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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Alimentação Saudável


Por João Felipe Mota 

Nos últimos 50 anos, o Brasil apresentou aumento da expectativa de vida, redução da mortalidade infantil, diminuição do número de nascimentos, aumento da população urbana e do poder aquisitivo. Estas alterações levaram a redução da mortalidade por doenças infecciosas e aumento das doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes, hipertensão e obesidade. Resultante aos fatores econômicos, demográficos e culturais ocorridos nas últimas décadas, observamos também a mudança do estado nutricional, devido às modificações do estilo de vida, alteração da qualidade da dieta e inatividade física.

A inadequação alimentar é uma das principais causas de risco a saúde. Na população da América Latina houve mudanças significativas no consumo alimentar, as quais podem estar associadas ao aumento na incidência das doenças crônicas não transmissíveis e aos maiores gastos com saúde.

No Brasil, a tendência no consumo de alimentos dos grupos dos cereais (principalmente os integrais), frutas, leguminosas, legumes e verduras é de queda. Enquanto isso, o consumo de biscoitos (grupo dos cereais) e de açúcares (grupo dos doces e açúcares) aumentou drasticamente. Essa mudança reflete a diminuição no consumo de fibras, que no Brasil a média era de 20g na década de 70 e de 12g na década de 90. De acordo com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, a recomendação para o consumo de fibras é de 20g diárias. As fibras podem ser encontradas principalmente na aveia, farelo de trigo integral, quinoa, linhaça, frutas, verduras, legumes, feijão, pães e cereais integrais.

Estudos têm mostrado que o consumo de fibras acima de 20g/ dia melhora a sensibilidade insulínica e reduz processos inflamatórios em indivíduos acima do peso.

Com a transição alimentar também se observa aumento no consumo dos grupos alimentares do leite e derivados e carnes, sendo que em 1974 o consumo desses grupos correspondia a 14,9% do consumo energético diário das famílias brasileiras; em 2003, essa participação foi de 21,2%. Em relação ao grupo das carnes o aumento ocorreu para os tipos bovina (superior a 22%), frango (superior a 100%) e embutidos (superior a 300%), ricos em gordura saturada e colesterol; já para os peixes, fonte de ácidos graxos insaturados, houve diminuição no consumo (menor que 50%) conforme mostrado na figura abaixo.

Alimentação Saudável

Variação (1974-2003) no consumo da carne bovina, frango, embutidos e peixes. Fonte: IBGE, 2004.

Com isso, a participação da gordura na dieta do brasileiro ultrapassou o valor energético total da dieta em 2003, representado principalmente pela gordura saturada. Entretanto, o consumo das gorduras insaturadas (monoinsaturada e poliinsaturada) ainda continua abaixo do recomendado. Para uma dieta saudável, deve-se dar preferência aos óleos vegetais, ricos em gordura insaturada, ao invés das gorduras animais, fonte de gordura saturada. Algumas fontes de gordura saturada seriam carnes gordas, manteiga, leite integral, bacon, torresmo, linguiça, salame e mortadela. As preferências seriam o óleo de oliva (azeite) e de linhaça para temperos, óleo de canola, girassol e amendoim para cozinhar.

Exemplos de carnes magras.
Carnes bovinaCarne bovina*Carne suínaAves
PatinhoContra-filéPernilFrango sem pele
MúsculoAcémFilé de lombo centralPeru sem pele
Miolo da paleta LagartoCarne de cordeiroChester sem pele
Coxão moleMaminha  
PeixinhoMiolo de Alcatra  
 Fraldinha  
*Cortes com fácil remoção da gordura.

Indivíduos que consumem dieta enriquecida com ácido graxo saturado e trans apresentam processos inflamatórios e níveis de coagulação sanguínea superiores aos que consumem quantidades adequadas desses ácidos graxos. Ao contrário, o maior consumo de ácido graxo monoinsaturado (azeite) promove redução dos processos inflamatórios que se associam ao diabetes, colesterol e triglicérides elevados, obesidade e ao maior risco de doenças cardíacas.

Estudos sugerem que a substituição da gordura saturada pela monoinsaturada pode promover perda da gordura corporal e/ou abdominal. Além disso, esta troca pode reduzir os riscos cardiovasculares. O consumo de maior quantidade de frutas e vegetais e menor em ácido graxo saturado previne doenças cardíacas.

O crescente aumento no consumo de refeições industrializadas também é um dos agravantes à saúde. Quanto maior a freqüência no consumo de fast foods por semana, por um longo período da vida, maior é o ganho de peso e maior o descontrole da glicemia.

A ciência comprova aquilo que há séculos é de conhecimento da sabedoria popular: a alimentação saudável é a base para a saúde. A natureza e a qualidade daquilo que se come e se bebe é de importância fundamental para a saúde e para as possibilidades de se desfrutar todas as fases da vida de forma produtiva e ativa, longa e saudável.

Ressalta-se que a prática de atividade física é igualmente estratégica para redução de peso e controle da glicemia. Não é possível separar o consumo alimentar do gasto energético. A rápida ou “instantânea” perda de peso impede a perda de gordura corporal. O que se perde, nesses casos, é água corporal e músculo que pesa na balança. Com a orientação de um nutricionista, os resultados de perda de peso e controle da glicemia, aspectos difíceis de serem alcançados pelas “dietas da moda”, podem ser excelentes e atingidos sem comprometimento da saúde e do estado nutricional.

Para consultar:
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira : Promovendo a alimentação saudável / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 236p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)
  2. Manual de Nutrição Pessoa com Diabetes. Departamento de Nutrição e Metabologia, Sociedade Brasileira de Diabetes.
  3. www.diabetes.org.br  

Dr.João Felipe MotaDoutorando em Nutrição UNIFESP
Coordenador e Professor do Curso de Nutrição da Universidade São  Francisco
Membro do Departamento de Nutrição da SBD 2010/2011

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