Crianças com diabetes têm dificuldade de controlar a doença na escola
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO
Além
do controle da glicemia, da aplicação da insulina e da alimentação,
pais de crianças com diabetes tipo 1 têm uma preocupação a mais: os
cuidados que os filhos recebem na escola.
Cerca de 10% da população brasileira tem diabetes e 10% dessas pessoas têm o tipo 1, mais comum em crianças e adolescentes.
A
pesquisa Dawn Youth, parte do estudo Dawn (da sigla de atitudes,
desejos e necessidades do diabetes, em inglês), feito em 2007 em 24
países, incluindo o Brasil, mostrou que seis em cada dez crianças não
tratam o diabetes corretamente na escola.
"Esse
é um dos temas que mais aflige os pais. Após o choque inicial do
diagnóstico, eles se sentem inseguros em deixar o filho aos cuidados de
outros", afirma Denise Franco, chefe do departamento de educação da
Sociedade Brasileira de Diabetes.
Segundo a endocrinologista, não há lei que obrigue as escolas a terem enfermaria ou profissionais de saúde.
Os
pais então se veem em apuros envolvendo a medição da glicemia, a
aplicação da insulina, que é injetável, e a desinformação sobre o
diabetes.
Sarah Rubia Baptista, 39, tem, como
muitos pais, histórias de insatisfação com a escola onde seu filho
Igor, de dez anos, estudava.
Por causa das
dificuldades, criou um blog (http://eumeufilhoeodiabetes.blogspot.com)
para compartilhar os problemas e reunir informações para outras mães.
Sarah
ia até a escola na hora do recreio para ver se o valor da glicemia
estava normal -e, às vezes, aplicar a insulina-, já que seu filho fazia
o teste sozinho.
Um coleguinha dele começou a
levar para casa as tirinhas marcadas com sangue que Igor usava para
medir a glicemia. "Quando a mãe veio me contar, fiquei horrorizada. Não
era para aquilo estar acontecendo."
Ela acabou transferindo o filho para outra escola.
Alguns
colégios, ainda que de forma velada, recusam-se a matricular crianças
com diabetes. "Duas escolas que eu procurei se negaram, disseram que
não teriam como dar suporte", afirma Juliana Valio Borges, 32, mãe de
Rodrigo, de seis anos.
A terceira aceitou e
disse: "Ok, todo mundo vai aprender", conta Juliana. "Falta informação.
Quem sabe sobre a doença não sente medo."
Silvia Zamboni/Folhapress
Vinicius Polimeno, 4 anos, em sua casa em São Bernardo do Campo, SP
Já Vinicius, 4, de São Bernardo do Campo, enfrentou problemas na escola por causa da alimentação.
Sua
mãe, Viviane Bernardo Polimeno, 35, disse ter escolhido um apartamento
em frente à escola dele para facilitar a vida da família.
"Ficamos
tranquilos no início, mas depois os problemas começaram a aparecer. Uma
vez ofereceram feijoada no lanche da tarde e ele comeu dois pratos.
Quando cheguei, ele estava com hiperglicemia. Perguntei quem havia
deixado ele comer tanto e falaram: 'Mas feijoada não é doce'."
Não
é preciso vetar os carboidratos e os doces, mas as quantidades devem
ser controladas. Segundo Denise Franco, endocrinologista, a permissão
controlada do consumo evita que as crianças se sintam excluídas na hora
do lanche na escola.
EXCESSO
O excesso de cuidados também pode ser prejudicial, segundo a nutricionista Juliana Baptista.
"Por
um lado, as escolas parecem ter medo da responsabilidade, mas, por
outro, há mães superprotetoras. Vira uma bola de neve: a mãe não confia
e não dá a oportunidade para o outro cuidar, e a escola não aprende ou
acaba ficando com raiva das reclamações da mãe. O pior é que a criança
sente o estresse dos dois lados."
Franco diz
que é importante que os pais também recebam suporte porque a doença nos
filhos mexe com eles e com a dinâmica da família.
Os
professores, afirma a médica, não são obrigados a saber a lidar com a
doença, mas precisam ter informações para ajudar os pais.
"Criar
uma lei para ter um cuidador na escola é um passo, mas é algo que pode
demorar para acontecer. A informação é o mais importante nesse caso."
OUTRAS DOENÇAS
Pais
de crianças com outros problemas, como asma e epilepsia, além do
diabetes tipo 1, também têm preocupações a mais em relação a
emergências enquanto os filhos estão na escola.
Mas,
segundo o pediatra Marcelo Reibscheid, do Hospital e Maternidade São
Luiz, as crianças que sofrem desses males só terão problemas sérios se
o tratamento prescrito pelo médico não for feito corretamente.
"A
escola deve seguir o tratamento indicado pelo médico. Assim não haverá
complicação, como uma convulsão ou uma crise asmática."
O mais preocupante, diz Reibscheid, é a prescrição por parte da própria escola.
"Se
a criança está com febre, logo dão paracetamol, mas ela pode ter gripe
ou algo mais sério. A escola não pode fazer o diagnóstico, prescrever e
arcar com essa responsabilidade. Isso cabe sempre ao médico."
Quanto
ao diabetes, o ideal é que as escolas, ainda mais quando se trata de
crianças menores de oito anos, tenham uma enfermaria ou uma equipe
atenta para esses cuidados. A partir dos oito, Reibscheid acredita que
a criança já possa aplicar a insulina seguindo a orientação do médico.
Outra
opção é a bomba de insulina, que evita as picadas da injeção. Ligada ao
corpo por um fino cateter, ela libera, o dia todo, uma quantidade de
insulina basal. Após cada refeição, é necessário calcular a quantidade
de carboidratos ingerida e programar o dispositivo para liberar a
insulina.
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