Na Esclerose Múltipla, a perda de mielina (substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios) leva à interferência na transmissão dos impulsos elétricos e isto produz os diversos sintomas da doença. Esse processo é chamado de desmielinização. É importante observar que a mielina está presente em todo sistema nervoso central, por isso qualquer região do cérebro pode ser acometida e o tipo de sintoma está diretamente relacionado à região afetada.
Com a desmielinização, ocorre um processo inflamatório que culmina, com o decorrer do tempo, no acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos de inflamação evoluem para resolução com formação de cicatriz (esclerose significa cicatriz). Esta não apresenta a mesma função do tecido original, mas é a forma que o organismo encontra para curar a inflamação. Porém, com isso, perdemos função tecidual (“a cicatriz como testemunha”) que aparece em diferentes momentos e zonas do sistema nervoso central.

Os pacientes podem se recuperar clinicamente, total ou parcialmente, dos ataques individuais de desmielinização, produzindo-se o curso clássico da doença, ou seja, os surtos (períodos em que a doença se manifesta intercalados com períodos sem manifestação) e remissões.
O diagnóstico é basicamente clínico e laboratorial, embora em alguns casos os exames sejam insuficientes para definir de imediato se a pessoa tem ou não Esclerose Múltipla. Isso acontece pois os sintomas se assemelham a outros tipos de doenças neurológicas. Nesses casos a confirmação diagnóstica pode levar mais tempo.
Apesar de ainda não existir cura para a Esclerose Múltipla, muito pode ser feito para ajudar os pacientes a serem independentes e a terem uma vida confortável e produtiva.
Diagnóstico
Em caso de suspeita de Esclerose Múltipla, a primeira coisa a ser feita é confirmar o diagnóstico.
Deve-se então procurar o médico neurologista que é o profissional mais adequado para investigar e tratar pacientes com essa doença.
Existe uma série de doenças inflamatórias e infecciosas que podem ter sintomas semelhantes ao da Esclerose Múltipla. O mais importante é integrar conhecimento médico e história de vida do paciente, além de realizar exames físicos, neurológicos e laboratoriais para auxiliar no diagnóstico.
Enganos mais comuns
- Subvalorizar ou supervalorizar sintomas, levando a falso positivo e falso negativo em relação ao diagnóstico de EM.
- Em caso de dúvida, aconselha-se repetir os exames.
Critérios básicos para diagnosticar Esclerose Múltipla
- Evidência de múltiplas lesões no Sistema Nervoso Central (SNC).
- Evidência (clínica ou paraclínica) de pelo menos dois episódios de distúrbio neurológico em um indivíduo entre 10 e 59 anos de idade.
Exames solicitados pelo Médico Neurologista para auxiliar no diagnóstico
- Ressonância Magnética de crânio e coluna em níveis cervical, torácico e lombar (em alguns casos).
- Líquor onde o fluído que banha o SNC é retirado para exame.
- Potencial evocado que mede a condução nervosa no seu trajeto visual, auditivo, motor e sensorial.
Taxa de prevalência da doença
De acordo com o Atlas da Esclerose Múltipla de 2013, a prevalência da doença no Brasil é de 5,01 a 20 pessoas a cada 100 mil habitantes. Quanto mais distante da Linha do Equador, ou seja, quanto maior a latitude, maior a prevalência.
É uma doença que acomete adultos jovens, principalmente mulheres. É mais comum em caucasianos do que em outros grupos raciais. Idade de maior adoecimento entre 20 e 50 anos. No entanto, hoje já se realiza cada vez mais o diagnóstico em idades menores, inclusive em adolescentes e crianças. Acima dos 50 anos também há descrição de casos de início da doença.
Tipos de Esclerose Múltipla
- Evolui com surtos cujos sintomas ocorrem de maneira súbita com posterior recuperação parcial ou total dos mesmos, nesse caso chamada Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EMRR) ou surto remissão. Essa é a forma mais comum de Esclerose Múltipla e os surtos podem deixar sequelas ou não.
- Evolui sem surtos, mas com sintomas progressivos acumulados ao longo do tempo, nesse caso chamada Esclerose Múltipla Primária Progressiva (EMPP).
- Evolui com sintomas lentos e progressivos com o tempo em indivíduos que possuem inicialmente a forma remitente recorrente (EMRR). Pode evoluir com ganho de sintomas sem surto, em geral após 20 anos de doença, nesse caso chamada de Esclerose Múltipla Secundária Progressiva (EMSP).
Surto
É o período em que os sintomas neurológicos da Esclerose Múltipla se manifestam de forma mais acentuada, podendo durar dias ou semanas.
Tratamentos
Os tratamentos medicamentosos disponíveis para Esclerose Múltipla buscam reduzir a atividade inflamatória e os surtos ao longo dos anos contribuindo para a redução do acúmulo de incapacidade durante a vida do paciente. Além do foco na doença, tratar os sintomas como os urinários e a fadiga é muito importante para qualidade de vida do paciente.
Os medicamentos utilizados na Esclerose Múltipla devem ser indicados pelo médico neurologista que vai analisar caso a caso.
Medicamentos imunomoduladores visam reduzir a atividade inflamatória e a agressão à mielina, com diminuição dos surtos em intensidade e frequência, contribuindo assim na redução da perda de capacidade ao longo dos anos.
