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terça-feira, 10 de maio de 2022

CARDIOLOGIA: Ritmo sinusal no ECG: como interpretar e quais condutas adotar

 Por Dr. José Aldair Morsch, 14 de junho de 2021

 

 

Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin

 

 

 

O ritmo sinusal é uma denominação comum à Cardiologia, mas que pode gerar dúvidas até em médicos não especialistas e outros profissionais de saúde.

Em um eletrocardiograma (ECG), esse resultado aparece muitas vezes como conclusão do exame.

O que será que isso significa?

Para pacientes, o vocabulário técnico pode até gerar confusões, levando-o a temer alguma alteração ou até uma doença cardiovascular.

É aí que entra em cena a importância do médico, especialista ou não, entender exatamente o que é ritmo sinusal e oferecer o esclarecimento necessário.

Até porque, na verdade, ele indica que a condução dos batimentos é normal.

Mas há muito mais a saber sobre esse conceito e os resultados de um ECG.

Para entender quando é indicado encaminhar o paciente a um cardiologista, siga com a leitura deste texto.

A partir de agora, vou explicar melhor o significado do ritmo sinusal, as principais orientações ao paciente e como se valer de uma segunda opinião médica.

Acompanhe até o final, tire suas dúvidas e confira mais dicas para qualificar a sua atuação.

O que é ritmo sinusal?

Ritmo sinusal é o ritmo normal do coração, indicando que os batimentos são conduzidos de forma saudável.

A palavra “sinusal” faz referência ao local onde nascem os estímulos elétricos que fazem o músculo cardíaco bater, chamado nodo ou nó sinusal.

Lembrando que o miocárdio (coração) é dividido em 4 câmaras ou partes: átrio direito, átrio esquerdo, ventrículo direito e ventrículo esquerdo.

O referido nó sinusal fica localizado acima do átrio direito.

Para entender como funciona o ritmo sinusal, é preciso primeiro esclarecer alguns detalhes técnicos.

Principalmente a condução ou trajetória que cada impulso elétrico percorre em um coração saudável.

São esses impulsos que fazem o músculo cardíaco se contrair e relaxar, bombeando o sangue necessário para nutrir todas as células do organismo.

O impulso elétrico nasce no nó sinusal e se espalha pelas demais áreas, começando pelo átrio direito.

Esse processo atrai íons de cálcio para dentro das células, na chamada despolarização elétrica.

A entrada do cálcio faz o músculo se contrair.

Em seguida, as células liberam vários íons de potássio, em um processo chamado repolarização elétrica.

Nesse momento, o miocárdio relaxa para, depois, começar tudo de novo.

Afinal, o coração não para de mandar sangue para o corpo.

Apesar de complexa, a trajetória percorrida pelo impulso elétrico leva apenas 0,19 segundo para acontecer.

E, em um ritmo normal ou sinusal, o caminho é o seguinte:

  • Nó sinusal
  • Átrio direito
  • Átrio esquerdo
  • Nó atrioventricular (fica entre os átrios e os ventrículos)
  • Ventrículos.

 

 

Ritmo sinusal é perigoso?

Ritmo sinusal não é perigoso.

Pelo contrário: ele indica que os batimentos cardíacos estão ocorrendo de modo normal.

Que tanto sua trajetória quanto sua duração e efeitos estão dentro do padrão para uma pessoa saudável.

Por isso, não há motivo para maiores preocupações.

Lembre-se, também, que desvios na condução dos impulsos elétricos nem sempre estão relacionados a doenças no miocárdio.

Daí a importância de o paciente buscar ajuda médica para interpretar o resultado do eletrocardiograma de maneira correta.

O ritmo sinusal no ECG: como interpretar

O eletrocardiograma (ECG) é o principal exame solicitado para avaliar a atividade elétrica do coração.

Isso porque o teste é simples, rápido e pode ser realizado em qualquer lugar, usando o eletrocardiógrafo portátil.

Raramente o ECG apresenta algum risco ao paciente – mais uma vantagem que ajudou a popularizar o exame.

Contudo, ler e interpretar as ondas do ECG não é uma tarefa simples.

Principalmente para médicos sem especialidade em Cardiologia, já que esses e outros testes de diagnóstico não costumam ser abordados em detalhes durante a graduação.

Pensando nisso, trago um passo a passo com dicas para interpretar o ritmo sinusal e ritmos anormais no eletrocardiograma.

Conheça o traçado básico do ECG

Podemos definir o traçado como a representação gráfica do eletrocardiograma.

Ritmo sinusal normal

Traçado de um ECG com ritmo sinusal normal

Ele corresponde ao resultado do exame, descrevendo a frequência e o ritmo cardíaco.

