Por Dr. José Aldair Morsch, 22 de setembro de 2021
A isquemia cerebral é uma doença que leva à interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro.
Como consequência, uma ou mais áreas do órgão deixam de receber oxigênio, representando risco de sequelas ao paciente ou mesmo de morte.
O quadro exige tratamento imediato para diminuir esses riscos e melhorar a qualidade de vida da vítima.
Daí a necessidade de conhecer os sintomas, causas e saber o que fazer diante de uma isquemia cerebral.
É sobre isso que falo nas próximas linhas, incluindo sugestões que auxiliam no tratamento e na recuperação do doente após o AVC isquêmico.
O que é isquemia cerebral?
Isquemia cerebral é uma emergência médica caracterizada pelo bloqueio do fluxo sanguíneo no cérebro.
Esse bloqueio pode ser provocado por massas que se deslocam ou se depositam nas artérias: os trombos ou êmbolos.
Sem sangue, as células locais – chamadas neurônios – não recebem o oxigênio e outros nutrientes de que precisam para realizar suas funções.
Caso não haja socorro rápido, os neurônios morrem, comprometendo uma ou mais tarefas coordenadas por essas células.
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Vêm daí o risco à vida e as sequelas deixadas pela isquemia cerebral.
Porém, o socorro ágil pode garantir a recuperação completa ou da maior parte das funções cerebrais, graças a tratamentos específicos.
Quem possui problemas de coagulação do sangue e doenças cardiovasculares como a hipertensão tem maior perigo de sofrer uma isquemia.
Contudo, investir no controle dessas patologias e num estilo de vida saudável diminui as chances de sofrer com esse mal.
Qual a diferença entre AVC e isquemia cerebral
Existem diversas nomenclaturas utilizadas pelos médicos e demais profissionais de saúde no dia a dia.
Por vezes, essa variedade de nomes acaba confundindo quem não está familiarizado com os termos técnicos.
Na verdade, a isquemia cerebral é um tipo de acidente vascular cerebral (AVC).
Tanto que, em termos médicos, ela é conhecida como Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI).
Então, vamos voltar um passo e entender o que é um AVC, começando pela definição da Organização Mundial da Saúde (OMS):
“AVC refere-se ao desenvolvimento rápido de sinais clínicos de distúrbios focais e/ou globais da função cerebral, com sintomas de duração igual ou superior a 24 horas, de origem vascular, provocando alterações nos planos cognitivo e sensório-motor, de acordo com a área e a extensão da lesão.”
A dificuldade para compreender que a isquemia se trata de um AVC vem, provavelmente, do fato de existirem dois tipos de acidente vascular cerebral.
O primeiro é o isquêmico (ou isquemia), que se refere ao entupimento dos vasos que transportam sangue até o cérebro.
Dependendo da gravidade, pode haver uma obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo.
A isquemia cerebral é o tipo mais comum de AVC, representando 85% dos casos desse evento.
No entanto, o tipo mais letal e perigoso é o AVC hemorrágico, que responde pelos 15% de casos restantes.
No AVC hemorrágico, o vaso sanguíneo não sofre apenas uma obstrução, mas se rompe.
O paciente sofre uma hemorragia que se estende pelo tecido cerebral ou alcança o espaço entre o cérebro e a meninge.
Muita gente acaba confundindo essas duas modalidades de acidente vascular cerebral, chamando o AVCI de isquemia, e o AVC hemorrágico, simplesmente de AVC.
Causas da isquemia cerebral
A maioria das causas do AVC isquêmico se relaciona ao espessamento das artérias que irrigam o cérebro, dificultando a passagem do sangue.
Por isso, muitos pacientes que sofrem de isquemia cerebral possuem doenças associadas que favorecem esse quadro, como a aterosclerose.
Aterosclerose é uma patologia que leva ao acúmulo de gorduras, cálcio e colesterol nas paredes das artérias, os vasos que transportam sangue oxigenado para todo o corpo.
Veja, a seguir, quatro principais causas para a isquemia cerebral.
Obstrução por ateroma
Quem desenvolve aterosclerose costuma passar algum tempo sem apresentar qualquer sintoma, até que as placas (ateromas) provoquem uma complicação.
Caso o depósito de gordura e outras substâncias gere um bloqueio importante em uma artéria do pescoço ou da cabeça, vai desencadear a isquemia.
Bloqueio por trombos
Trombos são coágulos formados por uma série de condições.
Uma delas, inclusive, é o entupimento parcial dos vasos sanguíneos por ateromas, fazendo o fluxo perder velocidade.
Circulando de forma lenta, aumentam as chances de o sangue coagular, formando trombos que obstruem as artérias.
Embolia
A embolia ocorre quando uma massa sólida se desloca do local de origem, viajando pelos vasos sanguíneos.
Essa massa pode ser tanto um coágulo ou trombo quanto um ateroma.
Ao se deslocar, ele pode acabar próximo à cabeça, causando isquemia cerebral.
Outras doenças
Existem patologias que modificam características do sangue, tornando-o mais propício à coagulação.
Por consequência, é mais fácil a formação de coágulos que atrapalham a circulação.
Uma delas é a superprodução de células sanguíneas como as hemácias, chamada policitemia.
Outro problema pode acontecer com doentes que têm anemia falciforme, porque essa condição diminui a entrega de oxigênio aos neurônios.
Fora esses males, os vasos do cérebro podem ficar mais estreitos por uma infecção ou inflamação.
