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sábado, 3 de setembro de 2016

Abandonei meus pais idosos. Motivo? Eles me abandonaram primeiro.

Abandono Afetivo Inversopixabay

O Abandono Afetivo Inverso vem se tornando cada vez mais conhecido e, não somente, no mundo jurídico. 
A mídia mostra de forma direta toda uma sorte de abusos que idosos vêm sofrendo diariamente no âmbito familiar e, muitas vezes dentro de suas próprias casas.

O que é o abandono afetivo inverso? Quando se fala de 'abandono afetivo'entendemos tratar-se de 'pais que não estão nem aí' com os seus filhos. São pais ausentes, hiper concentrados em seus trabalhos e em seus próprios interesses.
Pais que tomam o café da manhã com a cara enfiada no jornal ou já bem cedo,assistindo os noticiários pela televisão.
À noite, voltam tão cansados, ou ainda cheios de trabalho a fazer, que nem conversam direito. Querem silêncio ou, então, só abrem a boca para perguntar de notas e compromissos. Reclamam das coisas, dão ordens, mas não conversam. 

Falam ao telefone ou se jogam na frente da televisão até dormir, o
que não leva muito. De si mesmos, não contam nada, a não ser do quanto a vida é difícil e de como seu trabalho é pesado. Pais descarregam nos filhos suas frustrações e acreditam estarem ensinando sobre a vida. Falam de si e não ouvem o que seus filhos querem e precisam contar ou pedir.

Esta é uma forma de abandono afetivo: não ouvir. Sempre com pressa,
sempre com opinião já formada, sempre 'cheios de razão em tudo'. São 'pais que sabem'. Não são pais que perguntam a opinião de um filho. Quando o fazem é mais para corrigi-los, que para entender o que eles pensam e dizem.
Outra forma de abandono é agir com desprezo e violência. Pior ainda,
usar de ironia. Desdenhar, criticar em público. Diminuir um filho perante outras pessoas. Mandar calar a boca. Pior do que uma bronca justa e bem dada, é se comportar com superioridade. Sua autoridade como pais logo se esvazia. 

Filhos não respeitam pais autoritários, nem respeitam pais violentos. Filhos calam a boca e viram as costas ou os enfrentam de nariz erguido, tanto quanto. De todo esse rol de horrores, usar de ironia é a pior das covardias.O estrago que a ironia faz na alma de cada criança, de cada jovem, tão necessitados do acolhimento de seus pais.


Nenhuma criança tem defesas contra a ironia. Uma baita surra de cinta faz com que uma criança fuja. Que vá para longe e, talvez nem volte. Mas a ironia fere a alma e a criança não é capaz de reagir. Nem de fugir. A ironia está para o amor próprio de um filho, como qualquer substância ácida está para o estrago de qualquer superfície: ambos corroem e desfiguram. A ironia destrói uma relação e, pior, faz com que uma criança, um jovem, pague um preço caro demais. Já de início por não ter com quem contar. Mais tarde, porque terá perdido a confiança em si próprio, o que torna muito mais difícil voltar a confiar em outro alguém.


Melhor uma bronca justa do que o silêncio ou o olhar vazio. Esta é outra forma de abandonar afetivamente um filho: a omissão. Nunca 'poder' estar presente. Deixar de tomar as atitudes que cabem aos pais tomar. Virar as costas num momento difícil para um filho. Deixar de proteger este filho ou expô-lo a situações indevidas e imerecidas, sem atentar para o fato de que uma criança, um jovem, pode entender muita coisa, mas seu coração ainda muito tenro e imaturo, não consegue compreender todas as coisas.

Jamais uma criança conseguirá enxergar com clareza que a
maldade é de seus pais e, não sua. Os pais devem, inclusive legalmente, assumir sua missão: proteger, educar, alimentar e nutrir afetivamente seus filhos com sua presença, com seus cuidados, com sua atenção. Isto significa muita coisa, menos virar-lhes as costas ou castigá-los com a sua ausência e o seu afastamento. A coisa é tão séria que, mais tarde, estes filhos poderão processar legalmente pais que os negligenciaram, que os intimidaram, que ironizaram e os expuseram ao escárnio da parte de outros familiares e amigos. São pais e mães que cometeram o crime do abandono afetivo. 

A literatura psiquiátrica, bem como a psicológica, registram perfeitamente, os males que o abandono afetivo causam numa criança, num jovem em formação. 

