O que acontece quando ficamos doentes e temos diabetes?
– Precisamos de mais energia para combater a doença.
– Nosso corpo reage liberando hormônios que dificultam a ação da insulina, produzida pelo corpo ou administrada no subcutâneo, e aumentam a produção de açúcar pelo fígado.
– Para quem tem diabetes essa elevação de hormônios pode levar ao aumento da glicemia (açúcar no sangue) e aumentar o risco de complicações agudas que conhecemos como cetoacidose diabética e coma hiperosmolar.
Quais as doenças com maior probabilidade de alterar a glicemia?
• Resfriado ou gripe comum, incluindo COVID-19
• Dor de garganta, infecções do trato urinário, bronquite ou infecções no peito e diarreia
O aumento de cortisol (hormônio que aumenta a glicemia) no organismo ou o uso de corticoides também podem elevar a glicemia
O que devo fazer para evitar elevação da glicemia nos dias de doença
Procure discutir com seu médico as recomendações de ajustes de doses de insulina(s) ou medicação em dias de doença
O que devemos saber?
- Qual a meta de glicemia durante uma doença
- Como ajustar os medicamentos (por exemplo, como ajustar a(s) dose(s) de insulina(s) e quando usar insulina)
- Com que frequência devo verificar os níveis de açúcar e cetona no sangue
Quando devo entrar em contato com a equipe de saúde para obter ajuda
- Se não souber o que fazer
- Se vomitar repetidamente e estiver com risco de desidratação
- Se a glicemia permanecer alta por mais de 24 horas
Gerenciamento do diabetes durante uma doença – para pacientes com diabetes tipo 1
- Tome medicação para diabetes conforme a prescrição (receita). O tratamento com insulina nunca deve ser interrompido.
- Beba líquido extra e sem calorias (120 a 180 ml a cada meia hora para evitar desidratação) e tente comer normalmente.
- Verifique a temperatura. Febre pode ser um sinal de infecção.
- Beba bebidas açucaradas, se não for possível ingerir 50 gramas de carboidratos através dos alimentos. Mas cuidado para a glicemia não subir muito.
- A dose de insulina basal (ação prolongada) e bolus (rápida) podem precisar de aumentos para redução da glicemia, bem como pode ser necessário dose(s) extra(s) de insulina bolus.
- Teste a glicemia a cada 4 horas. Os níveis ideais de glicemia estão entre 110-180 mg/dL. Observe as recomendações nos gráficos abaixo para ajustes de dose de insulina se necessário.
Todos com diabetes tipo 1 devem ter tiras de teste para glicemia em casa e, se possível, também tiras de teste de cetona no sangue e na urina para dias de doença e em dias que as glicemias se mantêm elevadas. Se o teste for positivo para cetonas, o tratamento hospitalar é uma alternativa.
Recomendações para ajuste da insulina em adultos com DM1 em tratamento basal-bolus
- Avaliar a glicemia e as cetonas (especialmente se glicemia > 270 mg/dL), a cada 4 horas, durante dia e noite. Se as cetonas no sangue forem > 3,0 mmol/L vá ao hospital imediatamente; pode ser necessária insulina e a administração de soro intravenosos (IV).
- Se não estiver comendo normalmente, substituir os carboidratos comuns por líquidos que contêm açúcar.
- A fórmula que utiliza a Dose Total Diária de Insulina (DTDI) ajuda a
decidir a dose de correção da glicemia, com insulina bolus (de ação
rápida: insulina humana regular ou análogo de insulina de ação rápida).
- Adicionar o número de unidades de insulina (basal e bolus) que o paciente, geralmente, utiliza todos os dias. DTDI = ______ unidades.
- Calcular 10% = ____ 15% = _____ 20% = ____ da DTDI. Esta é a dose extra para correção ou bolus de correção.
- Seguir a tabela abaixo para decidir a dose de insulina bolus (de ação rápida) que deve ser administrada a cada 4h, além das doses usuais de insulina. Repetir a insulina a cada 4h, se necessário, conforme a tabela abaixo.
