Em entrevista à Abrale, o Dr. Daniel Tabak explica por que é tão importante identificar a doença o mais rápido possível
POR TATIANE MOTA
Quanto antes o câncer for descoberto, melhor. Essa é a máxima básica em qualquer situação quando falamos da doença. Seja em campanhas, reportagens, estudos ou até mesmo em conversas com médicos e pacientes, a importância do diagnóstico precoce do câncer é sempre um fato.
Mas por que descobrir a doença bem no comecinho é tão imprescindível assim?
Por que a progressão do câncer é inevitável sem a abordagem terapêutica adequada. É isso o que diz o Dr. Daniel Tabak, onco-hematologista do Centro de Tratamento Oncológico (Centron), entre tantos outros médicos. Ele é o nosso entrevistado desta edição, para falar mais sobre o tema.
“O diagnóstico precoce é fundamental para que possamos almejar a cura das diversas patologias que enfrentamos. À medida que a doença avança e o tumor aumenta, surge a possibilidade de novas complicações, algumas intransponíveis. Nos linfomas, por exemplo, o crescimento de lesões na região do mediastino (entre os pulmões) pode causar problemas nas vias aéreas, determinando um risco de insuficiência respiratória. Nas leucemias, o retardo na identificação do quadro pode determinar um maior risco de hemorragias cerebrais pela redução do número de plaquetas.”
Qual é o tempo ideal para o diagnóstico?
Não existe um tempo ideal. Mas a resposta correta para essa pergunta é: o quanto antes! Muitas doenças, como o câncer, são descobertas por acaso, em um exame de rotina. Afinal, nem sempre o paciente irá apresentar sintomas.
Há exemplos, doutor?
Um bom exemplo é a leucemia mielóide crônica (LMC). Apesar das manifestações hematológicas surgirem anos após a ocorrência da mutação original, a doença tornou-se facilmente controlável com o Imatinib. Já no mieloma múltiplo, a peregrinação de pacientes até o diagnóstico definitivo ainda é história frequente. O controle da doença nem sempre pode ser atingido da forma adequada e a demora pode resultar em um comprometimento irreversível da qualidade de vida. O câncer não espera – a progressão é inevitável sem a abordagem terapêutica adequada.
Quais são os exames mais importantes para diagnosticar os cânceres do sangue?
A formação mais adequada de pediatras e clínicos gerais representa uma ótima estratégia para o controle adequado dos diversos tipos de câncer.
O mielograma é o exame mais relevante?
O exame mais importante será sempre a avaliação médica. A maioria das leucemias, por exemplo, pode ser diagnosticada pela avaliação de uma lâmina do sangue. O mielograma é importante para a melhor caracterização do processo com a definição de alterações cromossômicas específicas que podem influenciar na seleção do tratamento. Mas quando a suspeita é de um linfoma, a punção aspirada deve ser evitada – necessitamos da estrutura do linfonodo aumentado.
Há algo mais a ser evitado?
Outro equívoco é a necessidade absoluta do PET-CT para a descoberta da doença. Não há dúvidas que os avanços tecnológicos são importantes para a condução mais adequada dos nossos pacientes, mas não podemos esquecer dos elementos mais simples.
Por que existem erros de diagnóstico? A tecnologia existente hoje, de fato, ajuda a descobrir o câncer, seu tipo e subtipo? Ou o olhar humano ainda é fundamental para a obtenção desse resultado?
Apesar de todos os cuidados na conduta diagnóstica, erros podem ocorrer. Sem dúvida a sofisticação dos métodos contribui significativamente para minimizar os erros. As leucemias agudas são um bom exemplo. Embora facilmente diagnosticadas no sangue, os exames moleculares (feitos a partir de amostras do sangue da medula óssea) são críticos para a definição dos subtipos e seleção dos tratamentos mais adequados. Os diagnósticos se tornam cada dia mais complexos e precisamos nos manter atualizados.
Como o senhor vê o diagnóstico precoce no Brasil?
No Brasil, as limitações ao diagnóstico precoce são enormes. Mas certamente elas não serão resolvidas por decreto, como foi definido alguns anos atrás.
Os centros de tratamento oferecem os exames necessários?
O diagnóstico precoce só tem importância se o tratamento adequado também for instituído precocemente. Apesar de todas as campanhas que a ABRALE e outras organizações promovem, acompanhamos no noticiário filas intermináveis de pacientes que aguardam a marcação de uma consulta que indicará a necessidade de uma biópsia diagnóstica. Após a realização da biópsia, meses se seguem até que o diagnóstico adequado seja estabelecido. Quando uma cirurgia é necessária, a espera é muitas vezes interminável. O tempo para realização de um transplante de medula óssea pode representar a diferença entre a cura e um procedimento até mesmo desnecessário, quando a probabilidade de insucesso passa a ser gigantesca.
Essa situação é alarmante?
Sim, e, infelizmente, creio que se agravará nos próximos anos porque a formação de novos profissionais está sofrendo com a escassez de investimentos e escolas médicas desqualificadas foram criadas para atender a uma demanda mercantilista. As políticas de saúde não podem ser comprometidas pela política na Saúde.
Diagnóstico precoce
Os principais exames para descobrir o câncer do sangue
HEMOGRAMA COMPLETO: o conhecido exame de sangue tem por função medir a quantidade de glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas.
MIELOGRAMA: quando uma amostra de sangue da medula óssea é retirada por meio de uma agulha. Esse exame confirma o câncer, mas não o subtipo da
doença.
BIÓPSIA: pode ser feita na medula óssea, quando um pedacinho do osso da região da bacia é extraído, ou também no próprio tumor, quando uma pequena quantidade de tecido é removida.
EXAMES DE CITOGENÉTICA, IMUNOFENOTIPAGEM E BIOLOGIA MOLECULAR: por meio de uma amostra do sangue da medula óssea, avaliam as alterações nos cromossomos e ajudam a definir o subtipo da doença. Dentre eles estão o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), FISH (Hibridização Fluorescente
in situ) e cariótipo.
EXAMES DE IMAGENS: radiografia de tórax, tomografia computadorizada, ressonância magnética e ultrassom são alguns deles, e podem ajudar bastante na detecção do câncer. O PET-CT é muito importante para a manutenção. Ele mostra se ainda há características do linfoma no organismo.
Exames, nós temos direito a eles
Infelizmente não há leis que garantam isso à população
Diz a Constituição: “a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Portanto, ter um câncer diagnosticado precocemente é um direito de todo brasileiro, certo? Sim. Mas faltam leis que garantam isso à população.
Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2010, identificou que o diagnóstico tardio foi uma das principais barreiras enfrentadas pelos pacientes com câncer no acesso ao tratamento, seja pela falta de centros especializados, pelas longas esperas para consultas com médicos especialistas ou pela demora na realização de exames.
Em uma tentativa de diminuir esse tempo, tramitava na Câmara dos Deputados um projeto de lei que visava garantir exames diagnósticos em um prazo máximo de
30 dias para as doenças oncológicas. Mas ele foi arquivado no ano passado, em função da não reeleição do seu autor, o deputado Beto Albuquerque (PSB/RS).
Por meio da Declaração para Melhoria da Atenção ao Câncer no Brasil, documento realizado com base nas discussões levantadas pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, a ABRALE está monitorando essa questão, para que as melhorias necessárias sejam colocadas em prática.
Se você estiver enfrentando problemas com a realização de exames, entre em contato conosco pelo telefone: 0800 773 9973 ou pelo email: abrale@abrale.org.br.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
https://www.abrale.org.br
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