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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O Idoso Oncológico

  Por:

Nivaldo Barroso de Pinho

Doutor em
Ciências Nutricionais, Mestre em Nutrição Humana, Especialista em Nutrição
Oncologica.

 A associação entre câncer e
envelhecimento parece estar relacionada com alterações a nível molecular,
celular e a processos fisiológicos, por meio da menor eficiência na reparação
do DNA, no comprometimento do sistema imunológico e dos processos de homeostase
orgânica com diminuição das reservas fisiológicas e funcionais, que favorecem a
inflamação sistêmica, a carcinogênese, e outras doenças (BIGLEY et al., 2013, SÁNCHEZ-CORREA
et al., 2014, FRANCESCHI et al., 2000).

A Organização Mundial de Saúde (WHO)
classifica, como sendo a população idosa em países desenvolvidos aquela que
apresenta 65 anos ou mais de idade; enquanto para os países em desenvolvimento
a faixa etária considerada é de 60 anos ou mais. O mundo vivencia processo de
transição demográfica única e irreversível, que irá resultar em populações cada
vez mais idosas (ONU, 1982).

A proporção de pessoas com mais de
60 anos está crescendo mais rápido que qualquer outro grupo etário, sendo de
841 milhões em 2013, com previsão de alcançar em torno de dois bilhões de
idosos até 2050, quando representarão 21,1% de toda a população mundial (WHO,
2017). A população brasileira idosa também vem aumentando e os indivíduos com
idade superior ou igual a 60 anos cresceu 43,5% entre 2000 e 2010. A
expectativa para 2025 é que compreenda 13,78% da população brasileira (IBGE,
2010).

Existem também implicações
socioeconômicas com o aumento da população idosa, por se prever que mais
pacientes desenvolverão câncer, o que acarreta maiores gastos com os
tratamentos. 

Com o envelhecimento ocorrem
mudanças na composição corporal que incluem redução de massa magra a partir da
3ª década de vida e que se intensificam após os 50 anos de idade (HUGHES et
al., 2002) com perda de até 3 kg de massa magra por década (CHAPMAN, 2011; SOENEN
e CHAPMAN, 2013). A força muscular, no entanto, diminui numa velocidade
diferente após 60 anos, com reduções de 3% ao ano (ROUBENOFF e HUGHES, 2000;
VON HAEHLING, 2010).

No processo de envelhecimento, as
células senescentes se acumulam ao longo do tempo e, o aumento do número destas
células contribui para a deterioração tardia dos tecidos e órgãos e o
surgimento de doenças relacionadas com a idade, incluindo câncer (NARITA, 2007;
CAMPISI, 2013; VAN DEURSEN, 2014).

É sabido que o sistema imunológico desempenha
uma função de defesa contra o câncer e com o avançar da idade essa defesa pode
ser reduzida e favorecer ao desenvolvimento da doença (BIGLEY et al.,
2013). Além disso, nesse processo o
sistema imune naturalmente adquirido pode ser comprometido, o que pode
favorecer ao desenvolvimento de inflamações sistêmicas, tumores e outras
doenças relacionadas a idade (SANCHEZ-CORREA et al., 2013). O envelhecimento
também pode alterar monócitos, macrófagos e células dendríticas, aumentar a
produção de citocinas inflamatórias, contribuindo para a inflamação,
facilitando a progressão do tumor (FRANCESCHI et al., 2000).

Além disto, o câncer acomete, de
maneira mais prevalente, as pessoas com mais idade (CANCER RESEARCH UK, 2017) e
estudos epidemiológicos mostraram que mais da metade dos diagnósticos de câncer
e morte pela doença ocorrem em indivíduos com idade maior ou igual a 65 anos
(YANCIK, 2005).

Sinais e sintomas de impactos
nutricionais presentes nos pacientes com câncer somados as mudanças fisiológicas,
metabólicas e redução da capacidade funcional (JENSEN, 2001), que ocorrem com o
envelhecimento, tornam essa população mais vulnerável a ocorrência de
desnutrição, podendo contribuir para a sarcopenia e, em estágios mais
avançados, para a síndrome da caquexia, resultando em aumento da
morbi-mortalidade (DEL FABBRO, 2015; BARRIOS et al., 2014; FEARON et al., 2011;
SANTOS et al., 2015).

