A doença de lesão mínima é forma de doença glomerular mais comum em crianças entre 1 e 12 anos de idade.
A doença de lesão mínima, também conhecida como nefropatia por lesão
mínima, doença glomerular por lesões mínimas ou síndrome nefrótica por
lesões mínimas, é uma doença dos rins, muito comum nas crianças, que se
caracteriza pela perda exagerada de proteínas pela urina.
Entre os
sinais e sintomas da doença de lesão mínima, o principal é a retenção
de líquidos, que costuma provocar inchaços por todo o corpo, incluindo a
face, barriga e os membros inferiores.
A doença por lesão mínima costuma responder bem ao tratamento,
principalmente nas crianças. Porém, cerca de 10% dos casos são
resistentes aos fármacos e podem evoluir com lesão permanente dos rins.
Neste
artigo vamos explicar o que a doença de lesão mínima, quais são as suas
causas, sintomas, formas de diagnóstico e os tratamentos disponíveis.
O que é a doença de lesão mínima
A
nefropatia por lesão mínima é uma glomerulopatia, ou seja, uma doença
dos glomérulos renais. O glomérulo é uma estrutura microscópica, cuja
principal função é a filtração do sangue. Cada um dos nossos rins possui
cerca de 1 milhão de glomérulos.
Quando os glomérulos estão
saudáveis, eles exercem adequadamente a sua função de filtro do
organismo: o sangue chega aos rins, e os glomérulos distinguem o que é e
o que não é importante para o nosso corpo. O que é desnecessário é
eliminado na urina, o que é necessário permanece no sangue. As
proteínas, principalmente a albumina, são substâncias importantes para o
nosso organismo, e, por isso, em condições normais, não devem ser
eliminadas na urina como se fossem alguma substância tóxica ou
dispensável.
Um paciente com rins saudáveis perde quantidades
mínimas de proteínas na urina, menos de 150 mg por dia. A presença de
proteínas na urina em quantidade maior que 150 mg/dia é chamada de
proteinúria, sendo este um sinal típico de lesão dos glomérulos. Quanto
mais grave for a lesão glomerular, maior será a proteinúria. Os
pacientes com nefropatia por lesão mínima costumam perder na urina mais
de 3500 mg (3.5 gramas) de proteínas por dia, podendo chegar, em alguns
casos, a mais de 10000 mg (10 gramas) por dia.
A nefropatia por
lesão mínima é uma doença na qual há lesão das paredes dos capilares
glomerulares, que é efetivamente o local do glomérulo onde ocorre a
filtração do sangue. A lesão dos capilares glomerulares faz com que
substâncias que deveriam permanecer no sangue acabem “escapulindo” para a
urina, como se fosse um filtro cheio de buracos.
Como os
pacientes com nefropatia por lesão mínima apresentavam relevante
proteinúria, era óbvio que eles tinham uma lesão dos glomérulos, mas os
patologistas não eram capazes de identificá-la nas amostras de biópsia
renal vistas através do microscópio ótico. Por isso, a doença recebeu o
nome de nefropatia por lesões mínimas. Somente com o advento da
microscopia eletrônica, que é capaz de magnificar uma imagem em mais de
10.000 vezes, contra cerca de 400 vezes do microscópio ótico, é que foi
possível identificarmos a lesão dos capilares glomerulares. O nome
antigo, porém, permaneceu.
Causas da doença de lesão mínima
O
paciente pode adquirir a doença de lesão mínima ao longo da vida
(doença adquirida) ou pode já nascer com ela (doença congênita).
A forma congênita de lesão mínima é a mais grave, pois além de se
manifestar já nos primeiros meses de vida, ela não responde aos
medicamentos habitualmente utilizados para o tratamento. O paciente
nasce com um defeito nos capilares glomerulares e não há nada que possa
ser feito, além do transplante renal.
A forma adquirida da doença
de lesão mínima é mais comum e costuma acometer crianças entre 1 e 12
anos de idade. A maioria dos casos ocorre antes dos 6 anos. Ao contrário
da forma congênita, a nefropatia por lesão mínima adquirida costuma
responder bem ao tratamento.
A glomerulopatia por lesão mínima
adquirida é uma doença de origem imunológica, cuja a causa ainda é
obscura. A doença parece ter origem na produção pelos linfócitos T (uma
das células de defesa do nosso sistema imunológico) de substâncias
nocivas aos capilares glomerulares. A nefropatia por lesão mínima é,
portanto, uma doença que surge devido a um mal funcionamento do sistema
imunológico do próprio paciente .
