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quarta-feira, 22 de maio de 2024

Quando é possível considerar um câncer curado?

 por Juliana Conte

 

 

Publicado em: 05/05/2022

Revisado em: 05/05/2022

 

Esta é, com certeza, uma dúvida que assombra muita gente. Não existe uma data precisa, e o acompanhamento oncológico anual é fundamental nos primeiros anos após o tratamento. 

 

Descobrir um câncer não é fácil. Pacientes e familiares ainda tendem a encarar o diagnóstico como uma sentença de morte, por conta do número elevado de óbitos que ocorriam no passado, quando os tratamentos tinham pouquíssima ou nenhuma efetividade. 

Drauzio Varella, médico oncologista há mais de 40 anos, costuma relatar que houve uma fase em que o tratamento do câncer era basicamente cirúrgico. As operações eram agressivas, e os cirurgiões procuravam retirar não só o tumor, mas também grande margem de tecidos sadios em volta dele. Muitas vezes, por causa de um tumor de 1 cm na mama, era retirado o órgão inteiro, e a paciente era encaminhada para a radioterapia. A consequência mais triste dessa radicalidade bem-intencionada era a mutilação das mulheres.

Com os avanços tecnológicos dos tratamentos – cada vez mais individualizados –, aliados à maior compreensão sobre as características dos tumores, a crença de que o câncer sempre leva à morte vai sendo deixada de lado, e a sobrevida dos pacientes segue aumentando. 

Quando o indivíduo tem a sorte de conseguir o diagnóstico nos estágios iniciais, a chance de cura chega a 80%, independentemente do tipo do tumor. Em outros casos, mesmo com a doença avançada e sem perspectiva de cura, é possível encarar o câncer como uma doença crônica, em que são necessários cuidados e monitoramento constantes, como no caso do diabetes, por exemplo. 

Ainda assim, não podemos esquecer que o câncer é uma enfermidade complexa e de uma diversidade biológica enorme. Os tumores são muito diferentes entre si e se comportam de maneiras distintas em cada pessoa. “Câncer de ovário e leucemia, por exemplo, são duas patologias com menos semelhanças do que insuficiência renal e insuficiência respiratória”, explica Drauzio. 

 

Alta no tratamento: o que isso significa?

Receber alta de um tratamento oncológico nem sempre significa que o paciente está totalmente curado. Isso acontece porque existem muitas variáveis em jogo, como estilo de vida, genética, tipo de tumor, e se, porventura, ainda exista resquício de células cancerosas no organismo que não foram localizadas nos exames de imagem. 

Para se ter uma ideia, um tumor de 1 cm³ abriga entre 100 milhões e 1 bilhão de células cancerosas; logo, metástases com um número pequeno de células são difíceis de serem detectadas. 


 

Cinco anos sem câncer, posso me considerar curado?

Segundo o médico oncologista dr. Rafael Schmerling, líder médico do Serviço de Oncologia do Hcor, esse número é uma medida grosseira e folclórica, porque tudo vai depender do tipo e biologia do tumor e dos tratamentos disponíveis e empregados. 

Atualmente, as pesquisas clínicas mostram que o tumor de mama, por exemplo, pode apresentar recidivas tardias (5 ou 10 anos após o tratamento inicial). Por outro lado, em um câncer de pele tipo melanoma avançado que foi tratado com imunoterapia, se em 3 anos não recidivou, o risco de isso ocorrer se torna mínimo. 

“Nunca vamos ter 100% de certeza, essa é a verdade. Essa marca de 5 anos é o período pelo qual normalmente os pacientes costumam ser acompanhados de perto tanto pelo oncologista responsável quanto pelos estudos clínicos, que costumam acompanhar um grupo de pacientes por um limite de tempo já preestabelecido”, ressalta Schmerling. 

 

Vigilância ativa após o tratamento

Dr. Daniel Cubero, oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica ainda que o paciente oncológico deve fazer consultas médicas regulares, mesmo se estiver sem sintomas.

 

“Ele é acompanhando de perto nos primeiros 2 anos, fazendo exames clínicos e laboratoriais a cada 3 meses. Depois de 2 anos, a periodicidade passa ser a cada 6 meses, até chegar a um ponto em que ele vai fazer essa vigilância ativa uma vez ao ano. Se ele permanecer em remissão completa por 5 anos ou mais, normalmente, pode ser considerado curado. Mesmo assim, algumas células cancerosas podem permanecer no corpo por muitos anos após o tratamento e fazer com que o câncer volte um dia”, explica.  

O que muitas vezes é possível estimar, baseado em estudos do próprio comportamento do tumor, é a probabilidade de recidiva com o passar dos anos. “Por mais que seja um dos maiores desejos do paciente nas consultas, é muito difícil dar informações tão precisas para uma doença com tanta peculiaridade”, afirma o dr. Drauzio.

 

Risco de recidiva e envelhecimento 

Dependendo da idade, um em cada quatro pacientes corre o risco de desenvolver um segundo tipo de câncer, sem que ele tenha qualquer relação com o primeiro ou seja originário de metástase. Foi o caso da apresentadora Ana Maria Braga, que teve três tipos de tumores diferentes num intervalo de 30 anos.

“Infelizmente, nada impede que o paciente mesmo curado do primeiro câncer desenvolva outro. Ainda mais a partir do envelhecimento do indivíduo, que se torna um fator de risco importante. Pacientes com câncer que fumam também têm maiores riscos de recorrência do tumor, por isso é importante ficar atento”, reforça o dr. Daniel Cubero. 

Devido à complexidade do câncer, que não diz respeito a uma única doença em si, mas a um conglomerado de sintomas específicos, muitos pacientes vão aprendendo a trocar a palavra “cura” por “controle” e conseguem ter uma qualidade de vida adequada. Por isso é de extrema importância tentar manter os exames em dia e evitar hábitos que comprovadamente fazem mal à saúde, como fumar e não praticar exercícios físicos.

 

 

 

FONTE: https://drauziovarella.uol.com.br/


 

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abs

Carla

 

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