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quarta-feira, 11 de maio de 2022

Estado vegetativo: conheça a conduta médica e os Direitos do Paciente

 Por Dr. José Aldair Morsch, 19 de abril de 2022

 

Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin

 

 

O diagnóstico de estado vegetativo exige avaliação médica detalhada.

É preciso descartar qualquer sinal de consciência, notando apenas a presença de reflexos primitivos.

Mesmo assim, alguns pacientes podem manter traços de consciência oculta, observada somente através de formatos específicos de tomografia e ressonância magnética.

Essa análise minuciosa é essencial para a prescrição do tratamento mais adequado, considerando as chances de recuperação do doente.

Nas próximas linhas, comento outras questões relativas ao estado vegetativo, a exemplo dos sintomas, causas e conduta médica esperada.

O que é estado vegetativo?

Estado vegetativo é uma condição marcada pela incapacidade de reagir intencionalmente a estímulos ou ao ambiente em redor.

Geralmente, o paciente consegue manter ciclos de sono e vigília regulares, abrindo e fechando os olhos, diferentemente do que ocorre no estado de coma.

No entanto, esses movimentos são involuntários e vazios de qualquer percepção sobre si mesmo e o ambiente em redor.

Como adiantei na introdução do texto, o diagnóstico de estado vegetativo deve partir de uma avaliação criteriosa, descartando qualquer sinal de consciência por parte do doente.

 

Quando há sinais, ainda que sutis, o diagnóstico correto aponta para estado minimamente consciente.

Qual a diferença entre estado vegetativo e morte cerebral?

Existem duas diferenças principais.

A primeira é que uma pessoa em estado vegetativo tem chances mínimas de recuperação da consciência, diferente de alguém que teve a morte cerebral confirmada.

E a segunda se refere à preservação de certas funções encefálicas, ainda presentes no estado vegetativo.

Já na morte encefálica, há perda completa e irreversível das funções do encéfalo.

Como define o Conselho Federal de Medicina (CFM), essa condição descreve a cessação das atividades corticais e do tronco encefálico, subtraindo a capacidade de respirar, manter a temperatura ou pressão em níveis normais.

Como funciona o estado vegetativo

O estado vegetativo costuma ser constatado quando o paciente sai do coma, mas não é capaz de recuperar sua vida voluntária.

Seu hipotálamo e tronco encefálico se mantêm ativos, regulando funções vitais como o ritmo cardíaco, temperatura, pressão e respiração – ou seja, mantendo a pessoa viva.

Contudo, o córtex cerebral tem o funcionamento afetado drasticamente, o que impede o doente de processar informações, controlar pensamentos e comportamento.

Quais os sintomas de estado vegetativo?

O sintoma mais evidente é a ausência de ações intencionais.

 

O paciente é incontinente, incapaz de seguir comandos, fazer movimentos para evitar ferimentos ou dor.

Entretanto, as atividades do hipotálamo e tronco encefálico permitem que indivíduos em estado vegetativo:

  • Mantenham ciclos alternados de sono e vigília
  • Abram os olhos e mantenham as pupilas reativas
  • Mexam os olhos de forma lenta e constante
  • Em casos raros, consigam formar lágrimas
  • Executem movimentos de mastigação e deglutição, mesmo que não tenham alimentos na boca
  • Bocejem
  • Às vezes, emitam sons guturais (sempre incompreensíveis)
  • Raramente, apresentem reflexos a estímulos como sons altos ou luzes fortes, pareçam franzir a testa ou sorrir.

 

O que acontece no cérebro em estado vegetativo?

Ainda não se sabe ao certo o que acontece ou se há algum nível de consciência no cérebro de pessoas em estado vegetativo.

Alguns estudos mostram que pode existir a chamada consciência oculta, ou seja, que não é expressa por meio de ações voluntárias.

Nesses casos, a atividade cerebral é parecida com a de indivíduos saudáveis, porém, só pode ser detectada com o suporte de alguns exames de neuroimagem, em especial:

 

Pessoa em estado vegetativo sente dor?

Depende do que se considera sentir dor.

O corpo em estado vegetativo tem reflexo motor diante da dor, sem, no entanto, possuir ciência de que ela representa uma ameaça.

Por isso, pessoas nessa condição não conseguem se desviar de objetos que estejam indo em direção aos olhos, por exemplo.

Nem usar as mãos para se defender e evitar um ferimento.

 

Condição vegetativa

O diagnóstico do estado vegetativo deve descartar qualquer sinal de consciência por parte do doente

É possível uma pessoa sair do estado vegetativo?

Embora as chances sejam remotas, é possível.

Existem fatores comuns aos pacientes que conseguiram recuperar algum nível de consciência, a exemplo do tempo que permaneceram em estado vegetativo.

Quanto menor for esse período, maior é a possibilidade de recuperação.

Depois de um mês nesta condição, considera-se que o indivíduo se encontra em estado vegetativo persistente (EVP).

Nesse cenário, as chances de cura também sofrem influência da causa dessa condição.

Quando o dano ao cérebro é provocado por lesão traumática, a melhora é improvável depois de um ano – quando é caracterizado estado vegetativo permanente.

Já se a causa for diferente de trauma, esse período cai para apenas um mês.

