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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Dispneia: denominações especiais


 4 anos atrás

 por Beatriz Pêgo

Introdução

Ortopneia, dispneia paroxística noturna, platipneia, trepopneia… Quem nunca ouviu esses termos nos rounds e no dia- a- dia nas enfermarias e ambulatórios? Quem nunca confundiu um termo com outro, ou teve aquele “branco” quando estava escrevendo no prontuário e queria caracterizar a dispneia? Por isso, neste artigo vamos abordar as principais denominações especiais para a dispneia, as quais são extremamente importantes na prática clínica.

Afinal, o que é a dispneia?

Dispneia é o termo empregado para designar a sensação de dificuldade respiratória experimentada por pacientes acometidos por doenças variadas, bem como por indivíduos sadios, quando se encontram em condições de exercício extremo. Ela é um sintoma muito comum na prática médica, sendo particularmente referida por indivíduos com patologias dos aparelhos respiratório e cardiovascular.

E por que é tão importante entendermos os conceitos relacionados a dispneia?

Isso se torna essencial porque a dispneia é um sintoma bastante comum na prática médica, além de ser uma queixa frequente de pacientes. Somado a isso, a dispneia tem a capacidade de piorar consideravelmente a qualidade de vida dos indivíduos, e é considerada o principal fator limitante da qualidade de vida relacionada à saúde de pacientes pneumopatas crônicos.

Os mecanismos envolvidos no surgimento da dispneia

A experiência de dispneia provavelmente resulta de uma complexa interação entre a estimulação de quimiorreceptores, as alterações mecânicas na respiração e a percepção dessas anormalidades pelo sistema nervoso central. Alguns autores defenderam que há uma espécie de desacoplamento neuro-mecânico, proveniente do desequilíbrio entre a estimulação neurológica e as alterações mecânicas no pulmão e na parede torácica. No entanto, apesar de sua importância inegável, nem todos os mecanismos envolvidos com o surgimento da dispneia são completamente conhecidos e ainda  há muito o que aprendermos.

E os termos descritivos de condições específicas? Quais são eles?

No contexto clínico de pacientes com dispneia, são utilizados com muita frequência termos descritivos de condições específicas. Vamos entender o significado de cada um deles?

Dispnéia de Esforço

O termo dispneia de esforço é utilizado quando se quer descrever a sensação de dispneia que surge ou que é agravada devido à execução de atividades físicas. Trata- se de uma queixa bastante comum- porém inespecífica- presente principalmente entre os pacientes portadores de pneumopatias e de cardiopatias.

Se um paciente não tem doenças conhecidas, porém apresenta dispneia de esforço, isso pode ser um sinal de alerta para um problema em desenvolvimento, o qual necessita ser investigado. Por outro lado, em pacientes submetidos ao tratamento para doenças como cardipatias e/ ou pneumopatias, a dispneia após o esforço pode ser um sinal de que o tratamento do paciente não está sendo suficientemente eficaz e de que precisa ser adaptado.

Ortopneia

Ortopneia é a denominação dada ao surgimento ou ao agravamento da sensação de dispneia gerada a partir da adoção da posição horizontal, como por exemplo, quando nos deitamos para dormir. Nesse contexto, observa- se que o sintoma tende a ser aliviado, parcial ou totalmente, com a elevação da porção superior do tórax pelo uso de um número maior de travesseiros ou pela elevação da cabeceira da cama. Classicamente, a ortopneia surge em pacientes portadores de insuficiência cardíaca esquerda e, nesse caso, é geralmente associada com o estabelecimento de congestão pulmonar.

E por que a congestão pulmonar cursa com a ortopneia?

O que ocorre nessas condições é que a presença de congestão pulmonar promove rápidas alterações da complacência pulmonar, gerando, consequentemente, o aumento do trabalho dos músculos respiratórios e, por isso o surgimento de dispneia. Tal queda da complacência pulmonar é atribuída a elevações da pressão hidrostática intravascular- coluna de sangue situada abaixo do nível cardíaco- nas regiões dependentes do pulmão, que acabam por ocupar áreas mais extensas, quando a posição deitada é assumida.

Embora mais frequente em pacientes portadores de insuficiência cardíaca, a ortopneia também pode ser observada em pacientes com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e consiste em uma queixa característica de indivíduos portadores de fraqueza da musculatura diafragmática como, por exemplo, pacientes com doenças neuromusculares. Nessa situação, no entanto, o mecanismo que gera a ortopneia é distinto, já que, nesse caso, o decúbito dorsal leva à elevação das vísceras abdominais, que acabam por se opor às incursões inspiratórias diafragmáticas.

Dispnéia paroxística noturna (DPN)

A DPN é o nome dado à situação na qual o paciente tem seu sono interrompido por uma sensação súbita de falta de ar, a qual tende a causar tanto desconforto que geralmente o obriga a sentar- se no leito, ou mesmo a levantar-se e procurar uma área da casa mais ventilada, visando a obter alívio da súbita sensação de sufocamento. Nesses casos, é comum que a sensação de dispneia venha em associação com sudorese profusa.

A dispneia paroxística noturna é uma condição comum em pacientes portadores de insuficiência cardíaca esquerda. Nesse contexto, admite-se que, durante o sono, a reabsorção do edema periférico leve à hipervolemia sistêmica e pulmonar e, por conseguinte, ao agravamento da congestão pulmonar. As sobrecargas hemodinâmicas, que ocorrem em uma fase particular do sono- na fase dos movimentos rápidos dos olhos, ou sono REM- podem contribuir para o agravamento da congestão pulmonar e facilitar o surgimento desse tipo de dispneia. Isso porque, no sono REM, observa- se grande estimulação dos nervos simpáticos sobre o sistema cardiovascular.

Platipneia

A platipneia é o nome dado à sensação de dispneia, que surge ou que se agrava com a adoção da posição ortostática, em geral em pé. Classicamente, esse fenômeno ocorre em pacientes com quadros de pericardite ou na presença de shunts direito-esquerdos. Em geral, nesses caso a platipneia pode vir associada a ortodeoxia, o que se traduz em queda acentuada da saturação arterial de oxigênio com a posição em pé. Vale mencionar também que a platipneia e a ortodeoxia são achados clássicos da síndrome hepato- pulmonar, a qual é estabelecida de forma secundária à presença de dilatações vasculares intrapulmonares.

Trepopneia

A trepopneia consiste na sensação de dispneia que surge ou piora ao se adotar uma posição lateral, e desaparece ou melhora quando se institui o decúbito lateral oposto. É uma queixa dotada de inespecificidade, a qual pode surgir em qualquer doença em que haja comprometimento de um pulmão mais intensamente do que de outro. Dentre os exemplos dessa condição, podem ser mencionados a ocorrência de derrame pleural unilateral ou a paralisia diafragmática unilateral.

Asma cardíaca

Asma cardíaca? Que termo estranho, não acha?

Na realidade, a nomenclatura asma cardíaca consiste é de fato um termo inapropriado. No entanto, esse termo é frequentemente utilizado para designar a queixa de “chiado no peito” e a presença de sibilos em pacientes com insuficiência cardíaca esquerda e que apresentam sintomas de dispneia. De forma geral, os pacientes com essas queixas podem referir também ortopneia e dispneia paroxística noturna.

A gênese da asma cardíaca

Admite-se que o estreitamento das pequenas vias aéreas por edema da mucosa e reflexos gerados a partir de receptores nervosos, localizados no interstício pulmonar, com consequente broncoespasmo, estejam envolvidos na gênese de tais fenômenos.

 

 

 

 





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abs

Carla

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