Em uma situação normal ou ritmo sinusal, é possível identificar 5 ondas presentes: P, Q, R, S, T, sendo que:

 

  • Cada batimento é formado por uma onda P, seguida por um complexo QRS e, ainda, uma onda T
  • A onda P normal é arredondada e suave, durando menos de 0,10 segundo ou 2,5 mm. Sua amplitude ou voltagem máxima é de 0,25 mV. Essa onda revela a contração do átrios ou sua despolarização
  • O intervalo entre P e R (PR) revela o tempo entre o início da despolarização dos átrios e a dos ventrículos
  • Já a contração dos ventrículos corresponde ao complexo QRS, composto por uma onda positiva (R) e duas negativas (Q e S). Sua duração fica entre 0,06 e 0,10 segundo.
  • A onda T fecha o ciclo de cada batida do coração, mostrando a repolarização dos ventrículos

 

 

Ritmo cardíaco no ECG

Traçado encontrado no ECG mostra a representação gráfica do eletrocardiograma

Calcule a frequência cardíaca

A frequência dita a quantidade de batimentos por minuto (bpm) do músculo cardíaco.

Esse passo é importante por que alterações na frequência padrão podem indicar problemas no órgão.

No ritmo sinusal, a frequência vai de 50 a 100 bpm.

Vale esclarecer que esse padrão considera um adulto saudável, pois há diferenças no ritmo normal de acordo com a idade.

No resultado do ECG, um minuto corresponde a 300 quadrículos. 

Para encontrar a frequência, basta contar quantos quadrículos há entre o topo de uma onda R e outra.

Se houver um, o coração bate a 300 bpm. 

Se forem dois, bate a 150 bpm; três, a 100 bpm, e assim por diante.

Verifique os indicativos de ritmo sinusal

A sequência e o traçado das ondas devem corresponder aos padrões que citei acima, indicando o ritmo sinusal.

Além disso, a onda P deve ser gerada no nó sinusal, e a distância entre os complexos QRS deve ser semelhante em todo o traçado.

O que significa arritmia sinusal?

Aqui está outra denominação em Cardiologia que não deve ser confundida com o ritmo sinusal.

Arritmia sinusal é uma alteração na frequência cardíaca, normalmente relacionada à respiração.

Essa alteração é chamada de sinusal porque o impulso elétrico continua surgindo no nó sinusal, indicando normalidade.

Em geral, esse tipo de arritmia aparece em crianças e adolescentes, desaparecendo de forma espontânea quando se tornam adultos.

Caso seja identificado em adultos ou idosos, é preciso consultar um cardiologista para investigar suas causas.

E a taquicardia sinusal?

Já a taquicardia sinusal é a aceleração do ritmo cardíaco, mas mantendo a formação de impulsos elétricos no nó sinusal.

Ela acontece quando o coração bate em uma frequência mais alta que a normal (acima de 100 bpm para adultos saudáveis).

O traçado do eletrocardiograma mostra um ritmo regular, com ondas, sequência e condução normais, porém, com mais batidas por minuto.

A taquicardia sinusal costuma se apresentar como resposta a estímulos, por exemplo, depois de exercícios físicos ou da ingestão de muita cafeína.

Porém, há situações em que ela está relacionada a enfermidades como anemia e infarto do miocárdio.

 

Principalmente se for identificada em pacientes que já tenham alguma doença cardiovascular.

Orientações ao paciente sobre ritmo sinusal

Neste ponto do texto, você já sabe que o ritmo sinusal é um indicativo de que a saúde do coração vai bem.

Então, se essa é a descrição do exame de eletrocardiograma, os alertas ao paciente são apenas preventivos..

Cabe a ele se empenhar para manter o músculo cardíaco funcionando em condições normais.

Para te ajudar nessa tarefa, separei algumas dicas recomendadas por autoridades de saúde como a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC).

1. Evitar o sobrepeso

Estudos indicam que o sobrepeso culmina em maior risco de fibrilação atrial (FA) e outras arritmias.

Na FA, a contração dos átrios perde a sincronia, resultando em um ritmo descontrolado e impactos negativos sobre a circulação do sangue.

Ela está entre as alterações mais comuns no coração, podendo desencadear complicações como o Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Portanto, evitar ficar acima do seu IMC ideal é uma ótima medida de prevenção.

Segundo o Ministério da Saúde, o Índice de Massa Corporal pode ser analisado seguindo as diretrizes:

  • IMC menor que 18,5 – Abaixo do peso
  • IMC entre 18,5 e 24,9 – Peso normal
  • IMC entre 25 e 29,9 – Sobrepeso
  • IMC igual ou acima de 30 – Obesidade.

Para calcular o IMC, é só usar a fórmula:

  • Peso (em kg) / Altura (em metros) ao quadrado.