Aumenta a sua vulnerabilidade para a
doença, podendo ocorrer redução da massa muscular e tecido adiposo, e
colocá-los assim em maior risco de síndrome de realimentação, caquexia ou
sarcopenia (DEL FABBRO et al., 2012, BARRIOS et al., 2014, PREVOST et al.,
2014, FEARON et al., 2011, SANTOS et al., 2015).

A fragilidade é uma síndrome
caracterizada a partir de cinco parâmetros: perda involuntária do peso, fadiga,
diminuição da velocidade de caminhada, baixa atividade física e perda da força
– medida por força de preensão manual. A presença de um ou dois destes
caracteriza a condição de pré-fragilidade; três ou mais parâmetros indicam que
o indivíduo é frágil. Ou seja, classificam a condição de pessoas idosas que
apresentam alto risco para quedas, hospitalização, incapacidade,
institucionalização e morte (FRIED et al., 2001).

A fragilidade é outro fator que vem
comprometendo não somente a qualidade de vida de pessoas idosas, como também a
saúde em geral. Uma das maiores causas de fragilidade é a anorexia no
envelhecimento e a sarcopenia (MORLEY et al., 2011; LANDI et al., 2012),
resultando na redução da ingestão, levando a desnutrição energética e proteica.
Uma triagem nutricional adequada para identificar o risco nutricional ou
desnutrição estabelecida é essencial e melhores resultados podem ser alcançados
com a combinação do Questionário de avaliação de apetite (SNAQ) e a Mini Avaliação
Nutricional (MAN) (ROLLAND et al., 2012).

O termo sarcopenia vem do grego
“pobreza de carne” (ROSENBERG, 1997), é caracterizada pela perda progressiva e
generalizada da massa muscular associada a perda da força e/ou função muscular
geralmente associada com o avançar da idade e a sua prevalência está
relacionada com o envelhecimento, podendo levar a efeitos negativos sobre a
função e evolução clínica (MORLEY et al., 2011, BARBOSA-SILVA et al., 2015). No
entanto, a sarcopenia tem caráter reversível, pois está relacionada a
musculatura esquelética, tendo grande capacidade de reabilitação, restaurando a
capacidade física do idoso.

Sabe-se que a atividade física
exerce papel fundamental na manutenção ou lentificação da perda da massa
muscular, sendo o sedentarismo um fator que predispõem a sarcopenia em idosos
(JANSSEN, 2004). Há cada vez mais evidências da melhora da fragilidade com
exercícios aeróbicos e de resistência (SINGH et al., 2012).

Um dos desafios de tratar os idosos
oncológicos é o risco de maior toxicidade dos tratamentos. A Avaliação
Geriátrica Compreensiva (AGC), desenvolvida por geriatras com o objetivo de
identificar o nível de dependência do indivíduo idoso frágil, consiste numa
avaliação detalhada que abrange aspectos médicos, psicológicos, funcionais,
nutricionais e sociais e tem sido recomendada para pacientes idosos com câncer
pela Sociedade Internacional de Oncologia e Geriatria (SIOG) (ZACHARIAS et al.,
2013, EXTERMANN et al., 2005), pois
permite identificar precocemente riscos não identificados em uma avaliação
comum, resultando na melhora do tratamento (PARIPATI et al., 2012, HAMAKER et
al., 2014; BRUGEL et al., 2014).

HURRIA et al.(2011) confirmam a
necessidade da utilização de outros métodos de avaliação para identificar
melhor o paciente idoso com maior risco. Nesse estudo eles identificaram maior
grau de toxicidade com a idade avançada e a redução da dose de quimioterápicos
as vezes se faz necessário para maior tolerância do tratamento, evitando
hospitalizações. O mesmo estudo refere que a avaliação de desempenho
rotineiramente utilizada Karnofsky performance status (KARNOFSKY E BURCHENAL,
1949) não identifica os idosos com risco nutricional aumentado para toxicidade
de QT, pois a população de pacientes idosos pode ser bastante heterogênea,
sendo importante a utilização de outros métodos de avaliação.

 

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