O que acontece quando se sofre abandono afetivo na infância.
O desalento se instala e, enquanto crescem, obrigados a tomarem conta de si e até de irmãos menores, a decidirem por si próprios, a 'se virarem sozinhos', quando deveriam ter sido apoiados, assistidos, conduzidos, orientados e acompanhados por seus pais, isso resulta numa perda de segurança e autoconfiança terríveis, perda esta que haverá de impactar em sua vida de relacionamentos futuros, no seu Projeto de Vida. Serão graves, suas perdas existenciais, quando crianças e adolescentes crescem como 'órfãos de pai e/ou mãe vivos'.

São perdas tão graves que, futuramente, eles poderão até entrar na
justiça para requererem indenizações. Os juízes já as reconhecem como legítimas e não são de pouca monta, não. Mas não há como recuperar um tempo sofrido e sem amor, quando mais se precisava ser protegido e cuidado com atenção, presença e amor incondicional.
Sim, é disso que se trata o abandono afetivo: de dores horrendas vividas no silêncio e na revolta, na inveja profunda daqueles amiguinhos cujos pais são presentes e na crença de que eles estão sozinhos porque 'não merecem ser amados'. E que por isso seu pai, ou sua mãe, foi-se embora.

Demorará muito tempo e muitos anos de tratamento psicológico, reconhecer para que já adulta, a pessoa compreenda que o abandono sofrido não ocorreu por culpa ou inadequação sua. Só mais tarde as vítimas do abandono afetivo conseguirão reconhecer que não foram os causadores e, sim, as vítimas ingênuas desta 'gravíssima violência sofrida'.

Este quadro poderá resultar em desvios de conduta e perda praticamente total da sua capacidade de amar. Por que amar significa se entregar e, o abandono afetivo sofrido desperta a necessidade de a vítima se fechar em si própria e, jamais se arriscar a se abrir para outra pessoa. Afinal, se o próprio pai ou mãe a abandonou afetivamente, e o fez porque quis fazê-lo, concluirá que não merece ser amada. A perspectiva de um amor mais profundo poderá levá-los, crianças e adolescentes a romper um importante vínculo que está se desenvolvendo.

Numa família todos têm deveres para com todos. Ou, então, não é família.

O que é, então, o 'abandono afetivo inverso'? Agora chegamos ao dever de cuidado dos filhos em relação aos seus pais idosos, o que igualmente viola o princípio da dignidade humana. E, no que consiste esta violação? Em forte e constante abalo psicológico, físico e social, causando uma dor moral quase insuportável. Seja qual for a idade da pessoa, a dor moral é de tal ordem que está na raiz do que se conhece 'perder o gosto pela vida' e deixar-se morrer no dia a dia.

Se crianças e jovens tomam atitudes temerárias, expondo-se a riscos
desnecessários e até mesmo tomando atitudes suicidas, para os mais velhos é bem se conhece a expressão 'morrer de desgosto'. Em casos extremos, este desgosto tem o potencial de levar uma pessoa ao suicídio, pois de que vale a vida quando uma pessoa sente que não tem valor para aqueles a quem ama?

Essas questões são tão controversas, que não cabem julgamentos, mas a sua prevenção, o que só se consegue trazendo à tona essas condutas
inadequadas que filhos e pais tomam entre si. Não basta buscar entendimentos, quando isso não acontece pelas meios legítimos da educação e, posteriormente, pela reeducação.

O que pode ser feito para previnir e curar o abandono afetivo.
Numa espécie de re-edição das antigas Escolas de Pais, que ocorriam nas boas escolas nos idos anos 60 e 70, é preciso estimular a criação de grupos de apoio e de ajuda, de escutas absolutamente respeitosas, com leituras elevadas, debates públicos e, sim, ousarmos abrir o coração, para tratar de feridas. Das recentes é mais fácil.

Com as feridas antigas, compactadas no silêncio dos corações machucados, precisamos ter muito, mas muito mais cuidado, por que as dores represadas, ao serem escancaradas também têm, inicialmente, o potencial de se tornarem enlouquecedoras. Antes de julgarmos os filhos que abandonam seus pais, é preciso também ouvir sobre algumas heranças malditas: terão sido eles, também, vítimas de abandono severo?

Desejarão eles, dar início a uma correção de rota, enquanto estão todos vivos e se possa recuperar um amor forte e delicado entre pais e filhos e avós, a tempo de 'curar' as dores de toda uma vida vivida?

Já testemunhei cenas chocantes. Um homem já adulto, implorando a seu
pai que o abraçasse e o pai, todo emproado, discursando sobre a importância do abraço! O filho pedia, declarava sua necessidade de se aproximarem e o pai, não parava de falar. Ouvia seus pensamentos, mas não o que seu filho homem lhe dizia. Até que, num esgar de grande sofrimento, ordenou: - Pai, para de falar agora. Estou pedindo que o senhor me abrace. Não quero ouvir, quero um abraço! Eu amo o senhor, pai. Seu desespero era patente em seu rosto, na sua voz. Acercou-se do velho, enlaçou-o em seus braços e seu pai, braços inertes, olhando para o teto, assistindo ao que se passava em sua mente, continuava: -

Sim, sim. Abraçar é muito importante... Espera um pouco. Quero contar um caso, primeiro. Certa vez...