Nas
crianças, a nefropatia por lesão mínima costuma ser uma doença
idiopática e primária do rim, ou seja, ela só acomete o rim e não há uma
causa conhecida para o seu surgimento. Já nos adultos, a doença por
lesão mínima pode ter origem em outras doenças, como por exemplo
linfomas, leucemia, alergia, infecções, uso abusivo de
anti-inflamatórios, etc.
Sintomas da doença de lesão mínima
Proteinúria
A
principal característica da doença glomerular por lesões mínimas é a
proteinúria, que, como já foi explicado, é o termo utilizado para
designar a perda excessiva de proteínas na urina.
Um dos
principais sinais da presença de proteínas na urina é uma exagerada
formação de espuma, tipo colarinho de cerveja, quando o paciente urina.
Quanto mais intensa for a proteinúria, mais espumosa será a urina.
É
importante destacar que toda urina provoca algum grau de espuma no vaso
sanitário. Porém, a espuma que a proteinúria provoca é acentuada,
nitidamente mais intensa que a espuma que a sua urina habitualmente
produz.
A proteinúria não é uma complicação exclusiva da doença de
lesões mínimas. Ela costuma estar presente em várias outras doenças que
acometem os rins, inclusive o diabetes mellitus. Muitas vezes, a urina
espumosa é o sintoma mais precoce de uma doença renal e pode preceder em
meses ou anos o aparecimento de outros sintomas. Portanto, se de uma
hora para outra você notar que a sua urina passou a espumar de forma
exagerada, o ideal é fazer um exame de urina para descartar a
possibilidade de existir proteinúria.
Explicamos melhor a proteinúria e a urina espumosa nesse artigo: URINA ESPUMOSA E PROTEINÚRIA.
Síndrome nefrótica
A
urina espumosa não é o único sinal da perda de proteínas na urina. Como
já referido, o normal é perder menos de 150 mg por dia de proteínas na
urina. Perdas a partir de 500 mg por dia já podem causar aumento
perceptível da espuma na urina. Os pacientes com doença de lesões
mínimas têm, habitualmente, proteinúrias de mais de 3500 mg por dia.
Todo
paciente com proteinúria acima de 3500 mg por dia (50 mg/kg nas
crianças) está sob risco de desenvolver o que chamamos de síndrome
nefrótica, que é um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem quando a
perda de proteínas na urina é muito grande.
A
perda maciça de proteínas na urina provoca uma redução da concentração
de proteínas no sangue, que por sua vez, leva à retenção de líquidos e
ao extravasamento de água de dentro dos vasos sanguíneos para os
tecidos, principalmente para pele, provocando quadros de edemas
(inchaços).
O paciente com síndrome nefrótica apresenta-se
tipicamente com edemas na face, principalmente ao redor dos olhos, e nos
membros inferiores. Também é comum o acúmulo de líquido na região do
abdômen. Nos homens, a bolsa escrotal costuma ficar inchada.
Nos casos
mais graves, o extravasamento de líquido acomete os pulmões e provoca
quadros de cansaço e falta de ar.
A retenção de líquidos causa
ganho de peso, e não é incomum que o paciente chegue a ficar 5 a 10 kg
mais pesado (não é ganho de gordura, mas sim retenção e líquido).
Várias
doenças podem provocar síndrome nefrótica, mas a nefropatia por lesão
mínima é disparada a principal causa nas crianças, sendo responsável por
até 90% dos casos nessa faixa etária. Nos adultos, ela é menos comum e
representa somente cerca de 10 a 15% dos casos de síndrome nefrótica.
Diagnóstico da doença de lesão mínima
O primeiro passo para o
diagnóstico da síndrome nefrótica e da doença de lesão mínima é
identificar e quantificar as proteínas na urina. Análises como o exame
simples de urina e a urina de 24 horas costumam ser usados para esse
objetivo.
Cerca de 20 a 30% dos pacientes com doença de lesão mínima também
apresentam hematúria microscópica, que é a presença de sangue na urina
só detectável através das análises laboratoriais (leia: CAUSAS DE SANGUE NA URINA – HEMATÚRIA).
Análises
de sangue também ajudam. Os principais achados no exame de sangue são
valores baixos de albumina e a elevação do colesterol (leia: COLESTEROL HDL, COLESTEROL LDL E TRIGLICERÍDEOS).
