Para uns, o nome soa a doença de gente mais velha — ora, Esclerose Múltipla. Mas está aí um engano: a idade média do diagnóstico é de apenas 34 anos no Brasil.
E bem que a descoberta do problema poderia
acontecer ainda mais cedo, por volta dos 30 como em muitos lugares do
mundo, se por aqui as pessoas não demorassem quatro, cinco anos entre os
primeiros sintomas e a revelação de estragos nos neurônios, confirmados
por exames como o da ressonância magnética.
“Os avanços em
opções terapêuticas nas últimas décadas talvez só sejam comparáveis com
os do câncer”, nota o neurologista Guilherme Olival, que é diretor
médico da ABEM (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla).
A
questão é fazer com que as novas armas da Medicina sejam acessíveis na
rede pública e empregadas cedo. Uma série de confusões e o
desconhecimento sobre a doença não ajudam em nada nesse sentido.
A seguir, sete pontos para você ficar por dentro.
1. Quem tem casos de doença autoimune na família deve ficar esperto
Se há uma inclinação familiar para produzir anticorpos capazes de se
voltar contra os tecidos do próprio organismo — mesmo que a doença
autoimune de um parente não seja a Esclerose Múltipla —, então há um um
risco aumentado de os neurônios virarem alvo.
“Esse seria um
motivo extra para a pessoa não desprezar qualquer sintoma neurológico
que persista por mais de 24 horas”, diz o doutor Olival. Mas, cá entre
nós, a esclerose múltipla também pode surgir em famílias que nunca
tiveram nada parecido, embora aí a probabilidade seja menor.
“É
que não se trata de uma doença hereditária”, esclarece o neurologista.
“A bagagem genética que veio do pai e da mãe não determina que você terá
a doença. Na verdade, há mais de 200 genes associados à esclerose
múltipla, uns aumentando e outros diminuindo o seu risco. O conjunto
deles é que forma uma tendência maior ou menor de o problema se
desenvolver.”
2. O que levanta a suspeita
Guilherme Olival ressalta quatro sintomas que costumam ser os
primeiros a aparecer e que, às vezes, não recebem a devida atenção.
Um
deles é a fraqueza de um dos membros. De repente, um dos braços sente a
bolsa de todo dia virar um fardo. Ah, sim, aproveitando: dois em cada
três pacientes são mulheres.
Também pode acontecer de a pessoa
sentir bem mais a perna esquerda do que a direita, ou vice-versa, na
hora de subir uma escada. Tem gente que chega a arrastar o pé do lado
enfraquecido, como se mancasse.
O formigamento em uma região
específica do corpo — a qual vai depender da localização dos neurônios
atacados — é outro sintoma. “Mas alguns indivíduos, em vez de se
queixarem desse formigar, têm a sensação de uma anestesia local”, conta o
médico.
A perda de equilíbrio ao caminhar é outro sinal que não
deveria passar em branco. E, finalmente, a dificuldade para enxergar,
com as imagens tornando-se duplas ou tremendamente embaçadas. É que os
nervos envolvidos com a visão têm um bocado de mielina e se ressentem
quando ela vai para o espaço.
Mas nada é tão simples. “Embora a
gente fale nesses sintomas principais, há perto de uma centena de
outros”, diz o neurologista. “Alguns são raríssimos, como a convulsão ou
a dor facial provocada pelo nervo trigêmeo. E outros são até que
relativamente comuns, como a fadiga e a incontinência urinária.”
Para
embaralhar tudo, até mesmo quando se tratam daqueles sintomas
considerados os principais, eles não necessariamente aparecem juntos e
ao mesmo tempo.
3. Os sintomas podem ir e voltar
A Esclerose Múltipla tem uma forma menos comum conhecida como
progressiva. “Nela, desde o princípio, os sintomas vão se agravando
lentamente e sem parar”, explica Olival.
No entanto, cerca de
85% dos casos são o que os médicos chamam de remitentes recorrentes. “O
paciente tem surtos que podem durar umas duas semanas, nas quais os
anticorpos destroem a mielina dos neurônios. Mas, na sequência, a gente
vê uma melhora parcial ou até um período assintomático capaz de se
prolongar por meses ou anos em algumas pessoas.”
Parece bom, mas
há alguns perigos nisso. O primeiro é acentuar a tendência de alguém
empurrar com a barriga a busca por um diagnóstico, já que o incômodo
some depois de um tempo.
