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sexta-feira, 26 de maio de 2023

Preparando a casa e a vida para “receber” o Alzheimer – Papo de Cuidador

 1 de novembro de 2018

 

Papai tinha o hábito de guardar coisas que “um dia a gente pode precisar”, “não joga fora porque vou comprar uma cola especial e conserto o quebrado”, “porque vai dar essa roupa, se eu gosto dela”, “guarde esses 3 azulejos, porque a gente não sabe se vai precisar deles e não encontraremos em nenhuma loja”… e quando ele morreu, eu dei roupas que ele nunca tinha estreado, porque queria guardar para um momento especial; aqueles azulejos estão até hoje guardados para uma eventual troca.

O que papai não imaginava era que o momento especial é agora, porque é a única coisa que nós temos, nem um segundo a mais para realizar ou usufruir de algo, ou a menos para mudar alguma coisa.

O futuro é uma probabilidade e o passado, uma lembrança que não podemos mudar.

Carregamos coisas e lembranças amargas demais, guardamos palavras, gestos, medos e ofensas como se fizessem parte de nós e, embora tenham participado da nossa história, não precisamos carregar tanto peso inútil.

O Alzheimer me ensinou que a vida às vezes, é pesada demais e precisamos jogar fora tudo que não serve para nos fortalecer e trazer um pouco de paz. Isso serve para lembranças, emoções, pessoas que nos trazem problemas, trabalho que não traz felicidade e prosperidade simultaneamente, roupas que não nos servem mais, móveis quebrados e remendados muitas vezes…

Precisamos adaptar a vida para que essa caminhada não seja um calvário.

Pagamos um preço alto demais por nosso medo de soltar tudo que não nos serve. Nós usamos apenas 30% das funções de um celular, um carro, ou um computador e mesmo assim, corremos para conseguir o mais novo, mais moderno e “completo”, na tentativa desesperada para nos completarmos.

A vida pode ser mais fácil, se começarmos a adaptar a casa e o nosso mundo, às necessidades e pequenos prazeres.

Em primeiro lugar, doe tudo o que você não usa há mais de 6 meses, você precisará de espaço e tempo, e coisas inúteis ocupam espaço e tempo.

Quando o Alzheimer entra na nossa casa ela precisa ser adaptada, assim como nossos hábitos e vida. Faz parte da minha profissão ajudar a adaptar o espaço, para que o cotidiano seja o mais prazeroso possível.

Assim como adaptamos a casa para a chegada de um filho, ou a saída dele para sua própria casa, precisamos adaptar a casa da família que convive com o paciente de Alzheimer, porque tudo vai mudar.

Sugestões de adaptações para a casa:

– Não deixe objetos espalhados no chão, no caminho onde o idoso vai transitar.

– Tire do alcance deles objetos de decoração delicados, como cristais, vasos, etc. que podem quebrar e machucar o idoso.

– Crie caminhos livres para que ele possa transitar pela casa sem nenhum risco.

– Tire todos os fios das tomadas e coloque tampa na tomada, para que o idoso não leve choque tentando colocar algo dentro.

– Coloque Fita Antiderrapante nas áreas de piso frio e nos degraus das escadas.

– Evite as fugas, não esqueça de esconder as chaves da casa e dos cômodos, para que eles não se tranquem em banheiros ou quartos e depois não saibam abrir a porta.

– Elimine todos os tapetes e substitua em alguns locais, por placas de EVA de 2 cm de espessura. Coloque ao lado da cama e nos locais onde o idoso passa, como o caminho para o banheiro, em frente o vaso sanitário e a pia.

– Cuidado com os móveis baixos da sala e corredores que possuam cantos vivos, eles podem machucar as pernas dos idosos.

– Cuidado com cortinas, mamãe se agarrou na cortina do quarto e arrancou da parede. Ainda bem que o varão era um tubo muito leve e não machucou.

– Compre uma mesinha de apoio para colocar sempre ao lado dele, assim terá apoio para várias atividades e vai facilitar a vida do cuidador, porque não precisa deslocar o idoso, basta deslocar a mesinha.

Adaptações para o Quarto:

– Não deixe o quarto escuro, você vai levantar diversas vezes e o idoso também, deixe uma luz bem fraquinha acesa. Utilize lâmpadas econômicas para não aumentar demais sua conta de luz.

– Mantenha as janelas do quarto abertas para ventilação adequada, mas não esqueça a tela de proteção, para que o idoso não tente pular a janela e fugir.

– Ajuste a altura das camas e cadeiras para ajudar os idosos a entrar e sair delas sem dificuldade.

– Coloque um sino ou campainha pendurado na cabeceira da cama, acessível para que o idoso possa chamar, mesmo que esteja com dificuldade de locomoção e fala.

– Ao lado da cama coloque uma mesinha de apoio, ou criado mudo para apoio de telefone, copo de água, lenço de papel, abajur, lanterna.

– Forre o colchão com bom protetor e se não encontrar um bom preço, vá em lojas de plásticos e compre plástico grosso para proteger o colchão, a fralda não segura o xixi e se molhar o colchão ficará um cheiro insuportável.

Adaptações para o Banheiro:

– Coloque barras de apoio no boxe e ao lado do vaso sanitário.

– Coloque um banquinho firme no box, evite de plástico frágil demais pois as pernas do banco abrem e quebram com facilidade.

– Coloque tiras antiderrapantes no box, evite tapetinhos de borracha.

– Instale base para sabonete liquido no box e na pia.

– Tire a chave da porta do banheiro, para que não fiquem trancados caso tenham algum desmaio, ou queda.

Além de tudo isso, lembrem-se de que casa é mais do que paredes e teto, casa é o lugar no mundo que nos acolhe e protege, então não esqueçam de colocar alegria, amor, música, flores e muito carinho.

Até a próxima!

Míriam Morata, arquiteta e autora de Alzheimer diário do esquecimento, Alzheimer recolhendo os pedaços

 

 

 

 

obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico

abs

Carla

https://alzheimer360.com/adaptando-casa-vida-doenca-alzheimer/?fbclid=IwAR19hZ6J87_fMDUigiKpR2EzxLlxH30VRV7hNmSdxv9ti7zQdeFM8JXIA90


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