A
maioria dos pacientes não apresenta alteração da função renal, mas 1 em
cada 5 podem apresentar insuficiência renal aguda, caracterizada pelo
aumento do valor da creatinina sanguínea (leia: EXAME DA CREATININA E UREIA).
Se
o paciente tiver edema generalizado e proteinúria relevante nas
análises de urina, o diagnóstico da síndrome nefrótica já pode ser
estabelecido. O próximo passo é estabelecer a sua causa.
O exame utilizado para o diagnóstico definitivo é a biópsia renal (leia: BIÓPSIA RENAL – Indicações, precauções e riscos.).
Porém, como nas crianças 90% dos casos de síndrome nefrótica são
causados pela doença de lesão mínima, e a biópsia é um procedimento
invasivo que acarreta alguns riscos, a maioria dos médicos opta pelo
início do tratamento sem um diagnóstico confirmado. Nas crianças com
menos de 12 anos, a biópsia fica reservado para os casos que não
respondem ao tratamento ou quando o médico tem algum motivo para
suspeitar que a síndrome nefrótica da criança tenha outra causa que não a
nefropatia de lesão mínima.
Nos adultos a situação é diferente.
Como existem dezenas de causas diferentes de síndrome nefrótica e
nenhuma delas é notadamente mais comum que as outras nessa faixa etária,
é impossível definir um diagnóstico e estabelecer uma estratégia
terapêutica sem o resultado da biópsia. Portanto, para um diagnóstico
definitivo da causa da síndrome nefrótica nos adultos, a biópsia renal
costuma ser a melhor opção.
Tratamento da doença de lesão mínima
O
tratamento inicial da doença por lesão mínima é feito com
glicocorticoides, tipicamente prednisona ou prednisolona. As doses e o
tempo de tratamento mais utilizados são os seguintes:
- Crianças – 2 mg/kg por via oral (até um máximo de 60 mg) em dias alternados por 6 semanas. Após essas 6 semanas a dose é reduzida para 1,5 mg/kg (dose máxima de 40 mg) por mais 6 semanas. Após essas 12 semanas, a dose deve ser reduzida progressivamente ao longo dos próximos 2 ou 3 meses até a sua suspensão completa*.
- Adultos – 1 mg/kg por dia por via oral (dose máxima 80 mg) por 12 a 16 semanas. Após esse período, redução progressiva da dose ao longo de 6 meses até a sua suspensão completa*.
* Esse processo de redução
progressiva da dose dos corticoides chama-se desmame e deve ser sempre
respeitado, pois a suspensão abrupta dos corticoides após tratamentos
prolongados pode causar graves efeitos adversos.
Mais de 90%
dos pacientes apresentam remissão da proteinúria, e a grande maioria o
faz dentro das 4 primeiras semanas de tratamento. Porém, cerca de metade
dos pacientes pode apresentar uma recaída da doença após o fim do
tratamento, com a suspensão completa dos corticoides. Neste casos, um
novo curso de corticoides está indicado.
Como os corticoides são
responsáveis por uma grande quantidade de efeitos colaterais,
principalmente quando usados de forma prolongada,
o ideal é mudar o tratamento nos pacientes com múltiplas recaídas (o
que corresponde a cerca de 20% dos casos), de forma a minimizar os
efeitos tóxicos dos corticoides a longo prazo. Nos adultos, o fármaco de
escolha para as recaídas frequentes é a ciclofosfamida, enquanto na
crianças é o micofenolato mofetil.
Como explicado anteriormente, os casos de síndrome nefrótica congênita não respondem ao tratamento com medicamentos.
Nos
adultos com doença de lesão mínima secundária a alguma doença, o
tratamento da sua síndrome nefrótica passa pelo tratamento doença
inicial. Por exemplo, se o paciente desenvolveu doença de lesão mínima
por causa de um quadro de linfoma, o tratamento não é direcionado para a
nefropatia de lesão mínima, mas sim contra o linfoma. A cura do linfoma
leva à cura da doença de lesão mínima. Se o quadro tiver sido provocado
por uso abusivo de anti-inflamatórios, o tratamento é simplesmente a
suspensão dos anti-inflamatórios.
O pacientes que não conseguem
obter controle da sua síndrome nefrótica ao longo dos anos encontra-se
em elevado risco de desenvolver insuficiência renal crônica
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
http://www.mdsaude.com/2016/02/doenca-lesao-minima.html
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