Postado em 9 de maio de 2022
A depender do microambiente celular, antioxidantes podem trazer benefícios ou malefícios
O consumo de alimentos ricos em antioxidantes é frequentemente incentivado como forma de prevenção de doenças. Sendo o câncer uma das maiores causas da mortalidade no mundo, diversas estratégias são propostas para reverter essa situação. Desse modo, seria o consumo de antioxidantes uma estratégia eficaz? Continue lendo para compreender a fundo a relação entre antioxidantes e câncer.
Espécies reativas de oxigênio, estresse oxidativo e câncer
Em primeiro lugar, precisamos entender o estresse oxidativo, causado pelas espécies reativas de oxigênio (EROs).
Como subprodutos da respiração celular, EROs funcionam como mensageiros secundários na sinalização celular, ativando diversos receptores envolvidos na sobrevivência, progressão, migração e invasão celular.
Embora um nível mínimo de EROs seja necessário para vários processos fisiológicos, sua produção excessiva leva ao estresse oxidativo. Nesta condição, vários processos fisiopatológicos são facilitados, e o câncer é um deles.
Como as EROs levam ao câncer?
Em excesso, as EROs interagem com as seguintes biomoléculas, contribuindo diretamente na carcinogênese:
- Proteínas: clivagem de peptídeos, danos oxidativos em aminoácidos e disfunção proteica;
- Lipídios: dano oxidativo, levando à perda das propriedades das membranas celulares;
- RNA: codificação de proteínas imperfeitas;
- DNA: quebra das fitas, mutações, instabilidade genética e mudanças epigenéticas.
Além disso, as EROs também promovem a inflamação crônica, e o crescimento e sobrevivência de células cancerígenas por outras diferentes estratégias. Uma delas consiste na ativação da via glicolítica, de modo a fornecer às células cancerígenas um benefício adicional com um excesso de ATP, para crescerem e se dividirem no microambiente sem oxigênio.
Antioxidantes no combate ao câncer
Para neutralizar as EROs, temos em nosso corpo um arsenal de antioxidantes endógenos (CAT, SOD, GPx, GSH, entre outros). Ademais, também consumimos vários antioxidantes exógenos através da dieta (curcumina, queratina, resveratrol, vitamina A, C, E, etc).
Esses antioxidantes, através da prevenção da oxidação de macromoléculas, e da inibição da glicólise nas células cancerígenas, reduzem o crescimento e a sobrevivência celular, fator importante na indução da morte celular.
Em geral, um maior teor de antioxidantes na dieta é associado a uma menor taxa de estresse oxidativo no câncer. Outros artigos mostram ainda que a suplementação oral de antioxidantes pode reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, levando a uma melhor qualidade de vida.
Já foi demonstrado que os níveis de antioxidantes são mais baixos em pacientes com câncer, mesmo antes do início do tratamento oncológico.
Antioxidantes são sempre benéficos?
Apesar dos benefícios na prevenção e combate ao câncer, estudos revelaram que os antioxidantes também podem atuar como agentes promotores de tumores. Mas como?
Ao passo que alguns medicamentos tentam matar as células cancerígenas através da geração de EROs, os antioxidantes, ao eliminar as espécies reativas, impossibilitam também essa apoptose celular.
Outros mecanismos dos antioxidantes também podem promover o câncer, como interrupção do eixo ROS-p53 (que atua suprimindo o tumor) e a ativação do fator de transcrição NFR-2 nas células cancerígenas, tornando-as quimiorresistentes.
Em uma investigação com 2.223 mulheres, descobriu-se que o uso de suplementos antioxidantes durante o tratamento quimioterápico e radioterápico aumentou a mortalidade geral e piorou a sobrevida.
Desse modo, suplementações de antioxidantes que excedam as DRIs não são recomendadas pelo Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. Como alternativa, indica-se uma dieta rica em frutas e vegetais (5 ou mais porções diárias).
A relação entre antioxidantes e câncer é ambígua
A partir da literatura científica, conclui-se que a relação entre antioxidantes e carcinogênese depende do microambiente celular: às vezes, previnem o câncer; outras vezes, ocorre o inverso.
Quando EROs estimulam mutações e induzem a carcinogênese, os antioxidantes podem neutralizar as EROs e inibir o câncer. Já quando as EROs atuam inibindo a progressão do tumor através do sinal apoptótico, os antioxidantes aumentam a sobrevivência das células cancerígenas.
Apesar destes efeitos contrários, é possível que a ingestão dietética de antioxidantes promova a redução dos efeitos colaterais da doença, sem afetar a eficácia do tratamento (ao contrário da suplementação). Neste sentido, mais investigações ainda são necessárias.
Referências:
JELIC, Marija Dragan et al. Oxidative stress and its role in cancer. Journal of Cancer Research and Therapeutics, v. 17, p. 22. 2021.
MAJUMDER, Debabrata et al. Understanding the complicated relationship between antioxidants and carcinogenesis. Journal of Biochemical and Molecular Toxicology, v. 35, n. 2, p. e22643, 2021.
REITZ, Luiza Kuhnen et al. Dietary Antioxidant Capacity Promotes a Protective Effect against Exacerbated Oxidative Stress in Women Undergoing Adjuvant Treatment for Breast Cancer in a Prospective Study. Nutrients, v. 13, n. 12, p. 4324, 2021.
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Carla
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