Publicado: Segunda, 14 de Junho de 2021, 14h36
O Dia Mundial do Doador de Sangue é comemorado anualmente em 14 de junho. A data foi criada por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, e o dia escolhido é uma homenagem ao nascimento de Karl Landsteiner, imunologista austríaco que descobriu o fator Rh e as várias diferenças entre os tipos sanguíneos.
O sistema ABO são classificações do sangue humano nos quatro tipos existentes: A, B, AB e O. Enquanto que o Fator Rh é um grupo de antígenos que determina se o sangue possui o Rh positivo ou negativo. (Fonte: Toda Matéria)
Práticas transfusionais de sangue
Podemos dividir a história da hemoterapia em três momentos: o período místico, o científico e a Nova Era.
O sangue sempre despertou curiosidade seja pelo aspecto científico como místico. No período místico era frequente guerreiros que bebiam o sangue de animais acreditando que poderiam adquirir a sua força. No antigo Egito era prática espalhar sangue de animais sacrificados, com a finalidade de aumentar a fertilidade do solo. O período científico deu início com as pesquisas realizadas por Willian Harvey em 1527 e que resultou na publicação da obra “Os Movimentos de Coração e do Sangue” em 1628. Entre 1566 e 1638 foram descritos por Cardius e Tevergo experimentos de transfusão de sangue entre animais. Em 1654, um médico italiano conhecido como Folli registrou a primeira transfusão entre seres humanos, sendo que a partir deste relato, algumas outras experiências foram realizadas, porém muitas com resultados desastrosos, o que acabou deixando a transfusão de sangue em um período obscuro, sendo que esta prática foi abandonada por um longo período.
Em 1818, James Blundell reacendeu a prática da transfusão de sangue, após relatar com sucesso o tratamento de uma paciente com sangramento pós-parto. Em 1901, Karl Landsteiner descreveu o sistema ABO, o que lhe conferiu em 1930 o prêmio Nobel de Medicina e resgatou a possibilidade terapêutica da transfusão de sangue de forma segura, estimulando várias iniciativas para o seu uso, inclusive de incentivo à doação de sangue. Em Paris no ano de 1923, por iniciativa de Arnaut Tzanck, através da “Obra da Transfusão de Sangue”, deu início à inscrição e recrutamento de doadores voluntários de sangue, tornando possível a criação do primeiro Serviço da Transfusão de Urgência do Hospital Saint Antoine de Paris, que se encontra em atividade até hoje.
Legenda da imagem: Arnault Tzanck fundou o primeiro Centro de Transfusão de Sangue no Hospital Saint Antoine. A partir de 1938, ele estudou o problema da conservação do sangue. Essa técnica de conservação de sangue permitiria evitar a transfusão de braço em braço. (Fonte: Wikipedia)
Cronologia brasileira
No Brasil, foi criada a Lei Federal 1.075, 27 de março de 1950, e assinada pelo presidente Eurico Dutra, sendo consignado com louvor em folha de serviço seja militar ou servidor público e com dispensa de ponto. A regulamentação da prática transfusional e dos aspectos relacionados à doação de sangue foi aprovada apenas em 1965 e que dispunha sobre o exercício da atividade hemoterápica no Brasil e implantava a Política Nacional do Sangue, onde incluía mecanismos de proteção do doador e receptor de sangue.
O surgimento da Aids, a partir de 1982, obrigou os serviços de hemoterapia a reverem os critérios de triagem clínica e laboratorial, impulsionando evolução científica e tecnológica da Medicina transfusional, inclusive revendo critérios mais rigorosos quanto à indicação de transfusão de sangue, sendo que muitos serviços médicos e hospitais iniciaram programas de gerenciamento racional do sangue, através de práticas transfusionais mais restritivas e manejo clínico alternativo para tratamento de anemias e distúrbios de coagulação, evitando ou reduzindo as transfusões de sangue.
Doação de sangue: importância e desafios dessa prática
A transfusão de sangue, quando bem indicada, traz benefícios inquestionáveis, e em muitos momentos insubstituíveis, e para que a transfusão aconteça, é necessário o papel de extrema importância do doador de sangue. Isto se tornou mais evidente durante a pandemia, que por um lado aumentou a transfusão de sangue em pacientes críticos, e por outro lado percebemos uma diminuição no número de doações de sangue. Frequentemente nos deparamos com campanhas para incentivo à doação de sangue disparados pelos serviços de hemoterapia, tanto do setor público como privado.
Ao fazer esse gesto, além de dar esperança de vida e de saúde para quem mais precisa, em uma única doação você pode salvar até quatro vidas. (Fonte: CCR)
A Organização Mundial de Saúde preconiza que cerca de 3 a 5% da população seja doadora de sangue regularmente, para garantir o estoque adequado, porém no Brasil este índice não ultrapassa 1,6%.
A própria sociedade organizada vem tomando iniciativas para incentivar a doação de sangue, seja ela de pacientes ou de especialidades médicas, sendo que podemos citar a Campanha da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) para o junho vermelho. Entendendo a necessidade e a importância do ato da doação de sangue, a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), criou no ano passado o programa Um Só Sangue, com o objetivo de estimular a doação de sangue, trazendo informações médicas seguras sobre os critérios de doação, além de incentivar campanhas e estabelecer parcerias com outras entidades como o Metrô de São Paulo, o Facebook e vários serviços de hemoterapia públicas e privadas.
Desde 2011, o movimento Eu Dou Sangue (EDS) foi criado por Debi Aronis e que deu suporte ao movimento junho vermelho.
Para finalizar este tema, convido a todos para dedicar uma pequena parte de seu tempo e conhecer o Hemocentro da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para participar desta rede de solidariedade e fazer uma doação de sangue, e também conversar com seus amigos e familiares para também fazerem parte desta corrente do bem.
Hemocentro Unifesp
Rua Dr. Diogo de Farias, 824 - Vila Clementino- São Paulo
Telefone: (11) 5576-4240 - Opção 1
Horário de atendimento: de segunda a sexta-feira das 8h às 17h30 e aos sábados das 8h às 13h.
Referências
- GILDER SS. Francesco Folli and blood transfusion. Can Med Assoc J. 1954;71(2):172.
- Journal Resuscitation - James Blundell: a primeira transfusão de sangue humano
- Lei nº 4.701, de 28 de Junho de 1965 - Dispõe sôbre o exercício da atividade hemoterápica no Brasil e dá outras providências.
- PERES, A. Processo de Punção Venosa na captação e transfusão de sangue e trauma vascular periférico. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, p. 334. 2016.
Por Denys Eiti Fujimoto
Médico do Hemocentro da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1992), com residência médica em Clínica Médica e Hematologia e Hemoterapia no Hospital da Santa Casa de São Paulo (1993-1996). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Hematologia, atuando principalmente nos seguintes temas: hemofilia, banco de sangue, hemoterapia, hematologia, doador e sorologia, elaboração e execução de projetos na área da saúde.
abs
Carla
https://sp.unifesp.br/epe/desm/noticias/junho-vermelho-doador-sangue
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