O segundo é que, no campo da esclerose
múltipla, não falta gente oportunista oferecendo picaretagem e cura.
Cura — alto lá! — não existe. O que existe é controle. E os tratamentos
falsos, que vão de dietas restritivas a cirurgias, iludem fazer efeito
porque existem essas tréguas na forma remitente recorrente.
O
problema é que, passado um período, sem os medicamentos corretos para
conter a fúria dos anticorpos, esse tipo passa a se comportar como a
forma progressiva. Aí fica mais difícil segurar.
4. E se as pessoas parassem de fumar?
Se não é a genética sozinha que determina o aparecimento da esclerose
múltipla, fácil deduzir que fatores ambientais têm um papel de valor.
Certas viroses, por exemplo. O vírus Epstein-Barr, causador da
mononucleose, a popular doença do beijo, é crucial. Ele não causa a
esclerose múltipla, mas dá um empurrãozinho.
Outro fator é o
cigarro. “Um estudo aponta que, se todas as pessoas parassem de
tragá-lo, haveria uma redução de 30% dos casos de esclerose múltipla em
todo o mundo”, diz o doutor Olival.
A hipótese é de que as
toxinas do tabaco contribuam para confundir o sistema imune, que por
engano atacaria a mielina em vez de se ocupar com vírus, bactérias e
afins. Em tempo, fica o recado: a fumaça deve passar longe de quem tem a
doença para evitar o seu avanço acelerado.
5. A obesidade tem seu peso
Além de parar de fumar, quem tem esclerose múltipla precisa fazer
atividade física orientada, que sabidamente tem um impacto no bom
funcionamento dos neurônios.
A sempre sonhada dieta equilibrada
cai bem, evitando alimentos cheios de sódio e conservantes, como os
embutidos e os enlatados. Alguns trabalhos sugerem que seu consumo
regular ou exagerado pioraria a situação.
A gente tampouco deve
se esquecer que a dobradinha exercício e boa alimentação ajuda a
eliminar o excesso de gordura. “E a obesidade está relacionada ao
agravamento do quadro”, complementa Guilherme Olival. “Provavelmente
porque o estado inflamatório desencadeado por ela cria brechas na
barreira hematoencefálica, que envolve o cérebro.” Isso facilitaria a
entrada dos anticorpos que arruínam a mielina.
6. Banhos de sol
A esclerose múltipla é bem mais prevalente em regiões de clima frio.
Nos países escandinavos, por exemplo, são entre 80 e 100 casos a cada
100 mil habitantes, enquanto no ensolarado Brasil a doença soma 15 casos
em cada 100 mil pessoas.
A aposta está na vitamina D produzida
pela pele sob a radiação solar. Ela ajudaria a regular o sistema
imunológico. Até mesmo o sol que a mulher toma durante gravidez contaria
para diminuir o risco do filho. Mas não caia na tentação de engolir
suplementação à toa: “Ela tem efeitos adversos e só faz sentido se
existe uma carência de vitamina D comprovada”, garante o neurologista.
7. Quem se trata cedo pode levar uma vida normal
Antes, os portadores de Esclerose Múltipla precisavam lançar mão de
imunossupressores que calavam o ataque à mielina na mesma proporção com
que inibiam as defesas para agir contra infecções diversas.
“De
uns dez anos para cá, porém, eles passaram a contar com imunomoduladores
e anticorpos monoclonais que barram especificamente o ataque à mielina,
mas sem aumentar o risco de complicações da covid-19, por exemplo”, diz
Olival.
Um desses remédios potentes, a Cladribina, está neste
momento em consulta pública para ser incorporado pelo SUS. Se for, fará
uma diferença danada. “Ela age como se reiniciasse o sistema
imunológico”, conta o neurologista.
O detalhe é que, embora seja
dada por um período muito curto, o que a torna mais segura, o seu efeito
é dos mais duradouros. Estudos realizados na Itália, onde a medicação
está disponível há mais tempo, registram que alguns pacientes estão há
uma década sem sentir nada. Suas defesas, reiniciadas, pelo menos até
agora não repetiram o erro de atacar a mielina.
Matéria original: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2022/05/03/esclerose-multipla-7-coisas-que-fariam-diferenca-e-muita-gente-nao-sabe.htm
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
https://www.abem.org.br/
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