O desafio de identificar e dar atenção às crianças que ainda não tem autonomia para o autocuidado do diabetes.
Estima-se que mais de 30 mil brasileiros sejam portadores de diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e que o Brasil ocupe o terceiro lugar em prevalência de DM1 no mundo (SBD, 2018). Estudos epidemiológicos têm registrado mundialmente um aumento em 3% do DM1 ocorrendo em indivíduos em idades mais novas nos últimos 50 anos, com maior aumento na incidência entre crianças menores de cinco anos de idade.
Segundo pesquisa, publicada na revista Lancet (2009), na Europa o número de crianças com DM1 menores de cinco anos pode dobrar até 2020, em comparação com 2005.
Outros dados apontam que 4% de todas as crianças diagnosticadas com DM1 têm menos de dois anos de idade.
O fato é que precisamos reconhecer que essas crianças e jovens precisam ser atendidos e respeitados em suas necessidades de acesso aos cuidados de saúde, educação (incluindo educação em saúde), integração e inclusão social.
Para as famílias há um choque no diagnóstico do DM1 em crianças e jovens por conta da falta de informação a respeito dessa condição e a necessidade imediata de cuidados e mudanças na rotina. Para as equipes escolares também há um estranhamento e insegurança diante do desconhecido.
Todos os envolvidos na vida de quem DM1, de certa forma, exercem alguma influência ou participação nas mudanças, adaptações, que vão além da rotina alimentar, aplicações de insulina e monitorização da glicemia. É notória a necessidade de mudança na disposição de aprender sobre DM1 e compreender o que de fato é essa condição. De aceitar que para sobreviver com DM1 é necessário educação, apoio, aceitação e acesso ao tratamento integral.
Gostaria de deixar aqui algumas informações importantes sobre o diabetes em crianças menores de 5 anos pois essas crianças dependem de TODOS à volta delas e essas informações podem ajudar. ;-)
Como identificar os sintomas de Diabetes Mellitus em bebês
Em lactentes ou crianças que ainda usam fraldas, os sintomas apresentados costumam ser:
- Irritabilidade,
- Muito choro
- Sede excessiva. Os bebês em aleitamento materno exclusivo querem mamar toda hora - assim como os que fazem uso da mamadeira - para matar a sede.
- Aumento da frequência do xixi por conta do aumento do volume de líquido que o bebê consome - troca de fraldas mais frequente.
- Falta de ganho de peso, mesmo mamando mais.
- Dermatite de fralda, ocasionada pela maior incidência de fungos na região genital, causando assaduras que não se resolvem de maneira normal.
Caso os sintomas sejam percebidos na creche/escola, a unidade educacional deve alertar aos pais/ responsáveis que devem procurar com urgência atendimento médico pois o quadro poder evoluir para vômitos, diarreia, desidratação, respiração ofegante, desmaios, coma e até óbito se não houver pronto-atendimento adequado.
Como o diabetes poderá ser diagnosticado em bebês
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SMEMSP) explica que durante consulta de rotina ou visita a um pronto socorro por causa de um quadro viral, por exemplo, que apresenta vômito e diarreia, basta o médico pedir um exame de glicemia capilar (aquele da gotinha de sangue da ponta do dedo) e unir o resultado da glicemia ao histórico dos sintomas acima descritos para diagnosticar o diabetes e, caso o diagnóstico seja positivo, iniciar o tratamento mais adequado para o controle da glicemia.
Como deve ser feita a monitorização da glicemia em crianças abaixo de 5 anos
É feita da mesma forma como em crianças maiores, ou seja, com exame da glicemia capilar (teste de ponta de dedo) frequente e hemoglobina glicada a cada 3 meses. Também é possível monitorar a glicemia continuamente com os sensores de glicose intersticial. Muitas crianças utilizam o free style libre sensor de glicose intersticial que não necessita calibração, já liberado para crianças acima de quatro anos também.
Além disso, é importante realizar exames que avaliam risco de alterações da tireoide e doença celíaca.
A curva de crescimento da criança é um parâmetro importantíssimo que deve estar compatível com a faixa etária. Ou seja, mesmo tendo DM1, a criança precisa se alimentar de maneira adequada, receber os cuidados necessários para ter uma glicemia dentro dos padrões de normalidade permitindo que ela realize todas as atividades que contribuem com seu desenvolvimento.