O homem, meu paciente, saiu do consultório, aos prantos. Seu pai se
virou para mim, que estava estarrecida: - Veja a senhora, esse meu filho sempre acaba me virando as costas, a senhora viu. Me deixou aqui, falando com as paredes! Este senhor, simplesmente não via nem ouvia seu filho. E isso, obviamente, também se refletia negativamente em sua vida conjugal. Sofria de depressão e de grave insegurança pessoal, embora fosse um homem muito culto, cavalheiro e bem formado, motivo pelo qual sua esposa havia me procurado. Em muitos momentos tratava-a com frieza, do que ela se ressentia muito. 

À contragosto e, muito constrangido, ele aceitou conversar comigo e
'experimentar' o tratamento, para ver se 'daria certo'.

Num certo momento da psicoterapia tive a inspiração de convidar seus
pais de idade para participar, levando em conta que, além de suas dificuldades conjugais, este meu paciente sentia-se, também muito culpado e, constrangido comigo, por assumir não gostar de visitá-los. Quase sempre delegava à esposa, minha paciente de início, tarefas e demandas que caberiam a seu marido, filho único daquele casal, cumprir.

Quando entrei em contato com os pais deste cavalheiro, para conhecê-los e observar a dinâmica familiar, a mãe idosa, tão logo atendeu ao telefone, disse que seu filho havia avisado que eu iria ligar, mas que não poderia vir porque já havia marcado consulta na dermatologista. E não demonstrou interesse em remarcar para outro dia. O pai veio, um tanto impaciente, sem a menor noção sobre no que poderia contribuir para a melhora de seu filho.

Ambos, esposa e marido, permaneceram em atendimento comigo e, estando as coisas mais esclarecidas, passamos a trabalhar com mais foco. Tanto nas questões do casal, como no trato com os idosos. Como não se pode 'ensinar a amar' e, por certo, 'ninguém ama por obrigação, por mais que queira', pode-se porém, mudar crenças e atitudes que nos tornem mais confortáveis em relação ao trato com os próprios pais e sogros. Sem cobranças, sem exigências, sem julgamentos, trabalhando em parceria mais objetivamente com aquilo que seja possível modificar, sem se sacrificar.

A pessoa se deforma, porque não se conforma com o desamor.

De outra feita, uma moça jovem, quase 20 anos, rosto muito bonito, porém deformado pelo excesso de peso demonstrou, logo aos primeiros minutos de sua consulta, ser muito arrogante e voluntariosa. Pela primeira vez em meu consultório, já entrou reclamando: - Hum, não gosto dessas balas que você deixa lá fora. Peguei umas porque não tinha outra coisa. Seus modos grosseiros, logo percebi, encobriam suas ambivalências.

Seu corpo imenso era o escudo que a mantinha 'à salvo' de relacionamentos: - Quando perder o peso que o médico mandou, arranjo um namorado. Mas vai ter que ser rico, que se é para viver com menos do que eu vivo na casa dos meus pais, então, para que? Dizia querer livrar-se do excesso de peso, mas afirmava vaidosa: - Quem me quiser vai ter que me aceitar como eu sou. E teimava em ser desagradável no trato comigo e, com certeza, com  seus amigos: - Não tenho papas na língua, como diz a minha avó. Sou muito franca, falo tudo que penso, mesmo.

Seus pais viviam separados, mas não haviam desfeito sua sociedade conjugal, nem patrimonial. Tinham muito negócios em comum. Ela, desde criança havia sido cuidada por batalhão de empregados e empregadas e havia uma única pessoa a quem ela era apegada: a avó, que vivia em outro país. Sua solidão era brutal.

Depois de quase dois meses de encontros semanais, se abriu comigo. Vinha sendo vítima de assédio moral, por parte de um grupo de 'amigos', que havia feito uma aposta: quem dos rapazes teria 'coragem de deitar-se com a gorda'. Entregou-se a um deles, que se apressou a declarar ao grupo o feito muito mal feito: - Não consegui penetrar, porque a barriga dela não deixava.

Então, foi com a mão, mesmo! Ela? Tomou conhecimento de tudo por intermédio de outra ' mui amiga'.

