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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Câncer: Dietas restritivas em Oncologia

 Cristiane Feldman – Rio de Janeiro/RJ

Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO

 

Vem sendo demonstrado que o padrão de consumo alimentar e o estado nutricional influenciam fortemente o perfil de morbimortalidade das populações, estando associados ao desenvolvimento de doenças 1,2,3.

Existem milhares de sites que fornecem dietas populares e milagrosas que vem sendo divulgadas e utilizadas para tratamento de doenças e inclusive em oncologia, muitas delas restritivas como dieta cetogênica, Dunkan, Atkins, low carb, lacfree, glútenfree, paleolitica e até do jejum 4,5.

Esta influência vem determinando algumas condutas errôneas na terapia nutricional do paciente com câncer. Existem muitos fatores que devemos considerar para adequação do estado nutricional desses indivíduos. A ingestão diária de nutrientes deve atender as necessidades nutricionais individualizadas de acordo com a idade, sexo, atividade física e medidas antropométricas além de um plano alimentar baseado em recomendações regulamentadas, atendendo necessidades nutricionais 4,5,6,7.

Segundo Matias 2014, foi possível constatar que todas as dietas da moda ao serem analisadas apresentaram desequilíbrios em seus conteúdos nutricionais, seja com relação a macro ou micronutrientes e que seu uso pode trazer malefícios a saúde 17.

O câncer possui origem multicausal, sendo a interação entre fatores genéticos e ambientais uma das formas mais comuns no seu desenvolvimento. Os principais fatores relacionados ao processo de carcinogênese incluem: dieta, tabagismo, etilismo, obesidade, inatividade física, contato frequente com carcinógenos, radiação, idade, etnia e sexo 8,9.

Alguns fatores relacionados à presença do tumor proporcionam diversas alterações metabólicas, que induzem à síndrome da anorexia-caquexia 10,11. Em pacientes oncológicos, o gasto energético de repouso pode variar entre 60% e 150% a mais que os níveis de normalidade. Sendo assim, alterações na ingestão, no gasto energético e no metabolismo intensificam o comprometimento nutricional de pacientes com neoplasias malignas 11.

Em associação às alterações metabólicas mediadas pelo tumor, o estado nutricional dos pacientes com câncer pode estar comprometido por fatores como localização do tumor, perda de peso involuntária. Dependendo do tipo de tumor e da fase da doença, a perda de peso pode chegar a 30%, e, em mais de 80% dos pacientes, essa perda é grave, sendo, na maioria das vezes, o primeiro sinal de desnutrição em pacientes com câncer 12,13.

Durante tratamento antineoplásico, devido a toxicidade, muitos cursam com sintomas importantes como náuseas, vômito, mucosite, constipação, diarreia, alteração no paladar, xerostomia e alteração na absorção dos nutrientes, que levam a piora do estado geral, influenciando na tolerância de alimentos e na ingestão diária. Essas complicações estão associadas ao aumento da morbimortalidade 13,14.

As necessidades energéticas dos pacientes oncológicos vão depender do grau de desnutrição, do estresse metabólico, das perdas de energia e do nível de atividade física. A terapia nutricional em pacientes oncológicos é uma importante ferramenta para que o tratamento antineoplásico seja efetivo 14,15,16.

Por fim, Um paciente com câncer passa por diversas fases, do diagnóstico ao tratamento da neoplasia até sua cura ou sobrevida. A Nutrição de um paciente oncológico é um tratamento adjuvante que tem o objetivo de manter ou melhora o estado nutricional, fortalecendo e capacitando o paciente para que ele consiga realizar o tratamento que necessita e ter a chance de cura ou melhor prognóstico e qualidade de vida. Dietas restritivas são limitadas em macro e micronutrientes e contribuem para piora do estado geral desses indivíduos que precisam ser avaliados em sua amplitude. Devemos levar em consideração as alterações fisiológicas, emocionais e efeitos colaterais do tratamento, respeitando acima de tudo a sua individualidade metabólica. É de fundamental importância que a nutrição seja baseada em evidências aliada ao bom senso, ética e sobretudo a vivência clínica.

Nutricionista Cristiane Feldman

Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

  1.     Farias SJSS, Fortes RC, Fazzio DMG. Análise da composição nutricional de dietas da modadivulgadas por revistas não científicas. Nutrire. 2014 Aug;39(2):196-202
  2.        OMS (Organização Mundial de Saúde), 2002. Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases. Report of the WHO/FAO Expert Consultation. WHO Technical Report Series 916. Geneva. Disponível em: URL: http://www.who.int/nut/documents/trs_916.pdf. Acesso em jan/2004.
  3.     Vasconcelos NA, Sudo I, Sudo N. Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Rev Mal-estar Subj. 2004;4(1):65-93.
  4.     Santana HMM, Mayer MDB, Camarg o KG. Avaliação da adequação nutricional das dietas para emagrecimento veiculadas pela internet. ConScientiae Saúde. 2003;(2):99-104.
  5.     Santos LAS. Os programas de emagrecimento na internet: um estudo exploratório. Rev Saúde Coletiva. 2007;17(2):353-72.
  6.     SOUZA. D. M. Revistas Femininas: História, Comunicação e Nutrição. Uma Análise Quantitativa e Qualitativa. 2005. Dissertação (Mestrado em Nutrição Humana)-Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
  7.     PADOVANI, Renata M. et al. Dietaryreferenceintakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr., Campinas, v.19, n.6, p.741-760, nov./dez.
  8.     LIMA, Karla V. G. de et al. Valor nutricional de dietas veiculadas em revistas não científicas. RBPS, Fortaleza, v. 23, n. 4, p. 349-357, out./dez. 2010
  9.     Fortes RC, Novaes MRCG. Efeitos da suplementação dietética com cogumelos Agaricales e outros fungos medicinais na terapia contra o câncer. RevBrasCancerol. 2006;52(4):363-71.
  10. Skipworth RJ, Stewart GD, Dejong CH, Preston T, Fearon KC. Pathophysiology of cancer cachexia: Much more than host–tumour interaction? ClinNutr 2007; 26(6): 667-76.
  11. Silva MPN. Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer. RevBrasCancerol. 2006;52(1):59-77.
  12.    Consenso nacional de nutrição oncológica, volume 2. / Instituto Nacional de. Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2015.
  13. Nascimento FSM, Gois dns de et al. A importância do acompanhamento nutricional no tratamento e na prevenção do câncer. Ciências Biológicas e de Saúde Unit | Aracaju | v. 2 | n.3 | p. 11-24 | Março 2015 | periodicos.set.edu.br
  14. Borges LR. Fatores determinantes da qualidade de vida em uma coorte de pacientes submetidos à quimioterapia [dissertação]. 2008. Pelotas: Universidade Católica de Pelotas; 2008.
  15. Azevedo, Luciane Coutinho de, et al. Prevalência de desnutrição em um hospital geral de grande porte de Santa Catarina/Brasil. Arquivos Catarinenses de Medicina, v.35, n.4, Santa Catarina, 2006. p.89-96.
  16. Dutra IKA, SagrilloMR.Terapia nutricional para pacientes oncológicos com caquexia.DisciplinarumScientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 155-169, 2014.
  17. Matias OM. Dietas da moda: os riscos nutricionais que podem comprometer a homeostase [dissertação] 2014. Vitoria: Faculdade Católica Salesiana Do Espírito Santo

ESCLEROSE MÚLTIPLA




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Carla 

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