- Equipe Oncoguia
- - Data de cadastro: 31/05/2016 - Data de atualização: 07/06/2016
Maridos relatam perder o chão e passar por grande
desestabilização emocional, mas não se abrem com esposas, família ou
profissionais de saúde, mostra estudo
Desde 2012, o psicólogo Leonardo Yoshimochi, 34 anos, acompanha mulheres em tratamento de câncer de mama no Rema (Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na Reabilitação de Mulheres Mastectomizadas) – e, entre as atividades, conversa com os maridos delas. "Muitas vezes, eles me procuravam para dizer sobre a dificuldade que sentiam no acompanhamento e na vivência que estavam tendo em relação à esposa.”
Fez desse seu tema de mestrado e constatou que os homens sofrem, sim. E poucas vezes se abrem – seja com a esposa, seja com a família, seja com um profissional da área da saúde. No início, "o chão vai embora” e há uma "desestabilização muito grande”. Conforme o tratamento evolui, eles se reestruturam. Confira, a seguir, a entrevista.
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Quantos homens participaram do estudo?
Dez.
Como foi a seleção deles?
Fiz uma divulgação verbal nos grupos das mulheres [que são atendidas no REMA]. Com respeito ao tratamento delas, fiz um termo de consentimento para os dois. Passava primeiro por elas e, diante da necessidade delas, da abertura que elas poderiam dar, elas entrariam em contato com os maridos.
Quais são os principais sentimentos desses homens quando recebem a notícia de que a esposa está com câncer?
O primeiro – e praticamente unânime – é que eles dizem que o chão vai embora. Eles sentem uma desestabilização muito grande no momento da notícia. A partir daí, com o tratamento que é indicado à esposa, começam, ao longo do tempo, a estruturar melhor a situação. É até iniciar o tratamento – a partir do momento que ela começa a fazer ou quimioterapia ou radioterapia ou mesmo cirurgia.
O medo da perda, no início, é imenso. À medida que o tratamento começa, eles passam a ter um pouco mais de esperança em relação à melhora dela. Não é um medo que vai totalmente embora.
O medo delas interfere no medo deles?
Interfere. Na relação, o primeiro recurso deles é a tentativa do diálogo. Quando percebem que elas precisam de ajuda, eles as procuram. Só que alguns não se sentiram à vontade quando foram negados [na primeira tentativa de conversa]. Tem que ter disponibilidade para entrar em contato com tudo isso.
Mas a maior parte insistiu ao longo do tempo e respeitou a rejeição quando tentou conversar com elas. Outros abandonaram – ele queria falar com ela, ela não quis e ele desistiu. Eles achavam que era algo mais particular em relação a eles.
Qual é a maior dificuldade dos maridos nesse processo?
A maior dificuldade é essa aproximação. Tudo o que acontece a partir do diagnóstico vai funcionar diante da história que eles têm cosigo mesmos. As dificuldades que eles tinham se potencializam. Como também as virtudes se potencializam. Quando buscam ajuda com a esposa, a maior dificuldade deles é encontrar esse timing de a mulher dar abertura para cuidar dela, e eles poderem cuidar.
Eles tinham que ajudar no cuidado com a casa – da comida, da limpeza. Além disso, tinha o serviço, o trabalho deles. Eles ficavam sobrecarregados, principalmente quando os filhos não ajudavam. Quando os filhos entraram no auxílio para ajudar o pai a cuidar da mãe, tanto no apoio emocional quanto no cuidado com a casa, ajudou-os significativamente a permanecer no trabalho e a cuidar delas.
O que fazer para reduzir o medo e o desconforto?
No sentido direto da relação, seria tratamento psicológico para os dois. A conclusão que a gente chega é que ele não se cuida, na justificativa de cuidar da esposa.