Uma das empregadas da casa, percebendo que algo de muito errado havia acontecido, pediu à avó que viesse logo para ver o que a menina, a moça na verdade tinha, porque há semanas não saía do quarto, nem para fazer os cursos de línguas, de que tanto gostava e não parava de chorar. Seus pais haviam marcado viagem para irem a um casamento na Austrália e 'não poderiam deixar de comparecer'. Veio à sessão acompanhada de sua avó. A mãe dissera: -

Ela é assim mesmo, nunca está contente com nada. A resposta do pai, mais torturante ainda: - Vai com a avó. Eu? Já desisti dessa menina. 

É muito malcriada. Mentirosa. Não vou cancelar a minha viagem.
Existe a psicopatia, um defeito de caráter que se caracteriza pela total indiferença de um ser humano em relação a outro. São pessoas conhecidas pela sua falta de humanidade, ou seja, Zero Empatia. E psicopatas também se casam e fazem filhos. Como reconhecê-los?

Psicopatas também sabem ser gentís. Mas todos ferem a alma de uma pessoa, sem o menor sentimento de culpa por fazê-lo. Não é tão fácil, nem tão rápido reconhecê-los, por que muitos são elegantes em seus modos, precisos e atentos aos seus compromissos e conseguem manter conversações interessantes, em seus modos polidos, um tanto retraídos, porém não inadequados.

No trabalho podem trazer resultados excelentes, no que diz respeito aos lucros financeiros para uma empresa. E, por isso mesmo, sua arrogância e insensibilidade no trato com 'pessoas comuns' são toleradas. Muitos deles são hábeis negociadores, porque não colocam seus sentimentos numa negociação, por árdua que seja. Não têm a menor paciência para com os outros, a menos que isso lhes convenha.

Quando se aproximam de uma pessoa, de uma família, logo são tidos por 'frios' ou um tanto distantes, mesmo sendo muito educados. Claro, nem todas as pessoas mais 'frias', que não desejam se envolver muito com os outros, são psicopatas! Longe disso. Os psicopatas só se revelam mesmo, com a convivência. E muito depois de já terem causado um tremendo estrago na vida daqueles com quem convivem. Costumam, ou se apresentarem como coitados, vítimas das circunstâncias, necessitados de carinho e de proteção, ou como auto
suficientes e sedutores, daqueles que prometem mundos e fundos, dispostos a tudo pela 'pessoa amada'. Ardilosos, logo conquistam a confiança cega de suas vítimas.

Não é sobre estes que aqui escrevo. Falo de outro fenômeno, de relações comprometidas e desvirtuadas que se passam na intimidade dos lares: pessoas que amam, sim, mas que não sabem demonstrar este afeto! Homens que amam suas esposas, porém são muito ríspidos com elas. Desfazem de sua pessoa na frente dos filhos e dos conhecidos, parentes ou vizinhos e amigos. Ausentam-se em momentos importantes para elas, para o casal e para a família. Mas, vez por outra, deixam entrever o quanto ele, de fato gosta da outra pessoa,ama mesmo
a sua família. Só que não demonstra. O repertório do amor.

Amor é um negócio complicado, com repertório próprio que consiste em
sinais, olhares, gestos, palavras e atitudes que requerem desenvolvimento, o que muitas pessoas não conseguem alcançar desde crianças e que, quando adultas não sabem demonstrar ou exprimir. Há pessoas que são, desde nascença, menos afeitas às emoções. Outras são emocionais demais. E outras fazem as coisas antes de pensar.

Então, as primeiras demonstram seu amor dando conselhos, por exemplo. Querem proteger a pessoa amada dizendo-lhe o que pensar, o que fazer e para que não se entreguem às emoções, que isso não leva a nada. 

Os mais emocionais se perdem em situações difíceis e não conseguem nem pensar. Querem se sentir acarinhadas, chorar nos braços de alguém querido ou só se sentirem menos sós em suas dificuldades.

Já os que são dados a fazer, antes de pensar e de sentir, podem patinar nos seus impulsos e atravessar o tempo e as necessidades dos outros, porque o que querem mais é resolver logo o assunto. Ou isso, ou não dizem nada, não pedem nada ou ficam quietas em seu canto, até a dificuldade passar por si só.

Ou amentar de tamanho. Daí, pedem alguma ajuda, senão rejitam qualquer auxílio, mesmo que venha da pessoa amada. Cada qual tem seu jeito próprio de amar e demonstrar este amor. Muitas muheres se referem ao fato de que seus maridos, seus companheiros, só lhes declaram seu amor à hora do sexo. Isso não é incomum. Durante o dia não lhes fazem nenhum carinho, não lhes dizem palavras doces, reclamam de tudo, mas de noite, ao fazerem sexo, se mostram muito queridos, atenciosos e delicados em seus modos.

