5 de novembro de 2018
Doença assintomática pode acometer também grávidas com peso ideal – Photo by William Stitt on Unsplash
A gravidez é, sem dúvidas, um momento muito especial na vida da mulher, mas é também um período que necessita de atenção redobrada. É nesse período que o organismo da mulher sofre mudanças consideráveis para a geração do bebê. Em função da alteração de alguns hormônios que agem de forma contrária à insulina e predispõem ao aumento da glicose no sangue, pode ocorrer um estado de “resistência insulínica”, conhecido como diabetes gestacional. Essa é a doença metabólica mais comum na gravidez e, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, atinge até 25% das mulheres gestantes no mundo.
Segundo a médica endocrinologista Fernanda Braga, a doença não possui sintomas, mas o excesso de peso, idade maior que 25 anos, além de histórico familiar de diabetes, são condições que elevam os riscos. O antecedente obstétrico de macrossomia ou morte fetal e sobrepeso pré-gestação também são fatores de risco.
A doença é caracterizada por um aumento da glicemia que ocorre durante a gravidez em pacientes que previamente não tinham diabetes, o que pode ser transitória ou não. “Esse desequilíbrio pode trazer complicações tanto para o feto como para a mãe, caso não seja feito diagnóstico e tratamento adequados. Por isso toda gestante deve ser investigada, até as que não sofrem com sobrepeso, porque a gravidez é diabetogênica, ou seja, é um fator causador de diabetes”, explica.
O diagnóstico é feito com exames de sangue para avaliar a glicemia de jejum logo no começo da gestação. De acordo com a especialista, dependendo do nível, já é possível diagnosticar o diabetes gestacional, mas não é muito comum. “Mesmo que o resultado seja normal, entre 24 e 28 semanas toda gestante precisa fazer o exame de curva glicêmica. Também deve ser feito o teste de tolerância oral à glicose que, normalmente, é quando conseguimos fazer o diagnóstico da maioria, já que nessa fase da gestação aumenta-se a resistência à insulina”, pontua Fernanda.
O tratamento é extremamente eficaz e seguro quando a gestante faz o acompanhamento correto com o médico endocrinologista, cumprindo metas glicêmicas e fazendo a automonitoração. “Somos muito rigorosos com essas metas que estão relacionados aos desfechos finais: não ter complicação. Caso não haja controle adequado podem haver complicações tanto para a mãe como para o bebê”, observa a endocrinologista.
CONSEQUÊNCIAS NA GESTAÇÃO
De acordo com Fernanda, no primeiro trimestre os riscos de malformações se elevam porque a hiperglicemia tem efeito tóxico para o feto, principalmente na organogênese. No segundo e terceiro trimestres, pode ocorrer macrossomia fetal, ou seja, excesso de peso do feto, que pode levar a dificuldades no trabalho de parto, além de hipoglicemia neonatal. O diabetes também traz riscos de aborto espontâneo, dificuldades no trabalho de parto, risco do bebê e da mãe desenvolverem obesidade, além de síndrome metabólica no futuro. “Com a doença, a mãe tem mais chances de complicações médicas e obstétricas como hipertensão, pré-eclâmpsia, parto prematuro e infecções do trato urinário”, esclarece.
Quanto aos cuidados que a gestante deve adotar quando acometida pela doença, destacam-se o acompanhamento rigoroso com endocrinologista e nutricionista quando necessário para manter uma alimentação equilibrada. Recomenda-se também fazer ultrassom nos períodos certos para acompanhamento do peso do feto, fazer a automonitoração (medir as glicemias antes de comer e uma hora após) e, quando houver necessidade de tratamento com insulina para o controle, usar a dose correta. “Não existem restrições quanto a atividades físicas, pelo contrário, na verdade a indicação é fazer, exceto em casos de contraindicação pelo obstetra, a partir de outras razões, como um descolamento de placenta, por exemplo”, elucida a médica.
“A paciente que já possui diabetes precisa ter um controle ainda mais rigoroso quando começar a planejar a gravidez, para já engravidar com hemoglobina ‘glicada’ dentro da meta, como chamamos no consultório. E dentro do exame, principalmente nessa primeira glicemia de jejum, conseguimos distinguir pelos níveis se é um diabetes tipo 2, que ela já tinha, ou se é um diabetes gestacional, em função da diferença dos níveis”, finaliza a endocrinologista.
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