nutricional: o licopeno fica com maior biodisponibilidade. Assim como a carne, que, cozida, fica mais fácil de digerir. Claro que os legumes, quando ficam muito tempo na água, deixam os nutrientes lá ou diminuem. Mas não é um fato absoluto. Não precisa comer tudo vivo, tudo cru.”
- Trocar sal comum pelo sal gourmet baixa a pressão. “Não concordo. O interessante é diminuir o sal e reeducar seu gosto. Uma dica: não coloque sal sem provar e cozinhe com pouco sal! Duas dicas: na salada, use limão, que aumenta o gosto salgado de legumes e verduras; e faça um sal temperado, batendo-o com ervas.”
- Alimentos orgânicos são mais nutritivos. “Não há consenso. Há estudos que mostram que sim, outros, que não. Eu penso o seguinte: o alimento orgânico pode ser interessante se vem com um preço interessante. O melhor é comer alimentos da estação: é muito mais sustentável.”
obs. conteúdo meramente informativo
abs
Carla
https://institutomongeralaegon.org/longevidade
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