Eles sentiram nas entrevistas que tinham necessidade de cuidado para eles. No primeiro momento, eles não queriam de maneira alguma voltar o cuidar para eles. Eles tinham que cuidar delas. Como elas estavam correndo risco, na visão deles, eles tinham que cuidar delas. À medida que foi aliviando ao longo do tempo, eles melhoraram. E acharam que não precisavam de tratamento. Alguns tiveram problemas, especialmente relacionados à depressão e à ansiedade.
O tratamento traz mudanças significativas para a vida do casal?
Sim, principalmente a imagem corporal que a mulher tem de si e que o marido tem dela. É comum elas sentirem medo de como vão ser vistas, não só pelo marido, mas também pela sociedade.
Elas vivem um certo dilema em como dividir essa dor, expor o seio. Muitas vezes, os maridos conseguem se aproximar bem do corpo da mulher. E, muitas vezes, isso demora um tempo porque ou eles ou elas têm aflição da cirurgia.
Então, a vida sexual tem mudanças?
Tem, também pelo tratamento – porque a quimioterapia pode trazer secura vaginal. Em todo o contexto, cada situaçãozinha se torna aparentemente um impedimento se elas não conseguem enfrentar. Eles e elas acabam tendo cada vez mais justificativas para não se aproximarem tanto.
O que fazer para que esse impacto seja minimizado?
A primeira atitude é o marido ou a família se aproximar dos profissionais que estão tratando a esposa. Eles vão poder se munir um pouco mais de informações. Isso para o tratamento dela. Mas, diante do que eles sofrem, buscar tratamento para eles – um tratamento psicológico.
Com quem os homens costumam se abrir sobre a doença da esposa?
Com ninguém. Geralmente, eles têm receio de falar com filhos. Eles pedem para falar com os filhos, mas no sentido prático, do dia a dia. Não falam que não estão dando conta de cuidar. Eles falam: "Ela está triste hoje”. E os filhos que vão levá-la ao shopping, para passear. Mas eles nunca colocam questões particulares para os filhos e a mulher.
Que traumas podem ser produzidos nessa situação?
É cuidar mesmo quando não está bem. Não é que a situação tenha que estar sempre bem. É que ela possa ter auxílio de profissionais ou de cuidadores para eles entenderem o que está acontecendo. Mas quando não é muito bem vivido e há dificuldade de buscar cuidado, a negação de se aproximar por causa do corpo ou de ter um diálogo se torna traumática. Acaba sendo a justificativa que as pessoas usam, por anos, por não terem conseguido cuidar da esposa. E o trauma perdura na vida.
Um recurso que eles têm muito é o do humor, o que nem sempre é bom para a mulher. Tentam fazer piadas para quebrar um pouco a situação de sofrimento ou negativa. É muito claro que têm essa alternativa porque eles também não suportam a dor que fica permanecendo no clima familiar.
O que mais o impressionou durante o estudo?
Eu não esperava que eles conseguissem se emocionar, falar que eles sofrem mesmo, que eles têm medo da perda, verbalizar que eles não querem que a mulher morra.
O que você diria a quem está passando por isso?
Diante do sentimento de desespero e, depois, quando começa a aparecer a esperança, eu espero que as pessoas consigam perseverar. Insistir nas relações de intimidade e familiares – lutar para isso acontecer. Seja na relação com o marido, seja na relação com o médico. Não desistir em pequenas situações, mesmo que elas pareçam grandes.
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Tem dúvidas?
O PAP (Programa Nacional de Apoio ao Paciente com Câncer), do Instituto Oncoguia, conta com atendimento especializado e personalizado focado prioritariamente no esclarecimento de dúvidas relacionadas a qualidade de vida e direitos dos pacientes.
Você pode ligar gratuitamente para o telefone 0800 773 1666, de segunda a sexta, das 10h às 17h, de um telefone fixo. Se preferir, é possível preencher cadastro no site, que a equipe entrará em contato em até 48 horas.
Por QSocial
Crédito: Jozsef Szoke/FreeImages.com
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Carla
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