24 de maio de 2019
Acompanhamento médico é indicado para pacientes que estão há mais de cinco anos em remissão
Os efeitos colaterais tardios podem ocorrer tempos depois do término do tratamento oncológico. Eles podem se desenvolver meses ou anos depois da quimio ou radioterapia, por isso é importante manter a rotina médica em dia.
O câncer acontece quando as células de um órgão sofrem alterações genéticas e por isso passam a se dividir de modo descontrolado. Para combater essas células, o tratamento oncológico realiza outras alterações no DNA a fim de parar essa divisão desenfreada.
Apesar dos grandes avanços da tecnologia na medicina, muitas vezes com medicamentos que atingem diretamente as células cancerígenas, ainda assim é possível que as células saudáveis também sofram danos. É o que diz Dr. Guilherme Perini, hematologista no Hospital Israelita Albert Einstein e membro do Comitê Médico da Abrale.
Por isso, os pacientes apresentam efeitos colaterais tanto no momento do tratamento, quanto tardios. Isso quer dizer que é possível, por causa do tratamento, que alguns pacientes apresentem problemas de saúde anos após a quimio ou a radio. Mas é raro.
O Dr. Perini afirma que são pouquíssimos os pacientes que realmente apresentam efeitos colaterais tardios. “Observando mil pacientes que fizeram quimioterapia, quantos vão desenvolver uma leucemia? Provavelmente 2 ou 3”, explica ele.
Dentre alguns dos efeitos colaterais tardios da quimioterapia estão as alterações pulmonares, cardíacas, perda ou diminuição da fertilidade e até o aparecimento de um novo câncer.
Esses efeitos não possuem uma data mínima e máxima para acontecer. “A partir de 10 anos depois da radioterapia a vigilância é intensificada. Mas, existem casos mais precoces e casos bem mais tardios. Desse modo, é extremamente importante que o paciente continue indo para as consultas médicas e realizando os exames”, diz o Dr. Perini.
Efeitos colaterais da quimioterapia a longo prazo
Os efeitos da quimioterapia no corpo estão ligados com algumas drogas em específico. Ou seja, cada classe de mecanismo de ação dos quimioterápicos tem chance de causar um certo tipo de efeito. Por exemplo, as antraciclinas, no geral, podem aumentar as chances de problemas cardíacos. Enquanto que a bleomicina pode aumentar as chances de alterações pulmonares.
Efeito colateral tardio da radioterapia
O Dr. Perini explica que “na radioterapia, é dado ao paciente uma dose de radiação direcionada ao tumor. Mas acaba atingindo tecido normal também. Por isso, os efeitos colaterais tardios são uma grande preocupação dos médicos”.
Um exemplo dessa preocupação são as mulheres jovens que realizam radioterapia na região torácica. Existem estudos mostrando que elas apresentam um risco aumentado de câncer de mama, cardiopatia ou infarto precoce. Isso porque as artérias coronárias do coração ficam inflamadas devido à radiação.
O Dr. Perini conta que assim como os quimioterápicos, a radioterapia também está sendo muito beneficiada com a tecnologia. “Antigamente, nós fazíamos protocolo de radioterapia em que o campo irradiado era muito grande. Com isso, acabava se irradiando tecido normal também”, diz ele.
Atualmente, com a modernização das máquinas, é possível diminuir o campo de irradiação, atingindo somente os linfonodos que estão envolvidos. Com isso, diminui-se a toxicidade, tornando os efeitos colaterais tardios da radioterapia não tão preocupantes quanto eram no passado.
“Mas, de uma maneira geral, nos preocupamos mais com os efeitos colaterais tardios da radio do que da própria quimioterapia”, afirma o hematologista.
Há cura para esses efeitos colaterais?
Isso vai depender muito dos efeitos que a pessoa apresentar. Por exemplo, se ela desenvolver um problema cardíaco, será preciso tratar continuamente. Já uma paciente jovem que irradiou e depois descobriu um nódulo suspeito, tem como opção a cirurgia.
“Antigamente, tratávamos o paciente com câncer e observávamos até 5 anos depois da remissão. Quando alcançava esse tempo, que a chance de recidiva era muito pequena, dávamos alta para ele. Hoje em dia, essa prática vem mudando. Temos mantido esse paciente em acompanhamento médico, diminuindo muito esses efeitos tardios”, explica o Dr. Perini.