As formas que o amor toma e suas demonstração também têm seu tempo histórico. Homens que só dizem 'eu te amo' na hora do sexo não deixaram de existir. Uma queixa feminina muito comum é que, depois do sexo eles viram as costas e dormem logo em seguida. Ou se levantam para um banho de chuveiro, mas sozinhos. Elas dizem sentirem-se descartadas. Usadas para o prazer, mas depois não tem conversa, nem troca de carinho, nem mais nada.

Este é, inclusive, um tipo de relato muito frequente da parte das 'mulheres de antigamente'. Elas iam para a maternidade sozinhas. Uma, de minha própria família, contava com a maior naturalidade, que foi para a maternidade sozinha e de bonde! Àquela época, digamos nos idos anos 30 e 40, os maridos não as acompanhavam. Ficavam longe, no trabalho e alguém ia até lá - não havia telefone fácil - avisar que a criança estava nascendo. Ou que já tinha nascido e de qual sexo era. Os homens não se sentiam necessários, nem para isso, nem para outros momentos delicados da vida em família.

O interessante é que as mulheres ressentiam-se dessa ausência de seus maridos. Eles eram duros, frios, contam as mulheres de mais idade. E, o curioso é que elas próprias também não se sentiam no direito de pedir-lhes companhia, apoio e presença. Talvez, nem esperassem por isso. 'Homem é assim mesmo' e não havia nada a ser feito, era a crença cultural instalada. Às mulheres cabia aceitar sua indiferença. E nem elas os queriam por perto.

Partos, abortos e nascimentos, festas, casamentos e mortes. Era
praticamente tudo tratado pelas mulheres da família. Homem 'não se metia' e mais, eram 'expulsos' dos quartos, das salas, das cozinhas, onde conversas e tramas femininas aconteciam. Não se esperava que esposos fossem amigos, confidentes e cúmplices entre si. Isso é uma coisa da metade do século passado para cá. O cinema americano tomou parte importante nesta mudança de costumes e de expectativas.

Nem toda mulher é feminina, nem toda mãe é amorosa. Se os homens mudaram também seu modo de ser e de ser perceber em algumas circunstâncias, mas não mudaram em tudo. Homem é homem, mulher é mulher. As crenças sobre como cada qual deve ser, pensar, sentir e se comportar, é que muitas vezes são enganosas.

Os homens, nem todos eram brutos e insensíveis. E as mulheres, por sua vez, nem sempre são, como também, nunca foram tão femininas, prendadas, graciosas, meigas, sensíveis, gentís e atentas. Amorosas? Nem todas as mães.

Há mulheres que não sabem se doar, nem para os filhos. Interessante, também, que educadas como 'princesas' pelas próprias famílias de muitos irmãos mais velhos, por exemplo, tornam-se insensíveis e
exigentes, muito centradas em seus próprios desejos e necessidades. E uma coisa é ser mulher, outra coisa é ser mãe. Costuma-se confundir uma com outra.

Uma mulher, porém, que é muito centrada em si própria, costuma também não ser uma mãe muito generosa, interessada nos filhos e carinhosa. Mães, desde muito longe até hoje em dia, mesmo as que amam seus filhos, não só delegam a pessoas estranhas os cuidados para com eles, como também não os amamentam. O direito de amamentar em púbico nem era cogitado. Pelo contrário, era visto como acinte, mesmo na família. Há 50 anos atrás as mulheres pediam aos homens, inclusive aos seus maridos, que saíssem do recinto para amamentarem suas criancinhas.

No começo dos anos 1.900 era frequente que as crianças, especialmente os meninos, fossem enviados para longe, para serem educados por parentes distantes. Havia a crença de que, educados por outros, filhos e filhas tornar-seiam melhores pessoas e tratariam seus pais com mais respeito quando retornassem, se retornassem à casa paterna.

Mães doavam e doam seus filhos até hoje e, nem todas se arrependem
por tê-lo feito, depois. É muito mais frequente do que se pensa, ouvirem-nas dizer: - Ah, eu dei para a minha irmã criar. Ela fica em casa, eu preciso trabalhar.

Ou, ela não podia ter filho, porque perdeu o útero ainda mocinha, então ela me pediu e eu dei um dos meus. Só que isso não vira um grave segredo de família e, feito com amor e naturalidade os filhos não se sentem traumatizados. Sabem que sua 'mãe verdadeira' é uma, mas consideram 'mãe mesmo' a tia que os criou. E está tudo limpo.

