Meu nome é Cole e eu tenho diabetes. Bem, você pode dizer, e daí? Em quatro milhões de nós, pelo menos meio milhão de pessoas não sabe que tem. Você poderia ter adivinhado desta minha condição antes que eu lhe disse se você tivesse visto o meu peso e a dieta nada saudável de um repórter na estrada, que devora suas refeições entre prazos de entrega de trabalhos; isto para não mencionar os hábitos de um comilão. Mas eu só reconheci a verdade sobre mim mesmo semana passada. E de repente, constatei a existência de um tsunami de açúcar, uma grande onda carregada de doçura que ameaça engolir a todos nós.
Não só os diabéticos, mas também os dois terços dos britânicos que estão acima do peso e aqueles 1/4 que são obesos.
Parafraseando Oscar Wilde, digo que não há nada pior do que o excesso de zelo de um convertido. Então eu lamento muito sobre isso, mas eu sinto como se meus olhos tivessem sido abertos para algo horrível. Açúcar, açúcar em toda parte, não uma gota apenas para comer.
Conforme passeava pelo supermercado, eu olhava para os rótulos a procura de algo seguro para colocar na minha boca, mas só via os avisos vermelhos em tudo que eu gostava, quando subitamente sou atingido por um pensamento: – Não estaria parecendo com um fumante de 3 maços por dia dos anos setenta que descobre que aquele hábito que os médicos costumavam dizer ser bom para sua garganta, o estava matando o tempo todo? Seria o açúcar o novo cigarro?
Parece que, a julgar pela crescente onda de campanhas contra o açúcar, com o apoio do famoso chef Jamie Oliver sugerindo um pesado imposto sobre bebidas açucaradas, os agentes de saúde querem mais rótulos ao estilo dos vistos em cigarros para nos alertar que a obesidade, dentes podres e diabetes podem ser consequência do consumo de muitas latas de Coca-Cola. O Governo está prestes a publicar um plano para combater a obesidade em crianças que se baseia no consumo do açúcar. É como se todos nós estivéssemos acordando para o problema.
Observei a reação atônita há poucos dias atrás para o resultado da análise feita pelo grupo “Ação sobre o Açúcar”, segundo o qual, os inocentes cafés de famosos Coffee Shopps, continham, secretamente, grandes quantidades de açúcar. Quem não ficou surpreso ao descobrir que um copo de suco de fruta e chai mulled quente da Starbucks com um pedaço de canela e uma fatia de laranja contém o equivalente a 25 colheres de chá de açúcar? Isso não é apenas um pouco doce – é tão doce quanto comer 20 barras de chocolate digestivo de uma só vez.
O Chai Latte Massimo do Costa Coffee contém 20 colheres de chá de açúcar, que é quase três vezes mais açúcar do que a recomendação diária pelo Sistema Nacional de Saúde, isso em apenas um copo grande de papelão. Os dentes não doem só de pensar?
A Starbucks, por exemplo, diz que está empenhada em cortar um quarto do açúcar de suas bebidas ao longo dos próximos quatro anos, mas isso não é um pouco fraco ou falso? Isso não faz os gigantes do café se parecerem como aquelas empresas de tabaco que relutantemente concordaram em colocar avisos em suas embalagens nos anos setenta, sabendo que o que eles estavam vendendo era mortal? – mas que ainda continuavam promovendo o Marlboro Man em outdoors ou as texturas John Player Special sobre os emocionantes carros de corrida?
“O açúcar é o novo tabaco”, disse o professor Simon Capewell, da Universidade de Liverpool, há dois anos, quando o grupo “Ação sobre o Açúcar” pediu 30 por cento de corte na quantidade adicionada aos produtos. “Em todos os lugares, bebidas açucaradas e fast foods estão pressionando pais e filhos inocentes por uma indústria cínica focada no lucro e não na saúde”.
Professor Capewell, que havia aconselhado os conservadores na oposição, disse: “A epidemia da obesidade já está gerando um enorme fardo de doenças e morte”.
Uma semana atrás, eu sabia que algo estava errado – eu estava acordando no meio da noite com uma sede violenta, e experimentava outros sintomas – mas eu pensei que eu estava ganhando. Eu tinha perdido vinte quilos em três anos, retornando a um período de trauma emocional que me tinha visto avançar nos biscoitos como uma forma de entorpecer a dor, me dizendo que estava tudo bem porque não era bebida ou drogas. Mas não foi bem assim, houve consequências e agora estou em risco muito maior de ter um acidente vascular cerebral ou um ataque cardíaco. É hora de aceitar o que está realmente acontecendo no meu corpo.
Ser diabético não é consequência de comer muito açúcar, isso é um mito que eu descobri na semana passada. Mas tratar da doença significa tornar-se mais consciente sobre o que você está comendo e reduzir drasticamente os alimentos gordurosos e com açúcares adicionados.
Estou aprendendo a fazer uma distinção importante. Os açúcares que você encontra em frutas, legumes e leite são aparentemente bons para comer, isso porque o corpo os absorve mais lentamente. Mas os chamados açúcares livres – aqueles adicionadas aos alimentos – não fazem nem um pouco bem se você consumir muito. Eles causam ganho de peso e picos perigosos de açúcar no seu sangue.
O Sistema Nacional de Saúde diz que açúcares adicionados não deve ocupar mais de 5 por cento das calorias que você come todos os dias, o que para a maioria das pessoas significa cerca de 30g – ou sete colheres de chá de açúcar. Mas nós não somos estúpidos, não é? É óbvio que temos de evitar, certo? bebidas açucaradas, chocolate, doces, biscoitos, pudins … e cereais matinais, que são notoriamente ruins para você, como uma grande tigela de flocos de milho crocante contendo três colheres de chá, quase metade da cota diária. Talvez você já saiba que uma caixa de suco de laranja Tropicana, com aparência saudável, é equivalente a dois donuts Krispy Kreme.
