Você também ouviu a história da água de quiabo, experimentou a receita e sua glicemia baixou? Quer saber o motivo disto? Não perca a resposta neste polêmico texto!
UM TEXTO ESPECIAL POR RONALDO WIESELBERG
No dia 23/11/2013, um sábado, uma “revolução” acontecia na televisão e eu estava com muito medo, não pela revolução em si, mas pela minha prova de Patologia, que aconteceria na segunda-feira e porque depois, viajaria até o outro lado do mundo para o programa Young Leaders in Diabetes da IDF(Federação Internacional de Diabetes) e para o Congresso Mundial de Diabetes (acesse o link acima para ler sobre a viagem!)
Pois bem. Como essas duas coisas podem estar relacionadas? Ambas têm a ver com o mesmo assunto: diabetes.
A verdade – inconveniente – é que o diabetes é uma das maiores epidemias no planeta. Dados recentes mostram que quas 400 milhões de pessoas no planeta são portadoras de algum dos tipos da doença. E o pior, o diabetes exige muitos cuidados e mudanças por parte do paciente.
Eis que no quadro Jovens Inventores – peço perdão se errar o nome do quadro! – do programa Caldeirão do Huck, três jovens de 17 anos apresentaram uma “invenção”, batizada por eles de “O Incrível Quiabo”.
Sim, quiabo. Aquela coisa verde que ou você ama – como eu – ou odeia.
Simplificando a história, os jovens – dois meninos e uma menina –, inspirados pelo caso de diabetes de uma colega de escola, decidiram, sob a tutela da professora de Química, investigar o assunto. Encontraram uma pesquisa que dizia que ratos alimentados com farinha de quiabo tinham menores medições de glicemia… E pensaram num jeito mais “palatável” para o ser humano. Basicamente, um “chá frio de quiabo”.
Alguns voluntários – parentes e amigos dos jovens – provaram a tal água de quiabo e relataram diminuições impressionantes na medição glicêmica.
Por essa iniciativa – veja bem, eu disse INICIATIVA, nada a respeito da investigação ou do resultado! – os jovens receberam 30 mil reais (!!!) como prêmio. E é aqui que a coisa começa a desandar.
O LADO BOM E O LADO MAU DO QUIABO
Desde 1898 o quiabo é conhecido por ter algumas propriedades diuréticas, além de ser rico em fibras. Ele faz parte da alimentação de muitas pessoas, na América, Ásia e África, que vai desde o nosso delicioso frango com quiabo – ô trem bão, sô! – até biscoitos de quiabo no sul dos EUA. Daí, algumas pesquisas já foram feitas a respeito disso.
A coisa é que o pessoal em casa, que não sabia dessas pesquisas, e que normalmente não é tão ligado assim no assunto diabetes entendeu que o quadro do Caldeirão estava mostrando um novo TRATAMENTO, comprovado, e em alguns casos, a CURA do diabetes com a água de quiabo. Foi um mal entendido MUITO grave!!!
Ressaltando, e de novo: A ÁGUA DE QUIABO NÃO É TRATAMENTO COMPROVADO PARA O DIABETES. Nem ela, nem o chá de pata de vaca, chá de folha de jambolão, batata yacon… Todos estão sendo estudados!
Voltando… Por mais que a água de quiabo possa ajudar, temos vários problemas nessa história. O mais grave deles, e o que eu quero ressaltar aqui é que temos pessoas PARANDO COM A MEDICAÇÃO para usar APENAS A ÁGUA DE QUIABO como “tratamento”.
Isso sim é MUITO GRAVE e pode ter problemas MUITO grandes.
SABE POR QUE DÁ PARA CONFIAR EM MEDICAMENTOS?
O medicamento é a forma que temos, comprovada por vários testes – e para pagar esses testes é que o medicamento fica caro, são quase 10 anos de pesquisa para que cada medicamento seja lançado… – para tratar o diabetes, e nenhum deles faz mal. Infeliz foi o cara que disse que fazem.
Sem o medicamento, o corpo não consegue usar a glicose da maneira certa, que fica acumulando no sangue, e aí, sim, é que surgem os riscos de complicações. Nenhum médico, em sã consciência, e estando atualizado sobre as indicações, vai receitar um medicamento que faça mal.
Largar os medicamentos é garantia de desastre, cedo ou tarde.
“Ué, mas a minha glicemia baixou…”
Que bom que baixou! Mas será que foi só a água de quiabo a responsável por isso? Tem certeza que nesse dia você não andou um pouquinho mais? Não comeu menos? Vamos dar uma olhada no que se imagina que tenha sido o processo…
O SEGREDO REVELADO DA ÁGUA DE QUIABO
A água de quiabo é diurética, isto é, faz com que quem tome a água faça mais xixi. No xixi, saem, junto com a água, um monte de substâncias, sais e GLICOSE. Por mais que os nossos rins sejam fantásticos e tentem reabsorver sais e glicose, se a glicemia estiver acima de certos valores, eles não conseguem reabsorver tudo, e aí, sai glicose pela urina.