Já os medicamentos imunossupressores (que reduzem a atividade ou eficiência do sistema imunológico) também têm ocupado lugar de destaque no tratamento da EM. Entre eles, destacam-se a azatioprina, a ciclosfosfamida, o mitoxantrone, o methotrexate e a ciclosporina.
Para o tratamento dos surtos, utiliza-se a pulsoterapia (administração de altas doses de medicamentos por curtos períodos de tempo) com corticoides sintéticos. O corticoide mais comum é o metilprednisolona, administrado via endovenosa por três ou cinco dias. Geralmente, após a administração venosa, passa-se a utilizar o corticoide via oral (prednisona) por cinco dias ou mais.
Os interferons, juntamente com o acetato de glatirâmer, são utilizados no tratamento da EM para reduzir os surtos e estabilizar a doença. No Brasil estes medicamentos são distribuídos gratuitamente pelo governo através de farmácias de dispensação de alto custo ou em centros públicos de referência do tratamento da EM mediante relatório médico que confirme a existência da doença.
O interferon beta-1a é administrado por via subcutânea 3 vezes na semana (Rebif® 22mcg ou 44mcg) ou intramuscular 1 vez por semana (Avonex® 30mcg). O interferon beta-1b é administrado subcutâneo em dia alternados (Betaferon® 8000UI).
O acetato de glatirâmer (Copaxone® 20mg) deve ser empregado subcutâneo diariamente.
Sintomas muito comuns no início do uso destas medicações são: dores de cabeça, dores musculares, febre, fadiga e agravamento de sintomas anteriores. São sintomas transitórios e, na maioria dos casos, podem ser amenizados ao iniciar os medicamentos com doses menores, utilizando-se analgésicos ou deixando as aplicações como a última atividade do dia, sempre de acordo com a orientação de médico.
Tratamento Sintomático
Novas Medicações
- Anticorpos Monoclonais
Um grupo medicamentoso muito utilizado em reumatologia e oncologia. Atualmente muitas substâncias vêm sendo testadas para Esclerose Múltipla. No mercado já está disponível o natalizumabe (Tysabri®), a primeira substância produzida especificamente para Esclerose Múltipla, cuja indicação é para doença grave, de evolução rápida, refratária a outras terapêuticas. Age na atividade inflamatória, reduzindo surtos e incapacitações.
– Medicações via oral
Fingolimode, Cladribina, Laquinimod, Teriflunomida, Fumarato de Dimetila. O fingolimode (Gilenya®) já está disponível no SUS.
Todos esses medicamentos são indicados para minimizar surto, frequência, taxa anual e concomitante acúmulo de incapacitações. Porém, muitas perguntas ainda precisam ser respondidas: quantos efeitos adversos em longo prazo, efeito preventivo, reparador, neuroprotetor, comparativo com tratamentos atuais.
Neurorreabilitação
Aliado ao tratamento medicamentoso, o tratamento reabilitacional é fundamental para reduzir a espasticidade, espasmo, fadiga, depressão entre diversos outros sintomas.
A neurorreabilitação é uma aliada importante do tratamento da Esclerose Múltipla. Além disso, colabora na adaptação e recuperação, quando possível, e prevenção ao longo do tempo de complicações como deformidades ósseas.
Entre as terapias de neurorreabilitação estão: psicologia, neuropsicologia, fisioterapia, arteterapia, fonoaudiologia, fisioterapia, neurovisão e terapia ocupacional.
Terapias de apoio e complementares
Além das terapias de neurorreabilitação, existem terapias de apoio muito importantes que podem auxiliar no tratamento do paciente de Esclerose Múltipla, aumentando a qualidade de vida. Entre elas, estão: neurologia, psiquiatria, medicina preventiva e urologia.
Já as terapias complementares promovem a harmonia física e emocional, tratamento do paciente de EM como um todo, auxiliando na melhora da capacidade de realizar atividades do dia a dia. Contribuem com o paciente no aspecto psicológico, melhorando a autoestima, autoconfiança e aceitação. Já no aspecto físico, ajudam a aliviar dores, melhorando a força e a flexibilidade.
Saiba mais sobre as terapias complementares no site da SPAbem.
Transplante autólogo de células-tronco
O transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas (TACT) é um tratamento de imunossupressão de altas doses, ou seja, ele praticamente interrompe a atividade ou a eficiência do sistema imunológico para impedir que o mesmo ataque o sistema nervoso. Após isso, o paciente passa pelo transplante com células-tronco para construir um novo sistema imunológico. Esse novo sistema imunológico fica frágil e o risco de infecções é muito grande. Além disso, o procedimento é extremamente delicado, podendo levar o paciente a óbito.
Por esse motivo, é considerado um tratamento de exceção, indicado em apenas poucos casos. Outro ponto que ainda está em discussão são os seus efeitos em longo prazo, ou seja, ainda não se sabe sobre a frequência dos surtos ou progressão da EM após um tempo considerável da realização do transplante. Também é preciso esclarecer que o TACT não cura a EM, e sim, estabiliza a doença.
LINK EBOOK: https://www.abem.org.br/wp-content/uploads/2022/01/20211018_foldersinformativos_ebookroche_imp.pdf
FONTE: https://www.abem.org.br/esclerose-multipla/o-que-e-esclerose-multipla/
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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