Mulheres que se dedicam mais à carreira que à maternidade, entregam
seus filhos às avós, para suas próprias mães, por reconhecerem que serem educados em família, por uma avó afetiva, fará toda diferença. E elas não fazem isso só por dinheiro, não. Fazem-no por desejo de realização pessoal, por desejo de poder e porque reconhecem que não teriam a menor paciência para 'educá-los como se deve'. São mães de fim de semana. Para tomar lição, comprar roupas, levar passear e dar um descanso às avós e avôs, que têm o direito sagrado de ficarem sozinhos, também.

As filhas adultas podem até não se casar, mas suas mães na meia idade querem ser avós. Até os anos 50, 60, as famílias que não aceitavam gravidez fora do casamento, enviavam suas filhas mocinhas para terem seus bebês às escondidas, bem longe de casa. Quantas delas tiveram seus filhinhos recém nascidos sequestrados pelos próprios pais?! E com a conivência de médicos e de parteiras. Ou lhes diziam que a criança nascera morta, do que a moça sempre duvidava, até quase enlouquecer, porque lembrava-se de terem ouvido o chorinho do recém nascido e, depois, nada! Hoje se pode comprovar a maternidade e a paternidade autênticas, mas lá atrás? Ficava, não o dito pelo não dito, mas o acontecido pelo suprimido e, pretensamente esquecido, o que é muito pior.

Por vezes mandavam-nas por meses a fio ou mais de ano, para viverem e parirem em outro país e tratavam de encontrar alguma família a quem entregarem o recém nascido. Ou, então, as mães das moças, avós das crianças, os apresentavam à sociedade como se fossem próprios e à mães verdadeiras cabia o papel de irmãs mais velhas de seus bebês.
Não faz muito tempo, conheci um casal onde o noivo da filha deles era, de fato, filho daquela a quem chamava de irmã mais velha. E a família inteira sabia disso, mas agia como se nada disso houvesse acontecido. Ele, o rapaz, havia sido registrado como filho daquele que era, na verdade, seu avô.

Observo que, nas famílias em que a paternidade ou maternidade é desviada para outro parente, famílias que não assumem isso com clareza e naturalidade, estes jovens cuja história de nascimento é falseada, na idade adulta se mostram muito tímidos, retraídos, pouco ambiciosos, de baixa proatividade, fazendo o tipo 'bonzinho', como se vivessem destinados a não vencerem na vida, esperando por serem adotados de verdade.

Segredos em família não fazem bem a nenhuma das gerações Muitos fatos eram e continuam sendo encobertos. Muitas mulheres conceberam e ainda concebem filhos que não de seu próprio marido. E muitos homens têm mais de uma família ao mesmo tempo. Famílias não são, portanto, aquele mar de rosas onde as coisas correm direitinho, bonitinho e sem senões.

Poucas são as famílias verdadeiramente amorosas, que conversam às claras, se amam, se xingam, brigam e depois fazem as pazes, uma família em que não se tem medo de cada um ser o que é. São famílias raras, que se adoram e que, 'na hora do vamos ver', elas agem em bloco: todos juntos. Constituem-se em verdadeiros casulos de amor e de proteção.

Pais e mães têm suas preferências e afinidades. Pais e mães não tratam de forma igual a todos os filhos, ainda que pensem fazê-lo. Então, isso quer dizer que 'cada filho tem um pai e uma mãe diferente' daqueles que seus irmãos têm e que os pais nem se dão conta disso. Mas têm pais e mães que não querem ou não conseguem reconhecer que agem diferentemente com um filho e com outro.

Ou que dão primazia a um sexo ou pela ordem de nascimento. Primeiro filho e caçulinha, com certeza são os prediletos, o que para 'os do meio' é uma bênção: gozam de maior liberdade, ainda que de início se ressintam, por serem menos vigiados e acompanhados pelos pais.

- "Dei a mesma educação para todos! Porque são tão diferentes entre si?!
Veja o fulaninho isso e o sicraninho aquilo e..." Blablablá. Parece uma comédia de costumes, se não fosse, em muitos casos uma grande tragédia. Mas uma das maiores reclamações dos jovens de hoje é que seus pais não os enxergam. E os pais reclamam que seus filhos não os escutam e nem os obedecem. Avós e tios não fazem mais parte e, primos, se forem 'chatos', cortam relações com a facilidade com que se corta manteiga com uma faca aquecida. As famílias perderam sua integridade, sua lealdade, seu acolhimento mútuo. 

Cada núcleo vive suas alegrias e tristezas com amigos, quando os têm. E todos se sentem muito sós, quando vivem com o nariz e os olhos 'enfiados no trabalho', nos tablets e nos celulares.

