Publicado em
19/03/2020
Com cerca de 570 mil novos casos registrados em 2018 no mundo, o câncer de colo de útero representa 7,5% das mortes femininas por cânceres, com a estimativa de 311 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Um detalhe importante: mais de 85% das mortes por câncer de colo de útero acontecem em regiões menos desenvolvidas do mundo. A OMS defende que a alta mortalidade pela doença em todo o mundo poderia ser reduzida com programas eficazes de triagem e tratamento.
“É um impacto global de um tumor evitável. Não é para acontecer”, destaca a oncologista Juliana Pimenta, membro do comitê científico do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). “Infelizmente a gente não consegue evitar a maior parte dos tumores, mas o câncer de colo de útero é evitável. Com vacinação contra HPV nas crianças e realização de papanicolau de forma adequada conseguimos evitar”.
Conforme a OMS, o tratamento precoce previne até 80% do câncer do colo de útero onde existem programas em que as mulheres são examinadas, identificando a maior parte das lesões pré-cancerosas em estágios iniciais, quando são facilmente tratadas.
Juliana Pimenta explica que nos lugares onde há rastreamento adequado e os exames são realizados seguindo as orientações, é possível prevenir. “Na maioria das vezes o exame diagnostica uma lesão pré-maligna, que é tratada e não vira um câncer. Nos lugares onde não são feitos os exames de forma rotineira e adequada, têm incidência maior de câncer de colo de útero. É triste que a gente tenha diagnóstico em fases tão tardias nos países menos desenvolvidos”, lamenta. O papanicolau é o exame que auxilia o diagnóstico desse tumor e quando é necessário, se há uma lesão suspeita, por exemplo, a indicação é realizar colposcopia com biópsia.
No Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o número de novos casos estimados para o triênio 2020-2022 é de 16.590 por ano. Enquanto no mundo o câncer de colo de útero é o quarto tipo de tumor mais frequente nas mulheres, no Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, há regiões em que esse índice prevalece, mas em outros a situação fica bem pior. Esse tipo de tumor também é o quarto mais frequente na Região Sul e ocupa a quinta posição na Região Sudeste. Já no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, é o segundo tipo de tumor mais incidente. A OMS avisa que o câncer de colo de útero é o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões menos desenvolvidas do mundo.
Por que temos no Brasil índices do tumor equivalentes a países mais desenvolvidos e taxas de países subdesenvolvidos?
Quanto às diferenças de índices dentro do Brasil, com regiões em que o tumor fica em segundo lugar nas taxas de incidência e outras em quarto e quinto, a médica acredita que esse cenário é um pouco reflexo do que acontece no mundo, relacionado em parte com o acesso aos exames de rastreamento para prevenir a doença. “Se formos comparar, em países desenvolvidos, como Estados Unidos e alguns locais da Europa, o câncer de colo de útero não é uma realidade tão preocupante e a incidência é muito inferior”.
A oncologista atribui os índices à dificuldade do acesso, que faz com que as mulheres acabem indo menos ao ginecologista para fazer check-up e em alguns casos fazem o exame e não vão pegar o resultado. Ela chama atenção também para as diferenças que existem não apenas de uma região para outra, mas na comparação entre o serviço público e privado. “É mais difícil no setor privado atender pacientes com câncer de colo de útero, enquanto no SUS é muito mais frequente, porque no serviço privado é comum as mulheres fazerem papanicolau de rotina e acompanhamento com ginecologista”.
Desinformação e preconceito
Para Juliana, além das dificuldades para acesso aos exames, outros fatores que dificultam melhorar os índices são a falta de informação e o preconceito. “Diferentemente do câncer de mama, em que se faz campanha, fala-se muito de prevenção e check-up para diagnóstico precoce, acredito que existe preconceito em cima do câncer de colo de útero e, por isso, acaba se falando menos do que se deveria”, avalia.
O câncer de colo de útero é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano – HPV. A maior parte dessas infecções se curam sozinhas, mas em alguns casos podem se tornar crônicas e lesões pré-cancerosas que se não diagnosticadas a tempo têm risco de evoluir para um câncer invasivo.
O preconceito, conforme Juliana, acontece porque o HPV está bastante associado à atividade sexual, já que é sexualmente transmitido. Esse preconceito dificulta a vacinação contra a doença, uma importante ferramenta de prevenção não apenas contra o câncer de colo de útero, mas também de cabeça e pescoço, canal anal e de pênis. “Estima-se que mais ou menos 50% a 70% das mulheres vão ter contato com HPV durante a vida, mas a maioria das pessoas elimina o vírus e não desenvolve nenhuma lesão associada a ele. Mas tem uma minoria, que a gente não sabe quem vai ser, que irá desenvolver lesões pré-malignas, que podem se desenvolver para um câncer”.
A oncologista destaca que para as crianças que são vacinadas, a chance de desenvolver esse tumor cai drasticamente. “Não zera, mas cai muito. Por não zerar, ainda é indicado fazer o papanicolau, porque a vacinação não inclui todos os vírus que são os HPVs, mas abrange os que são mais associados ao câncer de colo de útero”, diz. “Você vacina, continua fazendo papanicolau e a chance de vir a ter câncer de colo de útero despenca”.
Saiba mais sobre a vacina de HPV
Tratamentos
Os principais tratamentos para o câncer de colo de útero, conforme Juliana, são quimioterapia e radioterapia, além da cirurgia. “Para a doença mais avançada, a situação é complicada. Há estudos com imunoterapia já aprovados nos Estados Unidos, mas que não estão aprovados no Brasil. Temos protocolo de pesquisa com imunoterapia no país, mas nossas opções terapêuticas para quem tem doença avançada, metastática, são limitadas. Temos que evitar que chegue nesse nível”, alerta a médica.
Taís Araújo apoia conscientização
O Instituto Vencer o Câncer está divulgando em março a campanha de prevenção ao câncer colo de útero. Entre as ações, lançou um vídeo em que o oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC, conversa com a atriz Taís Araújo, da novela Amor de mãe, onde eles falam sobre esse tipo de tumor, dados mundiais, a importância da vacinação e sobre os cuidados para a saúde da mulher.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
https://vencerocancer.org.br/
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