Lesões por pressão excessiva em determinada região foi conhecida por muito tempo como “escara”. Posteriormente, passou a ser denominada “úlcera de decúbito”, pois é muito comum em pessoas acamadas.
O dr. Drauzio Varella tem uma frase marcante que usa para incentivar a prática de atividade física: “Ao contrário de outras máquinas desenhadas para o movimento, como o avião e o carro, que se desgastam enquanto se movimentam, o corpo humano se aprimora com a movimentação”. A precisão da frase é indiscutível e pode ainda ser estendida. A imobilidade extrema deteriora o corpo humano muito mais rápido do que se imagina.
Experimente apertar dois dedos da sua mão, um contra o outro, e observe como a área pressionada fica pálida. “A pressão faz com que o sangue não chegue adequadamente até os tecidos, e então ocorre a necrose dessa região”, explica Maria Angela Boccara de Paula, enfermeira, professora da Universidade de Taubaté e presidente da Associação Brasileira de Estomaterapia (Sobest).
É importante observar que as lesões por pressão são semelhantes a um iceberg: aquela pequena ferida é somente a ponta, internamente a lesão pode ser bem maior.
A ferida que surge da pressão excessiva em determinada região foi conhecida por muito tempo como “escara”. Posteriormente, passou a ser denominada “úlcera de decúbito” (termo técnico para a posição “deitado”), pois é muito comum em pessoas acamadas. Contudo, ela pode surgir em quaisquer regiões expostas a pressão prolongada. Cadeirantes, por exemplo, podem desenvolver as lesões na região do osso ísquio, em que nos apoiamos quando estamos sentados. Dessa forma, atualmente o termo mais utilizado é “lesão por pressão”.
FORMAS DE PREVENÇÃO
Qualquer pessoa que já precisou cuidar ou acompanhar o trato de alguém acamado, como vítimas de AVC e pessoas inconscientes em UTI deve ter presenciado ou o surgimento dessas lesões ou o esforço necessário para evitá-las, já que a principal forma de prevenção é movimentar o paciente de tempos em tempos. “Não temos como precisar um tempo-padrão para movimentar o paciente. Duas horas é uma média, mas cada indivíduo tem uma necessidade. Uma pessoa emagrecida por sua condição acamada, por exemplo, tem a ossatura mais evidente e menos tecido adiposo. Nesse caso, ela teria de ser movimentada com mais frequência”, alerta Maria Angela.
Não é preciso sequer o peso de um indivíduo para provocar lesões por pressão. Uma sonda colocada no nariz de forma inadequada pode provocar uma lesão por pressão na aba do nariz. Oxímetros, aqueles pequenos aparelhos colocados na ponta do dedo para medir a oxigenação, também podem causar o problema, se permanecerem durante muito tempo.
A prevenção, portanto, envolve pequenos detalhes que, se não forem observados, podem permitir o início das feridas. Os pontos mais suscetíveis são calcanhares, tornozelos, quadris e cóccix, locais em que o peso do corpo mais se concentra quando estamos deitados ou sentados.
A umidade é outro fator que aumenta muito o risco, e evitá-la pode demandar uma série de cuidados. Leda Alves dos Santos, de 55 anos, é auxiliar de enfermagem e trabalha com pessoas acamadas. Atualmente, cuida de um paciente que sofreu AVC e perdeu os movimentos da perna e braços esquerdos. “Eu chego à noite, depois que o enfermeiro do dia já deu o banho. Como ele é mais forte, consegue levá-lo até o banheiro, senão eu teria de dar banho na própria cama, o que é possível, mas aumenta o risco por conta da umidade”, relata. “Em geral também coloco duas fraldas, uma por cima da outra, para que os líquidos não fiquem represados só em uma”, completa.
Além de facilitar o surgimento de lesões, a umidade também pode ocasionar outros problemas. Locais úmidos dificultam a adesão de curativos, necessários quando uma ferida já está instalada. “Além disso, resíduos de incontinência urinária e fecal aumentam o risco de infecção”, alerta Maria Angela.
Embora a umidade favoreça o surgimento das lesões, a hidratação da pele é recomendada. Em conjunto com a movimentação constante do paciente, é a principal medida para prevenir as lesões por pressão. “Devemos usar cremes e evitar os óleos, já que esses criam uma camada protetora, mas não contra a lesão por pressão, que se origina da morte do tecido”, explica a presidente da Sobest.
Quando o paciente fica em casa, um recurso muito utilizado são os colchões “caixa de ovo”, que levam esse nome por sua superfície lembrar aquelas embalagens com formas semelhantes a pirâmides. Eles de fato ajudam a manter a circulação, mas precisam ter as especificações indicadas por um especialista. A compra de um inadequado pode fazer com que o colchão deforme rapidamente e perca seu efeito.
Já em hospitais, é fundamental existir uma escala de risco estruturada a partir da entrada de pacientes de risco na instituição. “Quando um paciente chega, a enfermagem já pode avaliar o quadro dele, se ele tem diabetes, quantos dias ele deverá ficar de cama, e assim já organizar a conduta que deverá ser adotada em cada caso”, orienta a presidente da entidade.
QUANDO A LESÃO SE INSTALA
O primeiro sinal é chamado de hiperemia, caracterizada por uma mancha avermelhada no local, quando a pele ainda está íntegra. Nessa fase deve-se agir prontamente e aliviar a pressão na região. A intuição pode levar a massagear a área comprometida, mas essa prática não é recomendada, pois pode piorar o dano tecidual.
No grau seguinte já existe algum tipo de rompimento da pele, seja um pequeno orifício, uma bolha ou uma espécie de área com aparência esfolada. “É importante observar que as lesões por pressão são semelhantes a um iceberg: aquela pequena ferida é somente a ponta, internamente a lesão pode ser bem maior”, afirma Maria Angela.
Portanto, mesmo que pareça somente uma pequena ferida, a instalação da lesão já exige avaliação de um especialista. No caso, o enfermeiro estomaterapeuta é o profissional especializado em estomias (orifícios de comunicação entre o interior do organismo e o exterior, como a traqueostomia ou a colostomia), incontinências e feridas como as lesões por pressão. Ele poderá analisar cada caso e orientar sobre a conduta ou necessidade de intervenção médica.
Todo o esforço deve ser realizado para evitar o surgimento das lesões por pressão, pois depois que elas se instalam, o tratamento é ainda mais complexo e demorado. Não basta aliviar a pressão e esperar o próprio organismo cicatrizar. Além de avaliar a possibilidade de infecção (e consequente administração de antibióticos adequados), é necessária a limpeza minuciosa com troca frequente de curativos. Dependendo da gravidade, o tratamento precisa ir além. “Existem casos tão graves que a gente consegue tratar e aproximar bordas da ferida, mas para fechar completamente é necessário fazer enxertia”, alerta a especialista.
Luiz Fujita Jr é jornalista, editor do Portal Drauzio Varella e criador do podcast Entrementes, sobre saúde mental. @luizfujitajr
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Carla
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