Para se ter uma ideia, aproximadamente 3% das pessoas em estado vegetativo apresentam recuperação depois de 5 anos.

Foi o caso de um homem de 35 anos que recebeu um tratamento experimental após permanecer por 15 anos em estado vegetativo, na França.

 

Como relata esta notícia, o paciente teve um eletrodo e um gerador de impulsos elétricos implantados perto da artéria carótida e abaixo da clavícula, respectivamente.

Os dispositivos tiveram como objetivo estimular o nervo vago.

Após um mês de tratamento, o doente demonstrou recuperar parte da consciência, executando comandos básicos e movendo a cabeça.

Outros casos revelam que o paciente em estado vegetativo pode acordar espontaneamente.

Um dos mais emblemáticos é o da professora Kate Bainbridge, que vivenciou essa condição em 1997, aos 26 anos, quando despertou seis meses depois do diagnóstico.

Durante o estado vegetativo, ela apresentava atividade cerebral com consciência oculta.

Direitos do paciente em estado vegetativo

A manutenção do tratamento de pacientes em estado vegetativo é uma questão polêmica.

Por um lado, a Constituição determina que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito e, por outro, estabelece a proteção à vida.

Há quem considere que este último preceito é ferido quando o doente deixa um testamento em vida, manifestando o desejo de descontinuidade de tratamentos que garantam apenas sobrevida.

Por outro lado, pode-se argumentar que a sobrevida dependente de aparelhos prejudica a dignidade humana.

Cada caso deve ser debatido pelas equipes de saúde, familiares e, quando necessário, com as autoridades competentes.

De qualquer forma, o paciente em estado vegetativo segue conservando direitos fundamentais como:

  • Cuidado humanizado para aliviar dores e outros desconfortos
  • Ser chamado pelo nome
  • Auxílio de um acompanhante que se responsabilize pela tomada de decisões e escolha de terapias
  • Receber monitoramento pelo mesmo médico, desde o início até o final do tratamento
  • Ser anestesiado quando houver indicação
  • Ter as informações disponibilizadas apenas a pessoas autorizadas, como familiares e a equipe de saúde.

 

 

Hospital pode dar alta a paciente em estado vegetativo?

A alta hospitalar depende de diversos fatores, que englobam desde a condição clínica até a humanização.

No caso de pacientes em estado vegetativo, que não podem decidir por si mesmos, considera-se ainda a vontade da família.

Quadros de estado vegetativo permanente em que a pessoa não precise do suporte de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) podem ser candidatos à desospitalização.

Nesse caso, passam a receber cuidados clínicos ou paliativos em casa.

Segundo o Caderno de Atenção Domiciliar do Ministério da Saúde:

“Os princípios dos cuidados paliativos incluem o respeito à vida, considerando a morte como processo natural, sem a intenção de apressá-la ou adiá-la, oferecendo um sistema de apoio para que os pacientes possam viver bem, com minimização dos sofrimentos físico, social, emocional e espiritual, até a sua morte”.

Quais são as causas de estado vegetativo?

Basicamente, qualquer patologia que lesione o cérebro de modo severo pode levar ao estado vegetativo.

 

 

No entanto, vale destacar o traumatismo craniano e a hipóxia (ausência de oxigenação) entre as causas mais prováveis, junto a:

 

Conduta médica na atenção ao paciente vegetativo

O diagnóstico do estado vegetativo começa com o exame clínico, atestando a incapacidade de respostas intencionais por parte do paciente.

É importante que haja também observação prolongada do paciente, durante horas e em diferentes situações, a fim de descartar algumas patologias.

Por exemplo, doentes com Parkinson em fases avançadas, apresentam comprometimento grave das funções neurológicas e motoras.

É preciso considerar também a possibilidade de um estado minimamente consciente, em que há indicações sutis de ciência sobre si e o ambiente em redor, com respostas voluntárias a estímulos.

Porém, a avaliação clínica não é suficiente para confirmar qualquer diagnóstico e deve ser complementada por testes neurológicos de imagem.

Ressonância magnética funcional, eletroencefalograma, tomografia PET e SPECT auxiliam na detecção do estado vegetativo e outras doenças neurológicas.

Após a confirmação do estado vegetativo, o médico deve considerar os detalhes do caso, suas causas e chances de cura para prescrever a terapia adequada.

Algumas pessoas podem se beneficiar do uso de medicações como apomorfina e amantadina, experimentando melhora na atividade cerebral.

Contudo, na maioria dos casos, o prognóstico é negativo, com altas chances de óbito alguns dias ou meses depois que o paciente sai do coma e entra em estado vegetativo.

Resta então oferecer conforto e cuidados paliativos, seja na unidade de saúde ou em home care.

A assistência deve focar na prevenção de úlceras por pressão, trombose venosa profunda, pneumonia e outros problemas.

Além, é claro, de manter o paciente bem nutrido e movimentar seus membros periodicamente, evitando contraturas.

Conclusão

Ao final deste texto, espero ter contribuído para aprofundar seus conhecimentos sobre o estado vegetativo.

 

 

 


obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico

abs

Carla

https://telemedicinamorsch.com.br/blog/r


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