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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

SENTIMENTOS QUE PERMEIAM O ADOECER

 Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "@INSTITUTOBERNALMEIDA "É muito triste, eu acho, né? Você está convivendo com uma pessoa, é filho daquela pessoa, está convivendo com ela, e chegar ao ponto dela não conhecer você e perguntar: Quem é você? Aí você vai responder o quê? Sou seu filho? Ela pode se lembrar no momento, mas depois ela esquece. Aí fica aquela coisa triste, uma angústia de ver que sua mãe esqueceu você." CHAMADO Elizeu Cuidador Familiar"

 

O familiar cuidador pode experimentar diversos sentimentos diante das perdas que envolvem o adoecer, mas diante da demência também vive as inquietudes pelo fato do paciente, não poder dar um feedback adequado.
 
Entre outras consequências da doença, a perda da memória faz com que ela seja devastadora para a família. Esse Cuidador Familiar corroborara com essas afirmativas quando disse:
 
“É muito triste, eu acho, né? Você está convivendo com uma pessoa, é filho daquela pessoa, está convivendo com ela e chegar ao ponto dela não conhecer você e perguntar: Quem é você? Aí você vai responder o quê? Sou seu filho? Ela pode se lembrar no momento, mas depois ela esquece. Aí fica aquela coisa triste, uma angústia de ver que sua mãe esqueceu você.
 
Os familiares de pacientes com doenças degenerativas frequentemente utilizam a expressão ("morte em vida"), uma vez que elas comprometem tanto psíquica como funcionalmente o indivíduo. Dessa maneira, as famílias, ao enfrentarem o processo de demência, experimentam muito desconforto uma vez que a dor que os familiares vivenciam é por se tratar da "morte antes da própria morte".
 
Isto é referido nas falas de alguns cuidadores, nas quais identificam-se sentimentos de perda, como se o doente morresse um pouco a cada dia, vivendo assim um luto antecipado.
 
“Vem um sentimento de perda, pra mim é de perda. Porque aí eu tenho certeza de que eu tô perdendo a minha mãe, entendeu? É como se eu visse que ela está morrendo, sabe, aos pouquinhos.”
 
Alguns cuidadores experimentam o sentimento de impaciência decorrente do estresse e da dificuldade para lidar com alguém que tem as suas funções cognitivas afetadas. O perigo é que daí pode decorrer a violência contra o doente.
 
“E tem hora que eu perco até a paciência, sabe? Aí na mesma hora eu digo: se eu perder a paciência com ela, ela não tem culpa. Por que às vezes o que ela faz, que ela tenta me agredir, parece que eu quero revidar, sabe? Aí eu disse não, porque não é minha mãe que tá fazendo, é a doença.
 
“Eu, eu... fiquei grosseira. Tinha hora que eu perdia a paciência, sabe? Aí eu sei que eu fiquei assim muito nervosa. (...) Eu fiquei sem paciência com ele, das teimosias, tá entendendo? (...) Aí eu disse: Dr. eu tô sendo agressiva com (diz o nome do marido). E quando é de noite eu tô chorando e pedindo perdão a Deus. (... ) Porque tinha hora que eu extrapolava mesmo, quando era de noite é como eu estava lhe dizendo, eu ia rezar e pedir perdão. (Risos) Mas Deus disse a mim que já estava cansado de tanto eu tá pedindo perdão e fazendo a mesma coisa.
 
“Se você não tiver uma cabeça boa, você acaba agredindo, você perde a paciência. Muitas vezes eu cheguei a gritar, não vou dizer que eu fui santo, né? (...) Aí quando eu via que... Que eu começava a gritar, que eu perdia a paciência, saia de junto. Chamava minha irmã e dizia: fica com ela, porque eu não quero gritar não, porque possa ser que eu perca a paciência, sem querer vou pegar nela, machuco, posso até... sei lá, não sei o que vai passar pela minha cabeça...”
 
Identificou-se, em outros recortes, o sentimento de pena pelo idoso estar em um estado de dependência e de fragilidade.
 
“Meu sentimento? (voz trêmula) Ah... Eu fico, às vezes, assim olhando pra ele, aquele olhar tão perdido, me dá uma pena...
 
“Olhe, eu sinto o seguinte: eu sinto pena dela. Pena dela pela.... Pelo que ela mostrava, o que ela era prá gente. Assim... de...de vigor, de saúde...(...) Aí assim, eu fico muito triste, eu fico com muita pena dela e fico imaginando a situação dela em cima de uma cama.”
 
Constata-se que os familiares cuidadores vivenciam diversos sentimentos diante das frustrações que a doença traz. Por um lado, sentem pena por ver seu ente querido em um estado de total dependência, mas devido à pressão psicológica a que estão sendo submetidos, em alguns momentos sentem que estão perdendo o controle. Ainda relacionado a esses recortes, no processo de cuidar de um ente próximo que se torna dependente existe uma "turbulência de sentimentos", que se originam a partir de sentimentos que envolvem defrontar-se com a fragilidade e a finitude do ser humano (Mendes, 2004).
 
Defrontar-se com uma doença progressiva de uma pessoa tão próxima, que leva inevitavelmente a perder a sua própria identidade e sua independência funcional, faz aflorar sentimentos de medo de adoecer também, e de tristeza devido à possibilidade de perder seu familiar. A verbalização abaixo confirma o que foi dito:
 
“Eu tenho medo de ter Alzheimer, porque eu ando muito esquecida... (Risos) Eu tenho medo que eu tenha essa doença... E eu não quero nem pensar, sabe, porque eu sei que vou ficar à míngua. (...) E eu estou sentindo que eu estou ficando esquecida também. Eu leio uma coisa, às vezes quero me lembrar e eu não consigo, entendeu? Eu digo: Meu Deus será que estou com esse problema de mamãe?
 
Estou de pés e mãos amarrados e sei que a doença está evoluindo, evoluindo. E assim... Às vezes eu tenho vontade de perguntar a Dra. (diz o nome do médico assistente) : Dra., quanto tempo mais ou menos?. Mas que pergunta difícil de ser feita... Mas eu sei que está chegando ao fim doutora, eu sei disso. (Chorando) E isso está me matando...
 
No caso em que um membro de um casal é o portador da demência, um sentimento também apontado foi o de solidão:
“Me sinto sozinha, né? Por que ele só faz dormir, não conversa mais.
Neste aspecto, existe apenas um cônjuge, uma senhora também idosa que residia sozinha com seu marido. Acredita-se que este fato, além da pouca atividade de lazer em seu cotidiano, contribui para seu sentimento de solidão.
 
Referências
Abras, R. & Sanches, N.R. (2004). O idoso e a família. In Mello, J. Filho & Burd, M. (Orgs), Doença e família (pp. 233-241). São Paulo: Casa do Psicólogo.

 

 

 

 

 

    



CÂNCER BILIAR,
 LÚPUS, LEUCEMIA

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abs.

Carla

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