Qual o tipo mais adequado de medicação para o tratamento de crianças abaixo de 5 anos com DM1?
A única medicação para o tratamento de diabetes mellitus tipo 1 é a insulina. Há pessoas que logo na fase inicial do diagnóstico de DM1 apresentam uma característica onde algumas células do pâncreas ainda produzem um pouco de insulina, então, o corpo consegue, ainda que temporariamente, manter o fornecimento de parte da necessidade de insulina. Essa fase é chamada de “lua de mel” do diabetes e pode durar algumas semanas ou meses. Nesse período a pessoa pode conseguir manter a glicemia em níveis desejáveis com menos aplicações de insulinas ou nenhuma.
Essa fase não se repete, ou seja, não há outro período de lua de mel do diabetes ou outro momento em que as células produzam insulina no DM1. Após o fim da fase de lua de mel do diabetes é quando ocorre a falência total das células do pâncreas produtoras de insulina sempre será necessária a aplicação de insulina para suprir as necessidades individuais e controlar a glicemia.
Há diversos tipos de insulina no mercado. O SUS atualmente disponibiliza insulina NPH e regular e, em alguns casos, após ação administrativa ou judicial, também disponibiliza insulinas análogas. Estamos aguardando a disponibilização pelo SUS para todas as crianças e adolescentes que tenham a prescrição médica de insulinas análogas, uma vez que são consideradas insulinas mais adequadas para o tratamento do DM1 nessa população segundo entidades médicas.
De acordo com a SBEMSP e SBD a terapêutica ideal nas crianças com menos de quatro anos é a utilização da bomba de infusão de insulina, uma vez que elas precisam de doses muito pequenas de insulina, que as seringas comuns não conseguem prover. A grande dificuldade é que essas crianças pequenas têm uma sensibilidade muito grande à insulina, ou seja, uma unidade de insulina é capaz de diminuir a glicemia capilar entre 200 a 350mg/dL. Por isso que as quantidades aplicadas, normalmente em valores decimais, geralmente menores que 0,5U, só podem ser obtidas de maneira satisfatória com uso da bomba de infusão.
A bomba que tem sensor de glicemia integrado tem grande vantagem por aliar a facilidade de aplicar doses pequenas de insulina com a monitorização contínua da glicemia, o que pode ajudar quanto à grande queixa dos pais, que é sempre a preocupação com o risco de hipoglicemia (níveis muito baixos de açúcar no sangue) durante a madrugada. “Nesta faixa etária, não há dúvidas de que bombas de insulina e monitorização contínua sejam o melhor tratamento”, completa Dr. Krakauer, endocrinologista especializado em tecnologias aplicadas ao diabetes.
Para quem não tem condições de fazer uso dessas bombas, as insulinas de eleição são as insulinas análogas basais (Glargina/Lantus, Detemir/Levemir e mais recentemente Degludeca/Tresiba) aplicando as insulinas rápidas (Lispro/Humalog, Aspart/Novorapid, Glulisina/Apidra), disponíveis também em alguns estados brasileiros no serviço público. Quando isso não é possível, utiliza-se a insulina NPH, (que é uma insulina intermediária cujo controle glicêmico é mais difícil de ser feito), aplicando as insulinas análogas rápidas às refeições.
O ideal é o uso de canetas aplicadoras de 0,5 UI, porém nem todas as marcas estão disponíveis para venda no Brasil. Há no mercado seringas para insulina com gradação de 0,5 UI, porém muitos relatam dificuldades de encontrar.
O que muda na alimentação?
As orientações alimentares para bebês e crianças com DM1 são as mesmas que para crianças que não tem diabetes. O diabetes não interfere nas necessidades nutricionais das crianças, apenas demanda uma atenção maior para que haja uma sincronia entre a alimentação a insulina aplicada para manter a glicemia controlada, e as mudanças nos níveis de atividade física, que também impactam na glicemia. A alimentação, seja por aleitamento materno exclusivo, seja na fase da introdução de alimentos sólidos ou na alimentação convencional precisa suprir as necessidades individuais em qualidade e quantidade.