O mesmo desalento que esvazia a alma dos mais velhos, esvazia a alma
dos jovens, crianças e adolescentes. Mesmo quando os tios se reúnem na casa de um deles, os churrascos de fim de semana são regados à cerveja e palavras de baixo calão, que borbulham por conta do alto consumo etílico, como se lazer fosse. Coisinha de nada, dizem, só umas cervejinhas. Quase todos estão bastante alterados no cai da tarde. Pior, pegam seus carros e retornam às casas.

E seus filhos os observam.

Nenhuma das gerações tem o privilégio de ser mais amada.

Conversas vazias, só para passar o tempo, ocupam as famílias de hoje, quando as pessoas não encontram espaço para falarem de si, umas com as outras. Não se escutam, não se aconselham e, portanto, não há revelações.

Faltam os diálogos, sobram o desrespeito e a indiferença. As pessoas não se enxergam, não se comunicam e foram rompidos os vínculos que garantiam acolhimento, proteção e união.

Enquanto o abandono mútuo veio permeando toda a convivência entre os
membros de uma família, entre as diferentes gerações e, mesmo, entre os da mesma geração, praticamente ninguém mais sabe de nada nem de ninguém. O que pensa um, o que sente o outro. O que têm feito, onde frequentam, com quem saem. Nada. Até os anos 90 os pais vigiavam seus filhos e os entregavam pessoalmente nas mãos de outros pais, nas festinhas e nos passeios. Hoje em dia os pais mal se conhecem, há pai e mãe que nem sabem o endereço onde seus filhos dizem terem dormido. Festas?

 Agora são as baladas e baladinhas,
onde rolam drogas e sexo, também. Não sabem com quem eles saem, se irão a pé, de carro ou de táxi.

Pais e mães dormem sossegados se seus filhos estão com o celular em
mãos: é só telefonarem para dizer que 'está tudo bem', quando podem estar alcoolizados e sendo abusados sem saber se defender. Ou, eles próprios, abusando dos mais fracos, porque isso sempre aconteceu, mas não com gravidade e a frequência com que acontece hoje em dia.

Cada membro da família, mesmo sendo irmãos, cada qual pensa muito mais em si próprio, nos seus interesses e, muito menos no conjunto. A solidão foi ocupando o espaço do comprometimento. Não em forma de deveres e direitos, mas o comprometimento naturalmente estabelecido pelo amor compartilhado. Não que não hajam ciumeiras, brigas por coisas sérias ou por besteiras. Mas a convivência em família está destroçada. Pais não enxergam seus filhos. Filhos partem da premissa que abandonaram seus pais idosos por terem sido abandonados "primeiro". Os netos? Ficam sem família. E isso não traz nada de bom. Para ninguém.

O engano: autosufiência e independência a qualquer preço.

 Todos 'se fazem de fortes'. As pessoas se convencem de que podem 'passar muito bem' sem a amizade daquele irmão ou irmã. Que não precisam ser visitados pelos pais. Que avós não têm nada a ver. E que tios e primos, bacanas ou chatos, não fazem falta.

A pessoa pode pensar ter superado suas dores de ter vivido uma infância abandonada. A pessoa pode pensar que não precisa mais dos mais velhos. Podem pensar que vivem muito bem sem serem obrigados a conviver com seus familiares. E, sim, existe a família de afeto, mas quanta dor já se viveu antes de formar uma nova família, constituída de amigos queridos e comprometidos consigo?

Então, quando todas as pessoas de uma família se sentem sós, temos aí uma família integralmente doente, muito desamparada e muito perigosa. Para si e para os demais com quem convivem. O desespero, as dores não curadas podem, à qualquer momento, explodirem em gestos e ações desmedidas. Contra si próprios e contra os demais.

A nossa é uma sociedade de pessoas tensas, mais ansiosas, insatisfeitas, infelizes e cínicas, além de terrivelmente solitárias, que disfarçam bem. Ou pensam que disfarçam. Quando se examina de perto, são milhares, milhões de viciados em trabalho, em drogas, em sexo promíscuo, em compras, em aparelhos de última geração, em games e em remédios que não curam nem aliviam, porque vivemos numa sociedade que está, no seu conjunto, muito e gravemente doente. Uma sociedade de relações e relacionamentos financeirizados, em vez de respeitadores de poderes necessários para regular a ordem social: a política, as leis, com suas economias e seus empreendedores e, a ordem espiritual que nos reúne.

