- Equipe Oncoguia
- - Data de cadastro: 18/11/2020 - Data de atualização: 18/11/2020
Embora não sejam muito alardeados, episódios de câncer relacionados ao trabalho existem e preocupam os especialistas. No último relatório da Agência Internacional para o Combate do Câncer (Iarc, na sigla em inglês), publicado no início de 2020, há um capítulo inteiro dedicado aos fatores ocupacionais capazes de contribuir para o surgimento de tumores.
“Temos uma quantidade expressiva de agentes carcinogênicos e muitas dessas substâncias podem ser encontradas no ambiente de trabalho”, resume o médico Alfredo Scaff, consultor da Fundação do Câncer, no Rio de Janeiro.
Se o contato com esses compostos for esporádico, o perigo é pequeno. “Agora, anos de exposição sem qualquer tipo de equipamento de proteção individual aumentam muito a probabilidade de o trabalhador desenvolver câncer”, alerta o médico.
Um elemento que entra nessa lista é o benzeno. A exposição frequente a esse agente está ligada a cânceres no sangue, como a leucemia. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), pessoas que trabalham na siderurgia, na produção de tintas, na fabricação de plástico, na indústria de borracha (com pneus e outros produtos) e como frentistas em postos de gasolina estão especialmente sujeitas à convivência com o benzeno.
Mas Scaff nota que não são só os compostos químicos que merecem destaque – os físicos também devem ser vistos com cautela. Um exemplo é a alta exposição solar típica de certos empregos (agricultores, carteiros, treinadores de corrida de rua). Ora, está mais do que comprovado que a radiação ultravioleta dispara processos que culminam em câncer de pele.
Pior ainda é quando o ganha-pão agrega os dois tipos de ameaça. “O trabalhador rural que usa aquelas bombas costais, espargindo uma nuvem de agrotóxico sobre a lavoura, está exposto diretamente a um conjunto grande de substâncias químicas, muitas delas cancerígenas”, informa Scaff. E esse mesmo sujeito tende a passar horas e horas embaixo do sol.
Por que o assunto é urgente
“O conhecimento sobre os agentes e as circunstâncias ocupacionais que
causam o câncer é fundamental para gerar ações de controle”, defende o
médico da Fundação do Câncer.
Segundo ele, cerca de 10% dos tumores malignos têm como pano de fundo os tais carcinogênicos ocupacionais. É muita coisa. “Se as empresas seguirem as normas que já existem, seria um grande passo para a proteção da saúde do trabalhador”, analisa Scaff.
Nas atividades realmente insalubres, deve ocorrer a maior automação possível e o uso de equipamentos que distanciem o funcionário da principal fonte de contaminação.
“Outra medida importante é banir determinados produtos cancerígenos do processo industrial”, adiciona. Isso aconteceu recentemente por aqui com o asbesto (ou amianto), uma fibra demandada em diferentes produtos da construção civil — telhas, caixas d´água e por aí vai — e que foi muito explorada comercialmente no Brasil. “A aspiração dessa substância leva ao desenvolvimento do câncer na pleura do pulmão”, ensina o médico.
Além disso, a empresa precisa empoderar o colaborador com informação. “Ele tem que saber onde está trabalhando, quais os processos em que está envolvido, quais equipamentos deve usar e quais os produtos que está manipulando”, enumera Scaff.
O médico menciona o caso dos trabalhadores que extraem e preparam a borracha para a produção industrial no norte do país. “Existe um tipo de câncer de bexiga muito caraterístico entre eles”, revela. “Se o indivíduo não souber que essa atividade é capaz de gerar o tumor, pode acabar desempenhando-a sem qualquer proteção”, alerta.
Sobre equipamentos de proteção individual (EPIs), o médico da Fundação do Câncer frisa: “Muitas vezes, existe uma pressão das empresas e dos empregadores para que o trabalhador exerça sua atividade sem o EPI. Mas é preciso se negar a realizar atividades perigosas sem estar devidamente equipado”.
Para que todo mundo consiga trabalhar com segurança, órgãos reguladores também precisam atuar na fiscalização. Atitudes simples no dia a dia podem salvar vidas.
Fonte: Veja Saúde
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Carla
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