"A alimentação está diretamente relacionada com questões psicossociais e culturais, sendo, portanto, necessário que essas abordagens estejam inseridas no processo educativo".(SBD)
Evitar o consumo de alimentos ultra processados e alimentos ricos em gorduras, sódio e açúcares é uma recomendação alimentar para todas as crianças, não apenas para as que tem DM1. Para quem DM1 isso contribui com o controle da glicemia e manutenção da saúde. Para quem não tem, isso auxilia na prevenção de doenças e contribui com a manutenção da saúde.
No DM1 a contagem de carboidratos presente em cada refeição, o conhecimento da sensibilidade individual à insulina e a administração adequada da medicação são fundamentais para manter o controle glicêmico após consumo alimentar. Não importa o dia ou ocasião.
Então, crianças com DM1 podem sim consumir docinhos, pão ou bata frita, da maneira como todas as crianças deveriam consumir: moderadamente e dentro de um contexto saudável. Só que crianças com DM1 precisam medir a glicemia antes de comer e aplicar insulina logo após o consumo alimentar e verificar a glicemia 2 horas após a refeição novamente.
A rotina na alimentação, horários pré estabelecidos para as refeições e demais atividades, contribui para um melhor controle da glicemia e para o desenvolvimento da criança. Evitar intervalos muito longos sem se alimentar e evitar "beliscar algo" toda hora também é importante.
A educação em diabetes voltada para crianças deve fundamentar-se
na motivação -desejo e necessidade de aprender sobre a doença,
no contexto - idade e maturidade,
na interatividade - atividade interessante e lúdica,
na significância - importância do assunto,
na progressividade - do simples para o complexo, em etapas,
no dinamismo - interatividade e prática,
no reforço - metas e solução de problemas,
bem como na reavaliação, na evolução e na educação sempre continuada(SBD,2018).
No caso específico da educação de indivíduos com diabetes tipo 1 e, em especial, de crianças com diabetes, o foco deve ser o alcance da independência e autonomia necessárias, próprias a cada faixa etária.
Bebês precisarão de acompanhamento constante de adultos para todas as atividades relacionadas ao seu cuidado.
A capacitação de profissionais de saúde e de educação para conseguirem identificar sinais e sintomas de alterações na glicemia em bebê ou criança que não saiba ainda descrever o que sente é fundamental para que possam agir adequadamente e evitar quadros de emergência médica.
A escola pode exercer um papel importantíssimo no encorajamento de todos para hábitos saudáveis desde a primeira infância (alimentação, prática de atividades físicas e recreativas, interação, respeito ao semelhante). Informação atualizada para a equipe escolar, bem como para o corpo discente, sobre não apenas diabetes, diabetes tipo 1 e suas peculiaridades , mas todos os desafios de saúde que envolvam ou possam envolver o grupo podem integrar, como tema transversal, as disciplinas e atividades.
Assim os temas poderão ser vistos e abordados de forma mais adequada e eficaz na escola, sem os mitos e insegurança que a falta de informação reproduz e com o potencial de engajamento e soluções de problemas muito maior.
Os desafios são tão grandes quanto a insegurança ou sentimento de impotência que há às vezes. Mas a educação ilumina o entendimento e nos faz sentir ainda mais capazes de ajudar, de amparar, de compreender e apoiar.
"O melhor amigo do diabetes é o conhecimento aliado à informação de qualidade.”
(Marcio Krakauer, médico endocrinologista).
Que possamos aproveitar ao máximo as informações de educação em diabetes disponíveis e oferecer de maneira segura e adequada atenção e integração para as crianças com DM1.
Por favor, deixe seu comentário, sua dúvida, sua vivencia. Compartilhe esse post com quem você acredite que possa ajudar. Vai ser importante.
Muito obrigada e até a próxima.
Fontes:
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
https://abccomdiabetes.wixsite.com/abccomdiabetes/blog/diabetes-em-beb%C3%AAs-e-crian%C3%A7as-menores-de-5-anos?fbclid=IwAR2eX_t7E_dxz94O3vykVXEQ13drrcL4AAdj4v5zJZ0Mk-TtR3A2p3KCtwE
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vc é muito importante para mim, gostaria muito de saber quem é vc, e sua opinião sobre o meu blog,
bjs, Carla