Adulto com DM1 e em tratamento com bomba de insulina
Na vigência de glicemia aumentada (> 300 mg/dL) e sem cetonas (<0,6 mmol/L)
- Administrar o bolus de correção por meio da bomba de insulina e checar a glicemia após 1 hora
- Redução da glicemia ≥ 50 mg/dL voltar às medidas da rotina
- Não houve redução da glicemia ≥ 50 mg/dL
- Administrar ½ da dose do bolus de correção anterior, em seringa ou caneta
- Troca o conjunto de infusão e reiniciar a bomba de insulina
- Após 1 hora checar a glicemia e caso não tenha havido redução da glicemia em ≥ 50 mg/dL, checar cetonas
- Cetonas negativas, voltar às medidas da rotina
- Cetonas positivas (≥ 0,6 mmol/L)
- Basal temporário + 10 a 20%, por 4 horas
- Reavaliar a glicemia e cetonas e consultar o médico
Na vigência de glicemia aumentada (> 300 mg/dL) sem cetonas (<0,6 mmol/L)
- Administrar o bolus de correção com seringa ou caneta
- Trocar o conjunto de infusão
- Basal temporário + 10 a 20%, por 4 horas
- Cetonas moderadas (0,6 – 1,4 mmol/L)
- Aumentar o bolus de correção em 10%
- Cetonas elevadas (1,5 – 3,0 mmol/L)
- Aumentar o bolus de correção em 20%
- Reavaliar glicemia e cetonas e consultar o médico
Orientação sobre os cuidados com crianças e adolescentes doentes no período de pandemia com COVID-19.
Algumas particularidades do gerenciamento de crianças e adolescentes com diabetes em dias de doença, incluindo COVID-19, serão discutidas abaixo.
- Pacientes e familiares de crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 devem ser orientados sobre o gerenciamento do diabetes durante quadros de infecção:
- Nas crianças pequenas, a hidratação oral pode conter açúcar ou não, a depender das glicemias
- A febre deve ser medicada
- Situações como gastroenterites (diarreias) pode ser necessário diminuir a dose da insulina, por baixa ingestão ou perdas. Entretanto, insulina basal adequada deve ser mantida para evitar hiperglicemia e cetonas elevadas
- O objetivo é manter glicemias entre 70 a 180mg/dL e cetonas < 0,6mmol/L quando a criança está doente
Na vigência de glicemia aumentada (> 270 mg/dL) sem cetonas (<0,6 mmol/L) ou cetonas moderadas (0,7 – 1,4 mmol/L)
- Administrar 5% a 10% da dose total de insulina ao dia (0,05 a 0,1U/Kg) como insulina bolus a cada 2 a 4 horas de acordo com a glicemia e condição clínica
- Para usuários de bomba de insulina, utilizar o basal temporário aumentando de 10 a 30%, por 4 horas e reavaliar a necessidade de repetir a ação.
Na vigência de glicemia aumentada com cetonas elevadas (>1,5 – 3,0 mmol/L)
- Administrar 10% a 20% da dose total diária de insulina (0,1 a 0,2U/Kg) como insulina rápida a cada 2 a 4 horas de acordo com a glicemia e condição clínica
- Para usuários de bomba, utilizar o basal temporário aumentando de + 20 a 50%, por 4 horas e reavaliar a necessidade de repetir a ação.
Obs: alguns sensores de monitorização contínua sofrem interferência sob uso de acetaminofen, vitamina C, aspirina.
Buscar auxílio médico imediato se:
- Sintomas como febre alta, tosse e falta de ar
- Vômitos persistentes além de 2 horas, especialmente nas crianças pequenas
- Glicemia continua aumentando apesar das medidas de aumento nas doses de insulina
- Níveis persistentes de cetonas acima de 1.5mmol/L
- Mudança no comportamento neurológico da criança ou adolescente como confusão mental, convulsão ou perda da consciência.
Recomendações para pessoas com diabetes tipo 2
Em pessoas com diabetes tipo 2 os seguintes sintomas podem ser indicativos de níveis elevados de glicemia (hiperglicemia):
- Boca com sede / seca
- Urinar grandes volumes o que pode levar à desidratação
- Cansaço
- Perda de peso
Para pacientes com diabetes tipo 2 em uso de antidiabéticos orais
- Pode ser necessário verificar a glicemia, pelo menos 2 vezes ao dia
- Objetivo glicêmico de 110 a 180 mg/dL
- Pode ser necessário interromper, temporariamente, o uso da metformina, o que é aconselhável em casos de infecções graves ou desidratação
- Substituir a metformina por outro antidiabético oral ou insulina, dependendo do nível de glicemia
- Glicemias > 180 mg/dL
- Aumentar a dose de insulina e verificar a glicemia mais vezes
- Glicemia > 270 mg/dL
- Verificar a glicemia a cada 4 horas
- Medir as cetonas na urina e se positivas contactar o médico.
Referências
- International Diabetes Federation – Europe. How to manage diabetes during na illness? “Sick Day Rules”. https://diabetesvoice.org/en/news/covid-19-and-diabetes/ Acessado em 22/03/2020.
- ISPAD 2018 e 2020 – Recomendations COVID-19 Children and Adolescents with Diabetes.
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