O que me chocou, enquanto passeava pelos corredores do supermercado, foi o açúcar escondido. Eu tenho que comer ingredientes de baixa gordura agora, por causa do colesterol, mas muitos dos alimentos são carregados com açúcar. É por isso que os nossos problemas se multiplicaram ao longo dos últimos anos: todos nós já acostumamos com a ideia de uma dieta de baixa gordura sem ver os danos do açúcar que foi colocado na nossa alimentação para compensar a perda de sabor.
Então, vamos imaginar o que poderia ser uma dieta aparentemente saudável por um dia. Uma tigela de iogurte de baunilha livre de gordura na parte da manhã com metade de uma banana e um punhado de mirtilos. Sopa Heinz de tomate para o almoço com um sanduíche de salada, sem manteiga, mas uma uma colher de maionese baixo teor de gordura. É importante manter-se hidratado por isso vamos tomar para uma garrafa de Glacéau Vitaminwater, cheio de coisas boas. Então, para o jantar, uma pequena tigela de macarrão com manjericão e molho de tomate e uma salada com um montão recheios com baixo teor de gordura.
Isso tudo soa como uma maneira saudável de comer, mas é extremamente enganoso. O iogurte de baixo teor de gordura contém um par de colheres de chá de açúcar. Há mais quatro colheres de chá na sopa, duas nas fatias de pão e outra na maionese. A bebida de aparência inocente (feita por uma subsidiária da Coca-Cola) contém cerca de oito colheres de chá de açúcar. Há um par no macarrão e molho e outras duas na salada. Portanto, este agradável dia saudável envolveu 21 colheres de chá de açúcar, três vezes a quantidade diária recomendada, mesmo sem um pequenino pedaço de uma barra de chocolate. Algo alarmante.
Na tentativa de resolver esta situação, a Fundação de Pesquisa do Cancer e o Fórum de Saúde do Reino Unido sugeriram a cobrança de um imposto de 20 por cento sobre bebidas açucaradas, bem como a proibição de anúncios dejunk food na televisão antes das 21 horas, além de novas metas para reduzir a quantidade de gordura e açúcar nos alimentos. Eles dizem que o imposto impediria 3,7 milhões de pessoas de se tornarem obesas e faria o sistema de saúde economizar 10m £ até o ano de 2025. Jamie Oliver apoia a iniciativa e diz que, se o Governo não concordar, ele vai se tornar um “Ninja” em oposição aos conservadores do Parlamento.
Não surpreendentemente, os conservadores disseram que não vão ter a sua política de saúde ditada por um chefcelebridade. E, embora o Primeiro-Ministro e o Secretário de Saúde, Jeremy Hunt, tenham demonstrado apoio a um imposto sobre o açúcar no passado, ele não poderia ser instituído no plano de obesidade infantil.
Há dúvidas sobre se isto funciona e se é justo. Famílias de classe média não vão hesitar em pagar mais caro por uma lata de Coca-Cola no mercado; eles vão pagá-lo de qualquer maneira. Mas os pobres serão penalizados por querer o mesmo.
Enquanto isso, as empresas de lanches não açucarados ficarão bem posicionadas para tirar proveito desta crise. A Unilever, por exemplo, prometeu cortar o tamanho das porções individuais de sorvetes como Magnum e Cornetto, mas ao preço permanecerá o mesmo, ou irá cair e depois voltar a ficar mais caro? Caixas de Quality Street e rosas da Cadbury diminuíram seus tamanhos nos últimos anos, mas os preços não.
O pensamento está um pouco confuso. O Sistema Nacional de Saúde irá dar um tiro no seu próprio pé ao criar o imposto sobre bebidas açucaradas, pois precisa comprar tais bebidas para consumo em hospitais e centros de saúde, aumentando as despesas em até 40m £. Mas se isto é tão ruim, por que não bani-los? Porque ainda existe uma indústria lucrativa.
Nós mesmos não parecemos dispostos a abandonar o açúcar, e de alguma forma, ainda o consideramos como parte essencial da vida moderna, como o tabagismo já foi. Levou um bom tempo para tudo mudar. Cigarros Lucky Strike estavam sendo vendidos como “mais limpo, mais fresco, mais suave”, em meados dos anos cinquenta, quando o primeiro estudo em grande escala que liga o tabagismo ao câncer de pulmão foi publicado. E foi somente em 1971 que o governo publicou advertências de saúde em todos os maços de cigarros vendidos na Grã-Bretanha.
A evidência de que fumar matava já existia nas décadas anteriores, até que o tabagismo passivo também foi aceito como uma causa de câncer de pulmão e doenças cardíacas no final dos anos noventa. Até então as companhias de tabaco estavam sendo processadas por milhões de pessoas que tinham ficado doentes ou viúvas, por causa do fumo.
Finalmente, meio século depois de descobrir que fumar era mau para todos nós, ele foi banido dos lugares públicos na Inglaterra, isso em 2007.
Com o açúcar, é ainda mais fácil para o governo empurrar o problema para a próxima geração. Nós vamos fazer as crianças pararem de engordar, dizem os ministros, quando na verdade são os adultos aqui e agora que estão sendo afetados. Ministros, conselheiros de saúde, médicos, milhões de nós que comememos muito mais açúcar do que deveríamos comer. Pessoalmente, acho que isto se parece com uma questão de vida ou morte. Esperamos meio século para desistir dos cigarros, mas não há desculpas em relação ao açúcar. Sabemos que ele está nos matando. Precisamos parar agora.
obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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