Efeitos da quimioterapia na fertilidade
Tanto as quimios mais pesadas, quanto a radioterapia podem sim afetar a fertilidade do paciente. Isso vale também para os transplantes de medula óssea autólogo e alogênico devido ao pré-procedimento que também ambos os tratamentos.
Existe, porém, uma grande diferença entre a fertilidade feminina e a masculina. A mulher já nasce com uma quantidade determinada de folículos (cada folículo contém um óvulo não desenvolvido) para a vida inteira. Esses folículos vão, eventualmente, amadurecer, ela ovula e vem a menstruação. Já o homem produz novos espermatozoides conforme o tempo.
“Quando é dada uma quimio muito pesada ou é feita irradiação do corpo total em uma mulher, você pode destruir esses folículos. Então, principalmente em mulheres que já tem uma reserva ovariana menor, é possível que a menopausa seja precipitada. Assim, ela para de ter folículos que conseguiriam amadurecer e fazer todo o ciclo menstrual”, fala Dr. Perini.
Porém, é possível que tanto o homem quanto a mulher façam manutenção da fertilidade. Para isso, é preciso conversar com o médico antes de dar início ao tratamento. No homem, o procedimento é bem simples, ele só precisa coletar e congelar o sêmen. Para as mulheres, existem técnicas de congelamento do óvulo, do tecido ovariano além de outras possibilidades.
Existem, entretanto, dois pontos muito importantes a serem ressaltados no caso feminino. Primeiro, o diagnóstico precoce é extremamente importante para ter tempo hábil para realizar os procedimentos de manutenção da fertilidade. Segundo, a coleta do óvulo em doenças sistêmicas, como a leucemia mieloide aguda (LMA), pode ser contraindicada. Isso porque ele pode não estar saudável devido à neoplasia.
“Mas, além disso, a mulher que evolui para uma menopausa precoce, tem que ter uma série de outros cuidados. Por exemplo, ela tem um risco maior de osteoporose durante a vida, temos que fazer alguns tratamentos sintomáticos para evitar os fogachos, que são as ondas de calor, e até mesmo alguma reposição hormonal. Essa é uma paciente que tem que ser vista mais de perto”, complementa o Dr. Perini.
Linfoma de Hodgkin e as doenças do coração
Um paciente com linfoma de Hodgkin é comumente tratado como o protocolo ABVD (adriamicina, bleomicina, vinblastina e dacarbazina). Dentre esses medicamentos, estão antraciclinas, consideradas como possivelmente tóxicas para o coração. Além disso, uma quantidade significativa dos pacientes faz irradiação da região torácica.
“Esses pacientes podem ter tanto perda da força do coração, do músculo cardíaco, quanto podem, por inflamação das coronárias, ter um risco maior de eventos isquêmicos. Ou seja, ter um infarto ou uma angina mais precocemente”, explica o Dr. Perini.
Ele diz que para esses pacientes é feita uma vigilância muito mais de perto para evitar que esteja em contato com outros fatores de risco. Como hábito de fumar, colesterol alto, sobrepeso e outros. E também para investigar esse paciente mais precocemente e evitar outros problemas.
Caso o paciente já apresente um problema cardíaco, será analisada a possibilidade de não ser utilizada a antraciclina.
A imunoterapia também causa efeitos colaterais tardios?
Possivelmente sim, mas não os mesmos! Este é um tratamento recente, então ainda não há um acompanhamento a tão longo prazo. Entretanto, os efeitos colaterais que aparecem depois da quimio e da radio parecem não existir.
O Dr. Perini explica que levando em conta as imunoterapias que envolvem os inibidores de check-point, o que pode ocorrer é o aparecimento de fenômenos autoimunes. Para que a defesa do corpo humano não consiga combater as células cancerosas, elas expressam uma proteína que “engana” os receptores dos linfócitos e os mata. Os inibidores de chek-point bloqueiam os receptores dos linfócitos para que eles possam atacar as células doentes.
“O problema é que esse mesmo receptor se expressa em alguns tecidos para evitar que os nossos linfócitos nos ataquem. Então os fenômenos autoimunes são possíveis de ocorrer na vigência de uma imunoterapia”, diz ele.
Porém, esses efeitos costumam ser mais benignos e respondem melhor aos tratamentos que os efeitos da quimio e da radio.
“O problema é que antigamente, para apagar a luz, a gente dava um tiro de bazuca. Hoje vamos no interruptor, mas taca uma pedrinha. Então, ainda que menores, os efeitos colaterais ainda acontecem”, finaliza o Dr. Perini.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
https://revista.abrale.org.br/
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