Demência
é um termo que choca a grande maioria dos leigos que o associa à ideia
de loucura. Em medicina, porém, a palavra demência tem significado
diferente. Ela é empregada para definir quadros que se caracterizam por
deficiência cognitiva persistente e progressiva. Essa falta interfere
nas atividades rotineiras do indivíduo, embora ele custe a perder a
consciência do mundo que o cerca.
Aud
Johannessen, norueguesa, especialista em Psiquiatria fala sobre esta
forma de enfermidade que, ao contrário do que se pensa, afeta também os
jovens. Ela nasceu há 60 anos, em Skien, mas mora numa pequena cidade ao
Sul de Oslo, Tønsberg, na Noruega, onde atua na área de Psiquiatria
para a velhice. É enfermeira e pesquisa doenças como o Alzheimer,
consideradas enfermidades que só acontecem com idosos.
“No mundo, há uma
grande falta de entendimento de que a demência é uma condição médica,
não uma parte ‘normal’ do envelhecimento”, diz Johannessen. Em
entrevista por e-mail, Aud Johannessen joga um pouco de luz sobre um
assunto considerado tabu pela maioria das pessoas.
O que é a demência?
Demência é o termo utilizado para descrever os sintomas de um grupo
alargado de doenças que causam um declínio progressivo no funcionamento
da pessoa. É um termo abrangente que descreve a perda de memória,
capacidade intelectual, raciocínio, competências sociais e alterações
das reações emocionais normais.
Quem desenvolve demência?
Apesar da maioria das pessoas com demência ser idosa, é importante
salientar que nem todas as pessoas idosas desenvolvem demência e que
esta não faz parte do processo de envelhecimento natural. A demência
pode surgir em qualquer pessoa, mas é mais frequente a partir dos 65
anos. Em algumas situações pode ocorrer em pessoas com idades
compreendidas entre os 40 e os 60 anos.
De que forma o mundo, mais velho que nunca, está lidando com a demência?
A
França e a Noruega foram os primeiros países a desenvolver um plano
nacional para o tratamento de pessoas com demência. A
institucionalização é um suporte do Estado, pois na maioria dos casos, o
filho da pessoa que tem demência não tem condições de cuidar dela
sozinho.
Com
as recentes mudanças culturais, menos pessoas dentro de uma família têm
disponibilidade para cuidar dos idosos. A doença no mundo todo é
negligenciada pelo estigma.
Segundo
o Fórum Econômico Mundial, os índices mundiais de diagnóstico continuam
baixos. No mundo, há uma grande falta de entendimento de que a demência
é uma condição médica, não uma parte “normal” do envelhecimento.
Quais são os primeiros sintomas e as promessas de novos tratamentos e medicamentos?
Comportamento agressivo, antes mesmo da falta de memória, e
desorientação. Os tratamentos devem ser desenhados para manter os
pacientes funcionais desempenhando ao máximo suas funções diárias. Em
relação à medicação, existem relatos de que as pessoas tomam remédios
para demência e agitação em excesso.
Medicamentos para acalmar são inimigos do tratamento, então?
Não ajudam. Podem diminuir muito a pressão e causar sonolência. Esta
variação não é saudável. É preciso sair da postura tradicional, que é
medicar, para adotar outras formas de tratamento, como caminhadas, e
outras atividades do gosto da pessoa. O tratamento deve ser individual.
Hoje,
a doença afeta 50 milhões de pessoas no mundo. Por que mais da metade
delas (58%) vive em países de renda média e baixa, se nos países mais
ricos há mais gente que envelhece? Isso passa pela necessidade de países
como o Brasil terem um programa de educação forte sobre o assunto, não
só para seu desenvolvimento, mas para diminuir também a gravidade da
doença e o estigma em torno dela.
Qual a diferença na gravidade dos casos em pessoas com mais ou menos educação sobre isso?
Se você exercita o cérebro da mesma forma que o físico, ganha força e
desenvolve resistência maior, permanece mais tempo funcional, e mais
ativo cognitivamente. Se a pessoa com demência recebeu mais educação,
tem vocabulário grande: se perde um sinônimo, há outros cinco. Ainda
está funcional. Muitas vezes, até está com o cérebro mais danificado,
mas tem mais capacidade para lidar com a doença.
Alzheimer é uma forma de demência?
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, constituindo
cerca de 50% a 70% de todos os casos. É uma doença progressiva,
degenerativa e que afeta o cérebro.
À medida que as células cerebrais
vão sofrendo uma redução, de tamanho e número, formam-se tranças
neurofibrilhares no seu interior e placas senis no espaço exterior
existente entre elas. Esta situação impossibilita a comunicação dentro
do cérebro e danifica as conexões existentes entre as células cerebrais.
Estas acabam por morrer, e isto traduz-se numa incapacidade de recordar
ou assimilar a informação. Deste modo, conforme a doença de Alzheimer
vai afetando as várias áreas cerebrais, vão-se perdendo certas funções
ou capacidades.
A demência pode ser provocada pelo álcool? O
consumo excessivo de álcool, particularmente se estiver associado a uma
dieta pobre em vitamina B1 (tiamina) pode levar a danos cerebrais
irreversíveis. Este tipo de demência (conhecido como Síndrome de
Korsakoff) pode ser prevenido e se houver cessação do consumo podem
existir algumas melhorias. As partes cerebrais mais vulneráveis são as
implicadas na memória, planejamento, organização e discernimento,
competências sociais e equilíbrio. Tomar vitamina B1 (tiamina) parece
ajudar a prevenir e a melhorar esta condição.
Será demência?
Existem várias situações que produzem sintomas semelhantes à demência,
como por exemplo algumas carências vitamínicas e hormonais, depressão,
sobredosagem ou incompatibilidades medicamentosas, infeções e tumores
cerebrais. Quando as situações são tratadas, os sintomas desaparecem. É
essencial que o diagnóstico médico seja realizado numa fase inicial,
quando os primeiros sintomas aparecem, de modo a garantir que a pessoa
que tem uma condição tratável seja diagnosticada e tratada corretamente.
Por outro lado, se os sintomas forem causados por uma demência, o
diagnóstico precoce possibilita o acesso mais cedo a apoio, informação e
medicação, caso esta esteja disponível.
A demência pode ser hereditária?
Isto irá depender da causa da demência, daí a importância de existir um
diagnóstico médico correto. Se tiver preocupações sobre o risco de
herdar demência, consulte o seu médico. Salienta-se que a maioria dos
casos de demência não é hereditária.
Quais são os sinais inicias da demência?
Os sinais iniciais de demência são muito subtis e vagos e podem não ser
imediatamente óbvios. Alguns sintomas comuns são: perda de memória
frequente e progressiva; confusão; alterações da personalidade; apatia e
isolamento; perda de capacidades para a execução das tarefas diárias.
O que fazer para ajudar?
Atualmente não existe prevenção ou cura para a maioria das formas de
demência. Todavia, existem medicações disponíveis que podem reduzir
alguns sintomas. O suporte é vital para as pessoas com demência. A ajuda
da família, amigos e cuidadores pode fazer uma diferença positiva na
forma de lidar com a doença.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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