Publicado em 16 de maio de 2022 - 20:04
Caminhar no sentido da mudança do paradigma, “centralizando a tomada
de decisão no doente”, é um dos principais objetivos do Serviço de
Nefrologia do Centro Hospitalar Universitário do Algarve. Este processo
não se restringe apenas ao doente, mas também à família.
Ana
Paula Silva, que assumiu a direção do Serviço em 2021, explica que esta
ideologia surgiu no início do século, em 2003, com a denominada Consulta
de Baixo-Clearance.
“A evidência científica mostrava que nos
primeiros três meses de indução de uma técnica depurativa, quer fosse
hemodiálise ou diálise peritoneal, a taxa de mortalidade era elevada
porque a referenciação era tardia”, refere.
Frequentemente, “o
doente chegava ao Serviço de Urgência numa condição de grande
fragilidade”, o que motivou a criação da Consulta de Baixo-Clearance,
dirigida àqueles que tinham uma taxa de filtração glomerular de 20
ml/min.
Ana Paula Silva: “Nós não somos só médicos, mas também vetores educacionais”
De
forma simples, a nefrologista explica que, tendo a doença crónica
vários estadiamentos, “o mais avançado corresponde ao estádio 5, com uma
taxa de infiltração inferior a 15 mil/min, o que significa que o rim já
não consegue limpar as impurezas e precisará da ajuda de alguma das
técnicas de substituição da função renal”.
Nesta consulta, além da correção dos fatores de risco – o
principal dos quais é o contexto cardiovascular –, realiza-se o ensino
das técnicas e atua-se ainda na vertente psicológica.
Consulta de intervenção educacional
Fez,
assim, sentido criar-se uma "consulta de intervenção educacional,
dirigida aos doentes e seus familiares", realizada na última
quarta-feira do mês, durante uma a duas horas, no auditório do Hospital
de Faro.
“Num momento e espaço específicos, reunimos médico nefrologista
ou interno da especialidade, enfermeiro, psicólogo e nutricionista, com
doentes e familiares, para falarmos sobre a definição da doença renal
crónica, o papel do rim, as técnicas disponíveis – hemodiálise, diálise
peritoneal, transplante renal ou tratamento conservador −, os mitos
relacionados com a doença e os cuidados com a alimentação, com uma
linguagem didática”, contextualiza Ana Paula Silva.
A diretora do Serviço de Nefrologia do CHUA nota que o principal
intuito é “informar e contribuir para o ultrapassar de receios,
considerando as alterações a nível de hábitos de vida geradas pelas
diferentes técnicas, pois, se existir uma boa aceitação deste processo
por parte dos doentes e familiares, a probabilidade de sucesso será
maior”. No seguimento destas sessões, os doentes preenchem um
questionário de avaliação, que contribui para a constante melhoria do
projeto.
Os
doentes podem frequentar estas sessões as vezes que considerarem
necessárias até tomarem a sua decisão. Por outro lado, o nefrologista
pode também sugerir que estejam presentes. Apesar de as temáticas se
manterem, há uma rotação dos participantes, o que, naturalmente, origina
novas abordagens e discussões. “Existe uma partilha de experiências,
porque todos estão na mesma posição”, destaca Ana Paula Silva.
Quando
estas sessões surgiram, em 2015, eram dirigidas unicamente aos doentes e
os grupos eram mais reduzidos. Com o surgimento da pandemia de
covid-19, o projeto ficou suspenso, mas em janeiro deste ano foi
restabelecido, com a possibilidade de receber 10 doentes e ainda um
familiar por cada um deles.
Sendo
a população com doença renal crónica tendencialmente mais envelhecida,
com um leque de idades superior a 65 anos, vem acompanhada, geralmente,
por um filho. No entanto, existem também algumas pessoas mais jovens que
também têm interesse nestas sessões. Neste seguimento, são depois
programadas idas ao Serviço para observação das técnicas disponíveis.
“Enquanto profissionais de saúde, temos o dever de transmitir
conhecimentos e fornecer as ferramentas adequadas para a tomada de
decisão; são estas ações que vão dar a oportunidade ao doente de estar
no centro da tomada de decisão e de gerir toda a dinâmica da sua doença
renal, responsabilizando- se também pelas implicações da sua escolha”,
distingue a nossa interlocutora.
Ana Paula Silva com a enfermeira Céu Laranjo e Anabela Malho Guedes, coordenadora da Unidade de Diálise Peritoneal
A
título futuro, Ana Paula Silva tem dois grandes objetivos para estas
sessões. O primeiro consiste na inclusão de doentes que façam
hemodiálise e diálise peritoneal, para partilharem os seus testemunhos.
Já o segundo prende-se com a criação de uma nova sessão, desta vez dirigida à população algarvia, no sentido de “fomentar a prevenção e o diagnóstico precoce, alertando para os fatores de risco da doença renal”.
A reportagem completa pode ser lida no Hospital Público de março/abril 2022, que inclui entrevistas a outros profissionais do Serviço de Nefrologia do CHUAlgarve
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
https://www.justnews.pt/noticias/nefrologia-do-chualgarve-investe-em-sessoes-educacionais-junto-dos-doentes-e-da-comunidade?fbclid=IwAR21kuuTmR7OVUZ-AVVT9-4lzTw5qavnYmzgH7aX38zavpJrlZxD_21VxkE#.Yozj7ZLMKBa
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