Com mais urina, mais glicose saindo, certo? E se tem mais glicose saindo, a glicemia está baixando, correto?
Ééééé… Tá bem. Mas e as pessoas que, devido ao diabetes descontrolado, já têm algum problema nos rins – caiu essa na minha prova de Patologia! –, será que vai funcionar? A resposta é sim, mas a um preço muito grande… Os rins vão piorar muito mais rápido.
Outra coisa é que, por ser um “chá de quiabo”, não existe como medir a quantidade da substância responsável que a gente toma em cada copo de água de quiabo.
Não entendeu? Então, vamos pensar assim… Se cada 1mg da substância baixar 10mg/dl da minha glicemia, um copo de água tem… Ééé… Espera. Quanto da coisa tem em cada copo??? Não sabemos. E isso pode fazer com que a glicemia NÃO baixe, ou pior ainda, baixe MUITO.
Enquanto a hiperglicemia causa problemas a médio e longo prazo, as hipoglicemias – ou seja, quando a glicemia está baixa demais – causam problemas a curto prazo…
“Mas baixou a minha glicemia, que vivia em 250mg/dl! Isso é o que importa!”
Calma! Mais ou menos… Mais ou menos. A glicose, o açúcar do sangue, é o combustível do corpo – como se o corpo fosse um carro e a glicose fosse a gasolina! –, e por isso não podemos deixar a glicemia em 0mg/dl, se não, o carro “para” no meio da rodovia!
Assim, a gente precisa da glicose DENTRO das células – ou seja, da gasolina no motor do carro. As medicações, como metformina, mais um monte de nomes esquisitos, e a própria insulina, permitem que a glicose entre na célula, e aí, sim, ela seja usada para que a gente tenha energia.
Se a gente só baixa a glicemia perdendo glicose pela urina, vai faltar gasolina para o carro, e aí, uma hora ou outra, ele vai parar.
Isso sem falar em possíveis problemas que podem ser causados pelo fato de a gente não saber direito “o que” faz a glicemia baixar.
“Como assim, Ronaldo? É natural, se não faz bem, mal não vai fazer…!”
Errado. Pode fazer mal, sim. Senta, pega a pipoca e uma Coca Zero.
MELHOR PREVENIR DO QUE REMEDIAR
A maioria das substâncias no nosso corpo tem um efeito que depende da quantidade que elas estão no corpo e se elas são influenciadas por “outras” substâncias. Se a gente está, por exemplo, tomando um antibiótico e junto toma bebida alcoólica, isso influencia o efeito do antibiótico – essa provavelmente todo o mundo já ouviu falar.
Assim, é a mesma coisa com a água do quiabo. Se a gente não sabe o que tem, exatamente, como garantir que não vai ter nenhuma influência tóxica (!!!) quando tomarmos algum antibiótico junto, quando tomarmos um remédio para dor de cabeça…? Como garantir que a glicemia não baixa, também, por aumentar o efeito dos remédios que já tomamos…?
Exato: não tem como, pelo menos, não no momento.
O que sabemos, até o momento, é que o tratamento com os medicamentos que o médico prescreve, atividade física constante, dieta balanceada e saudável surtem os melhores efeitos possíveis.
Não, ninguém diz que é fácil mudar uma vida inteira de hábitos, principalmente nos casos de diabetes tipo 2. Porém, procurar por um tratamento “milagroso” não é o caminho. Como eu disse lá em cima, o diabetes demanda comprometimento do paciente. Demanda mudança. E todo o mundo é resistente à mudança, é natural do ser humano.
Mas, pensem bem, é mudar para melhor. Todas as pessoas que têm diabetes e se cuidam são MUITO mais saudáveis do que as que não têm diabetes e não se cuidam.
Afinal, quando descobrirem a cura, todos queremos estar inteiros, né? E, o mais importante, tendo um estilo de vida saudável.
Ufa! Vou parar por aqui. Ainda tem muita coisa para falar, mas, essas, são outras histórias. Dúvidas, essas sim, eu respondo
Ronaldo José Pineda Wieselberg tem diabetes há mais de 20 anos. É estudante de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (FCMSCSP), auxiliar de coordenação do Treinamento de Jovens Líderes em Diabetes da ADJ Diabetes Brasil e Jovem Líder em Diabetes pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), com trabalhos sobre diabetes premiados e apresentados no Brasil e no exterior. Apesar de ter o mesmo nome de vários grandes jogadores de futebol, prefere o xadrez.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs,
Carla
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