A perda de massa muscular que acompanha o avançar da idade está mais ligada à longevidade e à qualidade de vida do que se imaginava
Por Goretti Tenorio
1 jun 2018, 12h00 - Publicado em 8 maio 2017, 09h30
(Tomás Arthuzzi (fotos) e iStock (ilustrações)/SAÚDE é Vital)
Está enganado quem acha que músculos só servem para aumentar a autoestima diante do espelho. Sem eles, o corpo de qualquer ser humano acaba ruindo. E por trás da perda de massa e força muscular se esconde uma condição que pode incidir sobre todo mundo e, se não for contida, reduzir a expectativa e a qualidade de vida. Grave o nome dela: sarcopenia
O envelhecimento, entre outras peças que prega ao organismo, arma para a musculatura. Para complicar, à medida que os cabelos brancos se multiplicam, braços e pernas mais mirrados deixam de ser dignos de nota. “Nas faixas etárias mais jovens, até por questões estéticas, o indivíduo repara nos próprios músculos. Mas, ao passar dos 40, 50 anos, isso deixa de ser uma preocupação”, observa o geriatra João Toniolo Neto, diretor do Núcleo de Estudos Clínicos em Sarcopenia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O perigo é que justamente a partir dos 40 começa a decadência muscular. E ninguém escapa disso. Um levantamento realizado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo em 2014 mapeou a prevalência do problema na capital paulista. O trabalho deu seguimento ao estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento de 2006, que avaliou mais de mil pessoas acima dos 60 anos. Levando em consideração os índices de massa muscular, força e desempenho físico, os pesquisadores detectaram a sarcopenia em 16,1% do total de mulheres (pulando para 46,6% entre as que tinham mais de 80 anos) e 14,4% dos homens (44,7% dos oitentões).
“A ligeira desvantagem feminina pode ser explicada pelo fato de que elas normalmente têm menos massa que os homens”, aponta o fisioterapeuta Tiago da Silva Alexandre, professor de gerontologia da Universidade Federal de São Carlos e um dos autores do trabalho. O mesmo estudo escancara a importância de estancar a erosão da musculatura: “Em um acompanhamento de cinco anos, os dados mostraram um risco de morte muito mais alto em quem sofre de sarcopenia“, conta Alexandre. No grupo com a condição, foram registrados 66 óbitos a cada mil pacientes avaliados. Já entre os que estavam livres do problema a taxa ficou em 20 a cada mil.
Consequências da sarcopenia
“Sarcopenia é uma palavra que precisa ser aprendida assim como hoje quase todo mundo sabe o que é osteoporose“, propõe Toniolo. “Ossos e músculos são igualmente importantes. A questão é que, como fraturas e dores articulares são mais evidentes, a perda de massa acaba menosprezada”, analisa.
Sem contar que, entre os especialistas, é relativamente recente a tentativa de definir a condição – que nem ao menos é classificada como doença. As primeiras associações entre a carência de massa magra e envelhecimento surgiram em 1989. E só em 2010 um consenso do Grupo Europeu de Trabalho sobre Sarcopenia em Idosos estabeleceu que o fenômeno engloba, além da redução muscular, a diminuição de força e a piora do desempenho físico.
Os primeiros sinais da sarcopenia até são notados com o passar dos anos, vá lá. Afinal, os músculos vão minguando aos poucos. Mas em geral a história fica restrita a reclamações de cunho estético e nada mais. Até porque boa parte do problema fica mascarada pelo ganho de peso comum após os 40 anos – a famosa troca de músculo por gordura.
Com o tempo, porém, as complicações aparecem: dificuldade para subir uma escada, sentar e levantar, abaixar e pegar um objeto que caiu no chão… “Se não for contornada, a sarcopenia prejudica a capacidade de manter as atividades no dia a dia com independência, e chega a estágios em que propicia um maior risco de quedas e hospitalizações”, alerta Tiago Alexandre.
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abs
Carla
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