Ou sofrer com a falta de irrigação sanguínea decorrente da redução na velocidade do líquido, afetada por ritmos anormais do coração como a fibrilação atrial.
Embora sejam relevantes, essas doenças são responsáveis por uma parte menor dos casos de isquemia cerebral.
Quais são os sintomas de isquemia cerebral?
Como alertei no início do texto, a isquemia cerebral é tempo-dependente, ou seja, tem maiores complicações conforme o tempo passa.
O atendimento precisa ser iniciado em até 4 horas e meia para diminuir os riscos.
Portanto, fique atento aos sintomas informados pelo Ministério da Saúde:
- Diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo
- Alteração súbita da sensibilidade com sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo
- Perda súbita de visão num olho ou nos dois olhos
- Alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a linguagem
- Instabilidade, vertigem súbita intensa e desequilíbrio associado a náuseas ou vômitos.
Além do AVC isquêmico, esses sinais podem aparecer por causa da isquemia cerebral transitória.
Esse é um quadro em que os sintomas desaparecem de modo espontâneo em cerca de um dia.
Também conhecida como mini AVC, a condição é desencadeada por uma interrupção ou redução pontual do fluxo sanguíneo no cérebro.
Apesar de parecer menos grave, ela também exige cuidados médicos ágeis para prevenir sequelas.
Riscos da isquemia no cérebro
O principal risco da isquemia no cérebro é a morte dos neurônios, que pode levar o paciente a óbito em poucas horas.
Contudo, a maioria dos doentes sobrevive com sequelas.
Essas marcas costumam ser diferentes em cada pessoa, porque dependem da área afetada e de características individuais.
Como o cérebro controla todas as funções do organismo, a parte prejudicada pela isquemia vai ditar quais ficam comprometidas.
Outro fator importante é o grau de comprometimento das células, que é bastante influenciado pelo tempo que o paciente teve de esperar por socorro.
Os danos podem ser permanentes ou parciais, apresentando melhora progressiva mediante terapias de reabilitação, a exemplo de remédios e fisioterapia.
De qualquer forma, há sequelas comuns, que cito abaixo:
- Paralisia de uma parte do corpo, como braços, pernas ou um lado inteiro
- Paralisia facial
- Fraqueza nos membros superiores ou inferiores
- Problemas para andar e desempenhar tarefas simples
- Dificuldade para se equilibrar
- Diminuição da capacidade de raciocínio
- Problemas para falar ou engolir
- Dificuldades para enxergar
- Perda da autonomia
- Alterações no comportamento
- Transtornos neurológicos.
Isquemia cerebral em idosos é grave?
Sim, a isquemia cerebral em idosos é grave e comum.
Para se ter uma ideia, as chances de sofrer um acidente vascular cerebral duplicam depois dos 55 anos.
Nesse cenário, faz sentido que estudos citem a idade como um fator de risco não modificável para ambos os tipos de AVC.
Outros fatores que não podem ser alterados são: sexo, raça, localização geográfica e hereditariedade.
Os homens são mais afetados pela doença, em especial porque são maioria entre os casos de hipertensão até os 50 anos.
Considerando a raça, negros têm risco duas vezes maior para desenvolver o AVCI.
Já o fator referente à localização geográfica aponta que hispânicos têm 1,5 mais chances de serem acometidos pela isquemia cerebral do que outros povos.
Isquemia cerebral tem cura?
Sim, muitos casos de isquemia cerebral têm cura.
Para tanto, é preciso realizar um tratamento que desfaça o trombo, êmbolo ou ateroma, liberando a passagem do sangue para todas as áreas do cérebro.
Pacientes que conseguem receber socorro rápido são candidatos à administração de medicamentos chamados trombolíticos, que dissolvem a massa sólida.
Outra opção é usar um cateter para aspirar o coágulo ou placa de gordura.
Ambas as terapias são realizadas em ambiente hospitalar, geralmente por uma equipe multidisciplinar.
Dessa forma, fica mais simples controlar a pressão arterial e outros pontos de interesse para o sucesso do tratamento.
Isquemia cerebral deixa sequelas?
A sobrevida do paciente costuma incluir sequelas permanentes ou transitórias, que podem desaparecer com o tempo.
E, claro, com o suporte de um tratamento eficiente para que o doente recupere as funções perdidas.
Nesse contexto, é relevante o envolvimento de médicos, profissionais de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos etc.
Qual é o médico especialista em isquemia?
O especialista qualificado para diagnosticar e tratar a isquemia no cérebro é o neurologista.
Esse é o médico apto para investigar os problemas que afetam o encéfalo, incluindo doenças cerebrovasculares como o AVC.
Passar por consulta com o neurologista esporadicamente ajuda a evitar complicações, além de melhorar a qualidade de vida.
Isso porque muitos males, especialmente os que afetam a circulação, podem ser prevenidos a partir de medidas simples.
Por exemplo:
- Manter uma dieta balanceada e nutritiva
- Fazer atividade física pelo menos 3 vezes por semana
- Parar de fumar
- Controlar o peso, mantendo o IMC (Índice de Massa Corporal) entre 20 e 25
- Fazer um checkup anual com bateria de exames, prestando atenção em indicadores como colesterol e triglicérides
- Manter doenças associadas sob controle, seguindo a recomendação médica para tratar pressão alta, diabetes, colesterol alto, arritmias e insuficiência cardíaca.
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abs
Carla
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