Contar com o apoio psicólogo é fundamental para que os jovens com câncer consigam processar a notícia e possam lidar e expressar o que estão sentindo
O emocional da criança com câncer, em meio a tratamentos, procedimentos médicos e mudanças na rotina, deve ser uma prioridade. Acontecem diversas transformações, tanto físicas, quanto mentais, e oferecer um espaço acolhedor e seguro pode impactar diretamente a forma que elas enfrentam este momento. É preciso olhar com atenção e levar a sério a saúde mental dos pequenos.
O primeiro ponto para cuidar do emocional das crianças com câncer é contar a elas, abertamente, sobre o diagnóstico e os procedimentos pelos quais ela irá passar.
“Sempre devemos comunicar à criança sobre sua condição e o que irá acontecer, apesar de não ser uma tarefa nada fácil. Ao manter uma comunicação clara, permitimos que a criança compreenda o que está acontecendo com ela e evitamos que ela crie ou fantasie situações que poderão potencializar angústia”, fala Roberta Medeiros, membro do Núcleo de Atenção ao Paciente Psicóloga do Instituto do Câncer Infantil.
Roberta ainda destaca que, ao fazer isso, os pais e a equipe médica mostram que a criança pode confiar neles, além de ensinar que é possível enfrentar as situações.
Não há um passo a passo definido sobre como ter essa conversa, mas é fundamental que seja um espaço seguro e acolhedor e, preferencialmente, que alguém próximo ao paciente dê a notícia. Também é importante que, quem for dar a notícia, esteja o mais calmo possível e aberto a responder as dúvidas que a criança possa ter.
“A linguagem utilizada precisa ser simples e clara, evitar termos técnicos e, se for necessário, pode-se utilizar recursos lúdicos, como bonecos, por exemplo. É muito importante validar e nomear os sentimentos das crianças, pois nesse momento é natural que ela sinta medo, insegurança, raiva”, Roberta aconselha.
Questões emocionais que podem aparecer nas crianças com câncer
Taliah Barros de Paula, psicóloga do Hospital Itaci e especialista em Psicologia da Saúde com ênfase em Oncologia pediátrica pela Unifesp, descreve que os pequenos costumam passar por questões relacionadas à autoestima, às mudanças no corpo e às limitações no correr, brincar e socializar.
“Eles também passam por um impacto emocional, como os medos dos procedimentos invasivos, a ansiedade pelo término do tratamento, a insegurança e o medo de não conseguir mais ter a vida que se tinha antes, a dificuldade em fazer planos, o medo dos efeitos do tratamento e o próprio medo da morte (causador de grande angústia na maioria das pessoas)”, Taliah complementa.
Vale saber que essas questões podem aparecer em diferentes momentos do tratamento, indo desde o diagnóstico, passando pela duração dos procedimentos e após o término das terapias.
Por isso, é muito importante que os pais/responsáveis pelo paciente estejam atentos a forma que ele age e aos sentimentos que expressa.
“O importante é observar como a criança ou adolescente vem lidando com esse momento, estabelecer um diálogo, dentro da linguagem de cada família, sobre a doença e tratamento, estando atento ao que o paciente demonstra querer saber e oferecendo um espaço para escutá-lo. Não só a família, como a equipe também pode identificar a necessidade de um acompanhamento psicológico e procurar ajuda”, a psico-oncologista infantil diz.
Benefícios do acompanhamento psicológico para crianças com câncer
A psicologia infantil desempenha um papel crucial na redução de traumas emocionais associados ao tratamento do câncer. Contar com um profissional da área, permite que a criança entenda o que ela está sentindo, consiga nomear esses sentimentos e os expresse, auxiliando no reconhecimento e compreensão de si mesmos e tornando-os mais ativos.
“Essa abertura para essas questões é importante para que a criança ou adolescente formule a sua compreensão da doença, expresse os seus medos, dúvidas e inseguranças, além dos outros sentimentos que a doença e tratamento podem gerar”, Taliah explica.
Ela também comenta que ainda existe um grande tabu sobre a saúde mental, ainda mais quando se trata de crianças e adolescentes. Por exemplo, há uma crença que a depressão infantil não existe, porém isso não é verdade, inclusive, essa crença torna mais difícil diagnosticar e tratar o quadro. Além disso, o silêncio faz com que os pacientes jovens tenham mais dificuldade e angústia por não terem com quem conversar sobre seus sentimentos e emoções.
“Cada vez mais se mostra importante falar sobre esse assunto, criar espaços para essa comunicação, essas trocas entre eles, inclusive como uma medida preventiva de transtornos mentais mais graves”, a psicóloga alerta.
Em alguns casos, um psiquiatra pode indicar o uso de medicações para oferecer suporte a episódios depressivos e também de ansiedade que podem surgir ao longo da jornada.
De acordo com Taliah, “os cuidados com essas medicações são os mesmos que para qualquer outra, principalmente a supervisão de um adulto para sua administração, lembrando que mesmo os adolescentes necessitam desse suporte para qualquer medicamento. Também é importante que se estabeleça uma comunicação com a criança ou adolescente sobre o medicamento, sua necessidade e seus efeitos, contribuindo para torná-los mais ativos no seu tratamento.”
Papel dos pais/responsáveis no cuidado do emocional da criança com câncer
No acompanhamento psicológico, a interação ocorre, principalmente, com o paciente, que, neste caso, é a criança ou adolescente. Mas, geralmente, em especial nas primeiras sessões, os pais/responsáveis também estão presentes e isso acontece por alguns motivos.
O primeiro deles é para que os adultos possam compartilhar com o psicólogo quais são as questões que os preocupam. Ou seja, se estão percebendo a criança triste, ansiosa, com dificuldades por conta da autoestima etc.
O segundo motivo é para que o profissional, ao identificar as questões trazidas pelos pais/responsáveis, consiga separar quais as demandas vêm deles e quais são as preocupações que a criança, de fato, tem.
Já a terceira razão é porque, especialmente quando se trata de crianças mais novas, a forma que os pais/responsáveis enxergam o diagnóstico e o tratamento pode influenciar diretamente na forma que o paciente irá enxergar. Então, os medos e preocupações dos adultos podem se tornar os medos e preocupações da criança.
“Os pais são figuras extremamente importantes no tratamento dos filhos, porque também são narradores para as crianças do que se passa com ela e a ajudam a construir a narrativa sobre a doença e o tratamento. Sendo que essa realidade também os atravessa e, para o acompanhamento psicológico da criança, é necessário compreender a posição de cada um deles nesse momento, como o diagnóstico e tratamento afetou a dinâmica familiar e consequentemente a relação deles com o filho”, a psico-oncologista infantil afirma.
E por último, justamente por ser um momento que pode gerar medo e angústia para os pais/responsáveis, essa também pode ser uma oportunidade para que eles sejam encaminhados para um acompanhamento psicológico.
“Dependendo
do caso, faz-se necessário um acolhimento dessas demandas dos pais para
posterior encaminhamento deles para a psicoterapia, uma vez que também
podem encontrar-se em um momento de extrema angústia”, Taliah Barros de
Paula finaliza.
FONTE: https://revista.abrale.org.br/saude/2024/02/o-que-acontece-quando-a-leucemia-atinge-outros-orgaos/
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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