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sábado, 22 de maio de 2021

URINA NA DIÁLISE – FUNÇÃO RENAL RESIDUAL II

 Autor: Dra. Renata Campos

Nos pacientes em diálise, o acúmulo de sódio e de líquidos influencia bastante os níveis de pressão arterial. Quanto maior for a retenção de sal e água, maiores serão os valores apresentados pelo paciente.

Desta forma, enquanto os rins continuam capazes de eliminar pelo menos uma parte do excesso de sal e de líquidos através da urina, mais fácil é o controle da hipertensão arterial.

Menor ultrafiltração na dialise

A retirada de líquido pela diálise é chamada de ultrafiltração. Em geral, o paciente com doença renal crônica terminal ingere uma quantidade de líquidos maior do que é capaz de excretar. Sendo assim, a ultrafiltração nas sessões de hemodiálise e na diálise peritoneal são essenciais para controlar o volume de água no organismo.

Se o paciente ainda produz urina, não precisa contar tanto com a diálise para retirar o excesso de líquidos ingerido ao longo dos dias. Quanto maior for a função renal residual, menor será a taxa de ultrafiltração necessária em cada sessão.

Quanto menor for o volume de líquido ultrafiltrado em cada sessão de hemodiálise, mais “suave” será o tratamento. É preciso destacar que o paciente com rins funcionantes elimina água de forma constante. A bexiga está sempre em processo de enchimento. Já o paciente em hemodiálise que não mais urina só tem aquelas 4 horas de cada sessão para retirar o excesso de líquido.

Portanto, se o volume a ser ultrafiltrado nas sessões de hemodiálise for menor, isso significa menos chances do doente apresentar episódios de câimbras, mal-estar e hipotensão arterial, que pode levar à isquemia cerebral ou isquemia e arritmias cardíacas. Menos complicações na diálise significa melhor prognóstico.

Na diálise peritoneal, a retirada de líquidos está diretamente ligada à concentração de glicose nas bolsas de diálise. Quanto maior for a necessidade de ultrafiltrar, mais glicose será necessária nas bolsas. Assim sendo, pacientes que ainda urinam bem apresentam menor exposição do organismo e da membrana do seu peritônio à glicose, bem como menor ganho de peso, o que contribui para um melhor prognóstico global do paciente.   

Aumento da sobrevida

Vários estudos já demonstraram que existe uma relação direta entre a preservação da função renal residual e a sobrevida dos pacientes tanto em diálise peritoneal quanto em hemodiálise. 

Especificamente em relação à mortalidade cardiovascular, esta relação é inversa, ou seja, quanto maior é a função renal residual, menor é a mortalidade cardiovascular. 

Melhor controle metabólico

Pacientes com função renal residual em diálise apresentam menos anemia, menos doença óssea, valores mais controlados de ácido úrico e de colesterol, melhor estado nutricional e menor retenção de ácidos.

Menos risco de peritonite

Todos os pacientes que fazem diálise peritoneal correm risco de apresentar infecção da cavidade abdominal, chamada de peritonite. Por mecanismos não muito bem esclarecidos, pacientes com função renal residual têm menor risco de apresentar peritonite.

Menor risco de hospitalização

Em suma, todos os benefícios descritos acima traduzem-se em menores chances de complicações e consequentemente, de internação hospitalar. 

FATORES MODIFICÁVEIS QUE INFLUENCIAM A FUNÇÃO RENAL RESIDUAL

Por tudo que foi exposto acima, preservar ao máximo a função renal residual e a diurese na diálise tem grande importância no prognóstico a longo prazo do paciente com insuficiência renal terminal.

A perda da função renal residual é um processo progressivo e inexorável, mas que pode ser acelerado ou retardado dependendo de como o paciente é tratado pelo seu médico nefrologista.

Alguns fatores que podem influencia na função renal residual são:

Hipotensão arterial durante as sessões de diálise

Quando o paciente apresenta frequentemente queda da pressão arterial durante as sessões de hemodiálise, fato normalmente associado à elevada remoção de líquido durante o tratamento, pode haver redução da quantidade de sangue que chega aos rins e consequentemente perda de função renal.

De forma semelhante, os pacientes que fazem diálise peritoneal podem ficar desidratados se for necessária elevada taxa de ultrafiltração a cada troca de bolsa.

Hipertensão arterial não controlada

O descontrole agudo da pressão arterial pode adicionar mais lesão a um rim já doente em consequência de anos e décadas de hipertensão arterial mal controlada. Controlar a pressão durante as sessões de diálise, portanto, é essencial para preservar a função renal.

Uso de diuréticos

Os diuréticos ajudam a manter a eliminação renal de líquidos e caso não exista nenhuma contraindicação, devem ser mantidos mesmo se o paciente fizer diálise.

Eventualmente, haverá uma altura em que os rins já estarão muito comprometidos e não serão mais capazes de responder ao uso dos diuréticos. Nesta fase, a ausência de benefício aliada ao risco de efeitos colaterais justifica a sua interrupção.

Uso de IECA e ARA2

Nos pacientes hipertensos em diálise peritoneal ou hemodiálise, o uso de anti-hipertensivos das classes IECA ou ARA2, como enalapril, ramipril, losartan e irbesartan, parece desacelerar a perda da função renal residual, sendo estes considerados os medicamentos de escolha para controle da hipertensão arterial nos pacientes em diálise.

Uso de medicamentos nefrotóxicos

Se o paciente tem ainda função renal residual, deve-se fazer todo o possível para mantê-la.

Evitar fármacos nefrotóxicos, ou seja, medicamentos que sabidamente alteram a função renal, como os anti-inflamatórios, é uma das formas de prevenir a perda de função residual. 

Contraste iodado

O uso de contraste venoso à base de iodo para realização de exames radiológicos, como tomografia computadorizada ou angiografia, pode levar a comprometimento da função renal. Caso possível, os pacientes em diálise que ainda tenham função renal residual devem evitar submeter-se a este tipo de exame complementar.  


REFERÊNCIAS


Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico

abs

Carla

https://www.mdsaude.com/

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