Muitas pessoas me perguntam se tem alguma alimentação ou quais os alimentos mais indicados para quem está fazendo quimioterapia e radioterapia. Para o paciente oncológico sem complicação a via oral é a mais indicada, é a que possibilita um manejo mais fácil tanto no volume quanto na adequação individualizada da dieta. Quem está fazendo tratamento com quimioterápicos ou radioterapia, pode se queixar de mudanças no paladar, inflamações da mucosa da boca (aftas), diminuição da salivação, dor durante a deglutição e algumas pessoas têm dificuldade de deglutir os alimentos, além das já famosas alterações gastrointestinais, náuseas e vômitos. Se levarmos em consideração que nem todos os pacientes apresentam todos esses sintomas vamos ver que a dieta, na maioria das vezes, tem que ser individualizada e em algumas ocasiões temos que buscar alternativas que façam ele se alimentar da maneira mais prazerosa possível.
Em geral o paciente oncológico pode e deve comer todos os alimentos naturais, verduras, legumes, raízes, cereais, grãos e frutas em geral, porque eles são as maiores fontes de fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos, que melhoram o funcionamento do intestino, a absorção de nutrientes e o sistema imune.
Para quem está com o paladar alterado o indicado é uma dieta mais temperada, abusando das ervas, jamais dos temperos industrializados. Uma simples batata ou outra raiz pode se transformar num suflê temperado com orégano ou alecrim e um arroz num delicioso risoto de ervilha ou palmito. O importante é variar a raiz, os grãos e os cereais. A estomatite é mais complicada, porque qualquer alimento ácido que entre em contato com a mucosa tem conseqüências muito dolorosas e aí é que eles se recusam a comer de verdade. Neste caso devemos evitar alimentos excessivamente doces, muito salgados ou ácidos, como extrato de tomate, temperos e molhos industrializados, picantes, chocolate, biscoitos, margarina e tudo que tiver cafeína, como chá, refrigerante e café. Por incrível que pareça os alimentos lácteos são muito ácidos e irritam a mucosa, portanto nada de queijo, leite nem leite condensado. O melhor é comer alimentos de fácil digestão e neutros como chuchu, abóbora, abobrinha, repolho, quiabo, verduras cozidas, purê de cenoura, de inhame, batata baroa, carne moída ou peixe e saladas de folhas. As náuseas e vômitos podem ser contornados com alimentos mais frios e sem gordura. Jamais use margarina na dieta desses pacientes, porque além de serem muito salgadas, são de difícil digestão. Tempere e cozinhe, quando necessário com óleo vegetal ou com azeite de oliva extra-virgem.
O paciente oncológico não gosta muito de escolher o cardápio, portanto não é muito aconselhável fazer aquela pergunta clássica: “o que é que você quer comer hoje?”, porque a resposta será sempre a mesma: “qualquer coisa!” Eu aconselho que as refeições sejam pequenas e freqüentes. Por exemplo: 1 colher de verdura cozida, como brócolis ou espinafre, com carne moída ou peixe grelhado e batatas cozidas com sal, azeite e alecrim. A sobremesa pode ser oferecida 2 horas depois e não é necessário beber sucos, chás nem refrigerantes durante as refeições. É melhor beber somente água e deixar o suco de frutas naturais, jamais industrializado, para mais tarde. Fruta, pudim, doce, sorvete de frutas, iogurte ou outra sobremesa, deve ser oferecida nos intervalos das refeições. Gelatina é outro problema. Todo mundo acha que ela é uma ótima sobremesa para quem está de dieta, mas esquece que o corante pode causar estomatite (aftas). O mesmo ocorre com os sorvetes cremosos e iogurte que além dos corantes têm aromatizantes e acidulantes. Quem quiser comer gelatina vai ter que aprender a preparar uma gelatina caseira, com suco de fruta natural e gelatina sem sabor. A maioria da frutas é bem aceita e com elas pode-se preparar suco, sorvete, doces ou outra sobremesa qualquer. Não existe nenhuma fruta contra indicada e sim as preferidas. Algumas são muito ácidas, e causa muito desconforto, como o abacaxi, kiwi, acerola e maracujá. As melhores frutas são mamão, banana, maçã e pêra, que são deliciosas ao natural ou cozida. Quem tem disfagia, dificuldade de deglutição, deve evitar a dieta líquida, nada de sopa. A dieta mais indicada é a pastosa (amassada com um garfo ou na forma de purê), inclusive os sucos devem ser espessados com gelatina natural ou com outro espessante, pois o engasgo com alimento líquido é mais freqüente. Feijão com arroz pode ser a solução para quase todos os tipos de complicações, além de serem as maiores fontes de fibras, vitaminas e minerais. É uma combinação bem tolerada, e muito nutritiva, assim como sopa bem grossa de ervilha e lentilha.
Para o paciente oncológico não há muita restrição alimentar, o que buscamos é contornar as situações para facilitar a aceitação do alimento, por isso devemos variar os sabores e colorir a dieta a fim de garantir a maior quantidade possível de nutrientes em cada refeição. Nada disso adianta se a pessoa se mantiver isolada durante a refeição. Alimentar-se é mais do que uma necessidade, é um ato de comunhão em torno da mesa. A atenção e o convívio com a família pode resgatar mais depressa o prazer de comer.
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