REVISÃO:19/02/2021
Mecanismo da lesão cardíaca na SCR tipo 3
A lesão renal aguda é acompanhada de alterações quase instantâneas em outros órgãos, inclusive o coração.
Já foram identificados vários mecanismos diretos responsáveis pelo atingimento cardíaco no caso da lesão renal aguda, chamados de conectores cardíacos. Entretanto, existem poucos estudos experimentais dedicados a avaliar especificamente esta interação, de forma que temos menos dados do que no caso da SCR-1.
Sabemos que a inflamação que ocorre nos estados de isquemia renal leva à ativação do sistema imunológico e pode provocar redução aguda da função cardíaca através da liberação de diversas substâncias conhecidas como citocinas. Além disso, o acúmulo de toxinas urêmicas (relacionadas à insuficiência renal), a ativação neuroendócrina através do sistema nervoso simpático e a liberação de hormônios (semelhante ao que ocorre na SCR1) parecem exercer um papel significativo na SRC-3.
Indiretamente, muitas alterações provocadas pela lesão renal aguda podem provocar insuficiência cardíaca. As principais são:
Sobrecarga de volume: a perda aguda da função renal acaba por reduzir a capacidade dos rins de eliminar o líquido em excesso no nosso organismo. O volume de líquidos que fica retido no corpo provoca sobrecarga de vários órgãos, como o coração e os pulmões, predispõe a arritmias cardíacas, a fibrose pulmonar e a edema pulmonar além de provocar distensão das veias e agravar ainda mais a função renal pelo mecanismo de pressão venosa renal aumentada já descrito acima.
Hipertensão Arterial: muitos pacientes com lesão renal aguda apresentam pressão arterial baixa, porque a causa da lesão renal provoca também redução da pressão arterial, como grandes perdas sanguíneas, infecção generalizada ou pós-operatório de grandes cirurgias.
No entanto, alguns pacientes apresentam hipertensão arterial quando têm lesão renal aguda, seja por sobrecarga de volume ou por ativação neuro-hormonal com liberação de adrenalina e outros hormônios que contribuem para a elevação da pressão. A pressão alta neste contexto aumenta o risco de isquemia, arritmias e disfunção cardíaca.
Acidemia: chamamos de acidemia quando existe acúmulo de substâncias ácidas no sangue.
Uma das funções dos rins é eliminar o excesso de ácidos do nosso organismo, uma vez que a produção deste tipo de substância ocorre diariamente como resultado do metabolismo das proteínas que consumimos.
A acidemia é uma complicação bastante frequente da lesão renal aguda e contribui diretamente para a redução da contratilidade do miocárdio, provocando redução da função cardíaca.
Alterações dos eletrólitos: variações dos níveis de potássio, cálcio, fósforo e magnésio no sangue podem ter consequências cardíacas.
Da mesma forma que o controle dos ácidos, o rim exerce um papel fundamental no controle dos níveis sanguíneos destes elementos, sendo o órgão responsável pela sua excreção.
A hipercalemia e a hipermagnesemia, quando há elevação respectivamente do potássio e do magnésio sanguíneo, é uma complicação potencialmente fatal que pode ocorrer nos casos de lesão renal aguda e está associada a toxicidade cardíaca e a arritmias.
Variações do cálcio provocam alterações da contratilidade e do relaxamento cardíaco. Já no caso do fósforo, a redução dos níveis de fósforo no sangue está associada ao tratamento da lesão renal aguda com diálise intensiva e pode provocar fraqueza muscular incluindo os músculos respiratórios, além de alterar a performance cardíaca.
MECANISMOS DE LESÃO NAS FORMAS CRÔNICAS DA SCR
Como já foi mencionado, no caso das formas crônicas da síndrome cardiorrenal é muitas vezes difícil determinar qual órgão foi afetado primeiro, porque frequentemente quando o paciente procura o médico já possui as duas doenças há muito tempo e não consegue discernir qual foi a primeira a aparecer.
A doença renal crônica está associada a alterações do metabolismo do cálcio e do fósforo, que ocasionam deposição de cálcio nas válvulas cardíacas e nas paredes dos vasos e contribuem para a redução do fluxo sanguíneo não só no coração, mas também nas extremidades e no cérebro.
Por isso, verifica-se aumento da incidência tanto de amputação dos membros inferiores e de AVC como de angina e infarto do miocárdio nos doentes renais crônicos.
A diminuição da capacidade de eliminar líquidos, em conjunto com o aumento da pressão arterial acabam por provocar sobrecarga cardíaca, que com o tempo induz a um aumento e espessamento das paredes do ventrículo esquerdo, conhecida como hipertrofia ventricular esquerda, HVE.
Outro fator que contribui para a disfunção cardíaca é a presença de anemia que frequentemente surge nas fases mais avançadas da DRC.
À medida que a função renal cai, ocorre um acúmulo gradual de uma série de toxinas que levam a substituição do tecido cardíaco normal por fibrose e consequentemente à disfunção cardíaca.
No caso da insuficiência cardíaca crônica, alguns dos mesmos processos que contribuem para o desenvolvimento da lesão renal na SCR1 também estão presentes, tais como a redução da perfusão renal, a ativação da resposta neuro-humoral e o aumento da pressão venosa.
Todavia, da mesma forma que na DRC, a estes mecanismos somam-se a produção de substâncias que levam a um estado de inflamação crônica, contribuindo para a substituição de tecido renal funcionante por fibrose.
TRATAMENTO
O objetivo do tratamento da SCR é compensar a disfunção do órgão primariamente envolvido.
Por exemplo, quando se trata de uma insuficiência cardíaca aguda descompensada levando à lesão renal aguda (SCR-1), o objetivo principal será o tratamento do coração, geralmente com diuréticos, para redução da retenção de líquidos e melhora da contratilidade cardíaca. Uma vez que a função cardíaca esteja restabelecida, a disfunção renal melhorará.
Além do tratamento direcionado ao órgão afetado primariamente, neste exemplo o coração, pode ser necessário fornecer tratamento de suporte para o órgão afetado de forma secundária, como iniciar diálise para a insuficiência renal.
No caso das formas crônicas da síndrome cardiorrenal, a terapêutica é a mesma utilizada habitualmente para a insuficiência cardíaca crônica e para a doença renal crônica.
Finalmente, no caso da SCR-5, o tratamento é individualizado de acordo com a situação que levou ao comprometimento renal e cardíaco: uma infecção bacteriana deve ser tratada com antibióticos, a doença autoimune com imunossupressão, etc.
REFERÊNCIAS
- Cardiorenal Syndrome: An Overview – Advances in chronic kidney disease.
- Cardiorenal Syndrome Revisited – Circulation.
- Cardiorenal syndrome: Review – Journal of the American College of Cardiology.
- Cardiorenal syndrome: Definition, prevalence, diagnosis, and pathophysiology – UpToDate.
- Cardiorenal Syndrome: Classification, Pathophysiology, Diagnosis, and Treatment Strategies: A Scientific Statement From the American Heart Association – Circulation.
- ADQI Consensus on AKI Biomarkers and Cardiorenal Syndromes – Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI).
Dra. Renata Campos
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vc é muito importante para mim, gostaria muito de saber quem é vc, e sua opinião sobre o meu blog,
bjs, Carla