2. Adotar uma alimentação saudável

A alimentação influencia a saúde cardiovascular, sendo capaz de provocar efeitos positivos e negativos.

O consumo exagerado de alimentos ricos em açúcar e gordura contribui para fatores de risco como o colesterol alto e o depósito de placas de gordura nos vasos sanguíneos, provocando aterosclerose.

 

 

Adotar a alimentação saudável é um fator importante para a boa saúde do coração

3. Ter uma rotina de atividade física

Um estilo de vida saudável precisa incluir atividades físicas regulares, que resultam em uma série de benefícios para o corpo.

A saúde do coração é um deles. 

Movimentar as panturrilhas, por exemplo, ajuda no retorno do sangue ao órgão.

Assim como exercícios aeróbicos (natação, corrida, caminhada) colaboram para a melhora da capacidade respiratória, evitando a sobrecarga do músculo cardíaco.

Conforme orientação da OMS, para estar fora do grupo sedentário é necessário realizar:

  • 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana, se você for adulto
  • 60 minutos de atividade por dia, se for criança ou adolescente.

4. Fazer exames periódicos

É importante realizar exames de rotina pelo menos uma vez ao ano, para conferir como anda o funcionamento do coração e do organismo.

Arritmias e outros problemas cardíacos raramente apresentam sintomas, por isso, costumam ser descobertos por causa de um ECG de rotina.

 

Testes de sangue e urina são outros exemplos capazes de sinalizar anormalidades.

Quando essas alterações são identificadas de forma precoce, as chances de sucesso no tratamento aumentam.

5. Atenção ao colesterol

Níveis altos de colesterol LDL (“ruim”) e triglicérides são a principal razão para a aterosclerose, que eleva as chances de infarto e AVC.

Monitoramento médico e uma dieta balanceada ajudam a manter o colesterol LDL sob controle.

A dica é evitar gorduras saturadas e trans.

As saturadas estão presentes em produtos de origem animal, como carne e derivados do leite.

Já as trans são encontradas em sorvetes, bolachas e outros itens industrializados.

6. Controlar diabetes e hipertensão

Altas taxas de açúcar no sangue são mais um fator que facilita o acúmulo de placas de gordura nas veias e artérias.

Quanto obstruídas, o coração sofre com a falta de oxigênio, podendo sofrer um infarto.

A hipertensão ou pressão alta exige um esforço maior por parte do músculo cardíaco, resultando em sobrecarga.

Então, vale seguir o tratamento para controlar essas condições.

7. Diminuir o consumo de bebida alcoólica

Beber demais é um dos fatores que contribuem para a pressão alta, vilã para a saúde do coração.

O álcool em excesso pode, ainda, causar efeito tóxico sobre as células cardíacas, que adoecem e dificultam a manutenção do ritmo sinusal.

 

 

Cardiologista é geralmente consultado quando há alguma alteração no ECG de rotina

Quando consultar um cardiologista

O cardiologista deve ser consultado diante de alterações no ECG de rotina, incluindo arritmia sinusal em adultos e idosos e taquicardia sinusal frequente.

Outros sinais de alerta são:

  • Dor no peito
  • Palpitação
  • Tontura
  • Desmaios
  • Falta de ar
  • Síncope ou perda abrupta dos sentidos
  • Inchaço nas pernas e pés.

O paciente deve redobrar a atenção se aparecerem sintomas associados.

Alterações no ritmo sinusal e doenças também podem sofrer influência genética, por isso, é recomendado fazer um acompanhamento se tiver histórico de males cardiovasculares na família.

Dúvida sobre o ritmo cardíaco? Busque uma segunda opinião

Alterações no ritmo do coração nem sempre têm importância clínica ou são sinais de problemas.

Portanto, anormalidades podem mostrar apenas uma alteração passageira, sem risco para o paciente.

No entanto, é essencial tirar as dúvidas com um cardiologista.

Às vezes, é preciso consultar outro especialista para ter uma resposta complementar sobre a condição cardíaca, qualificando o diagnóstico.

Essa é a função da segunda opinião médica, que melhora a avaliação ao acrescentar a visão de mais um profissional capacitado.


Conclusão

Como vimos neste texto, o ritmo sinusal é o ritmo fisiológico ou normal do músculo cardíaco.

Anormalidades na frequência e condução dos batimentos podem indicar distúrbios ou ser apenas passageiras, respondendo a estímulos.

Mas vale o paciente estar sempre atento a esses e outros fatores que impactam na saúde do coração, fazendo exames periódicos como o eletrocardiograma.

Para médicos e outros profissionais de saúde, a prevenção e o tratamento de doenças cardíacas devem ser sempre um ponto de atenção.



 

 

 


obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico

abs

Carla

https://telemedicinamorsch.com.br/blog/r

 

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