Berna Almeida II
22/11/2023
Sou
médico aposentado e professor de medicina. E tenho Alzheimer. Antes do
meu diagnóstico, estava familiarizado com a doença, tratando pacientes
com Alzheimer durante anos.
Mas demorei para suspeitar da minha própria aflição.
Hoje,
sabendo que tenho a doença, consegui determinar quando ela começou, há
10 anos, quando estava com 76. Eu presidia um programa mensal de
palestras sobre ética médica e conhecia a maior parte dos oradores. Mas,
de repente, precisei recorrer ao material que já estava preparado para
fazer as apresentações.
Comecei então a esquecer nomes, mas nunca as
fisionomias. Esses lapsos são comuns em pessoas idosas, de modo que não
me preocupei.
Nos
anos seguintes, submeti-me a uma cirurgia das coronárias e mais tarde
tive dois pequenos derrames cerebrais.
Meu neurologista atribuiu os meus
problemas a esses derrames, mas minha mente continuou a deteriorar.
O
golpe final foi há um ano, quando estava recebendo uma menção honrosa no
hospital onde trabalhava. Levantei-me para agradecer e não consegui
dizer uma palavra sequer.
Minha
mulher insistiu para eu consultar um médico. Meu clínico-geral realizou
uma série de testes de memória em seu consultório e pediu depois uma
tomografia PET, que diagnostica a doença com 95% de precisão. Comecei a
ser medicado com Aricept, que tem muitos efeitos colaterais. Eu me
ressenti de dois deles: diarreia e perda de apetite.
Meu médico insistiu
para eu continuar. Os efeitos colaterais desapareceram e comecei a
tomar mais um medicamento, Namenda. Esses remédios, em muitos pacientes,
não surtem nenhum efeito. Fui um dos raros felizardos.
Em
dois meses, senti-me muito melhor e hoje quase voltei ao normal.
Demoramos muito tempo para compreender essa doença desde que Alois
Alzheimer, médico alemão, estabeleceu os primeiros elos, no início do
século 20, entre a demência e a presença de placas e emaranhados de
material desconhecido.
Hoje
sabemos que esse material é o acumulo de uma proteína chamada
beta-amiloide. A hipótese principal para o mecanismo da doença de
Alzheimer é que essa proteína se acumula nas células do cérebro,
provocando uma degeneração dos neurônios.
Hoje, há alguns produtos farmacêuticos para limpar essa proteína das células.
No
entanto, as placas de amiloide podem ser detectadas apenas numa
autópsia, de modo que são associadas apenas com pessoas que
desenvolveram plenamente a doença. Não sabemos se esses são os primeiros
indicadores biológicos da doença.
Mas
há muitas coisas que aprendemos. A partir da minha melhora, passei a
fazer uma lista de insights que gostaria de compartilhar com outras
pessoas que enfrentam problemas de memória: tenha sempre consigo um
caderninho de notas e escreva o que deseja lembrar mais tarde.
Quando
não conseguir lembrar de um nome, peça para que a pessoa o repita e
então escreva. Leia livros. Faça caminhadas. Dedique-se ao desenho e à
pintura.
Pratique
jardinagem. Faça quebra-cabeças e jogos. Experimente coisas novas.
Organize o seu dia. Adote uma dieta saudável, que inclua peixe duas
vezes por semana, frutas e legumes e vegetais, ácidos graxos ômega 3.
Não
se afaste dos amigos e da sua família. É um conselho que aprendi a
duras penas. Temendo que as pessoas se apiedassem de mim, procurei
manter a minha doença em segredo e isso significou me afastar das
pessoas que eu amava.
Mas agora me sinto gratificado ao ver como as
pessoas são tolerantes e como desejam ajudar.
A
doença afeta 1 a cada 8 pessoas com mais de 65 anos e quase a metade
dos que têm mais de 85. A previsão é de que o número de pessoas com
Alzheimer nos EUA dobre até 2030.
Sei
que, como qualquer outro ser humano, um dia vou morrer. Assim,
certifiquei-me dos documentos que necessitava examinar e assinar
enquanto ainda estou capaz e desperto, coisas como deixar recomendações
por escrito ou uma ordem para desligar os aparelhos quando não houver
chance de recuperação.
Procurei
assegurar que aqueles que amo saibam dos meus desejos. Quando não
souber mais quem sou, não reconhecer mais as pessoas ou estiver
incapacitado, sem nenhuma chance de melhora, quero apenas consolo e
cuidados paliativos.
Autor: Arthur Rivin (Clínico-Geral e é Professor Emérito da Universidade da Califórnia)
FONTE:https://web.facebook.com/groups/mentesedemencias/
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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