Quando existe promiscuidade entre estes três poderes, todos eles remetendo e se submetendo aos poderes de somente um deles, que se torna dominante, instala-se a desordem e todos, inclusive as células familiares se desfazem. Não presta quando a religiosidade se sobrepõe à espiritualidade e se rende ao poder financeiro. Não presta quando as leis, a educação cívica e os negócios se sobrepõem aos demais poderes, porque sem a espiritualidade, tudo se torna uma questão de razão e de renda. E não presta quando a política se sobrepõe às pessoas humanas, desrespeitam as leis e sufocam o fluxo das trocas livres, negociando interesses exclusos e individuais, mais do que respondendo ao conjunto da sociedade, ao que as pessoas humanas verdadeiramente necessitam para serem felizes e se sentirem seguras.

Somos co-partícipes da construção de uma sociedade de redes e mais
redes de trocas abslutamente financeirizadas. Uma sociedade viciada nas aparências, na sede de poder e nas vaidades. Viciada na crença de que cada qual se basta e que ser independente é a melhor coisa da vida.

Olhamos com indiferença para o momento de chegar em casa e não ter com quem conversar, ninguém esperando. Ou não ter forças para conversar, de tanto que se trabalhou. Adiar o momento de voltar para casa por causa do trânsito terrível e permanecer bebendo num barzinho num happy hour sem hora para terminar. Deixar as crianças aguardando, até as dez da noite, pelo papai e pela mamãe que acham isso normal, porque senão não terão se visto desde o café da manhã e olhe lá. Falar correndo ao telefone com os pais de mais idade, porque não há sequer interesses em comum sobre o que conversar. 

Perguntar pelos irmãos em vez de visitá-los por que não consta das prioridades do trabalhador no dia a dia, nem nos fins de semana.

Sim, esta é a vida nas grandes cidades e nos corações cada vez mais
apertados, porque o que importa está sendo passado para trás. Rompem-se famílias. Rompem-se vínculos de amizade. Rompem-se os contratos. Sofremos as penas das leis, mas não respiramos direito, não descansamos enquanto dormimos e não desfrutamos das amizades no dia a dia. Penso que é chegada a hora de parar, respirar fundo e refletir sobre o que, de fato, merece ser recuperado, revisto, repaginado, reformulado, reavaliado para conseguirmos reinstalar a gentileza, a candura, o sorriso meigo, a confiança e um profundo respeito entre nós e, por todos nós e, pela coisa pública.

Se quisermos que alguma coisa seja diferente em nossas vidas nas
cidades grandes, muito mais humana e bela do que tem sido, temos que nos propor a fazer bem e, conscientemente feito, cada qual a sua parte e buscar junto as soluções que almejamos. Conhecer melhor as pessoas, Se conhecer melhor e alinhar o coração à força da vontade racional e à ação criteriosa e executada com determinação.

Há quem afirma estar faltando Deus em nossos corações. Há quem afirme faltar boas escolas, que garantam uma boa educação e um ensino sobre como pensar a razão. Há quem defenda o direito ao trabalho digno, bem regulamentado e flexibilizado. Há quem defenda plantar mais árvores, pavimentar melhor as ruas, ter mais tempo para o lazer. Há os que não fazem questão e nem acreditam em Deus, mas acreditam na ética e na civilidade, numa vida de convivência respeitosa e cordial.

Somos herdeiros. E devemos agir no hoje, com foco no futuro.

Se não, em nome de que agirmos, se tudo termina um dia e nós também
vamos morrer?

O que eu sei é que não somos somente herdeiros dos legados de nossos
pais e avós. Pessoas boas nascem também no bojo de famílias infelizes e cruéis.

E pessoas de mau caráter também nascem no seio de famílias boas. 

Amores perdidos e traídos não precisam gerar desconfianças e discórdias nos novos relacionamentos. Homens ou mulheres, não são 'farinhas do mesmo saco'. Nem os dramas familiares só mudam de endereço.

Nós também contribuímos para mudanças. Mudanças externas são muito
mais perceptíveis e rápidas. Mudanças internas, para pior e para melhor podem levar o tempo de toda uma vida. E pode não haver mudança alguma em nossa pessoa, por mais que se tente. A nossa humanidade é complexa, misteriosa e não podemos atribuir-nos o poder de gerar felicidade só por tentarmos ser 'melhores pessoas'.

Se o nosso pai ou nossa mãe foram pessoas ausentes, não precisamos
revidar na mesma moeda e ninguém de nós precisa exteriorizar o mesmo.

Quando sentirmos que o rancor de um abandono sofrido se sobrepõe ao dever de cuidado para com os mais idosos, mesmo tendo sido abandonados quando pequenos, lembremo-nos de que esta é mera justificativa, que se presta a justificar um novo erro, porque foi cometido outro.

Este é um argumento vazio, pois se os meios justificam os fins, o que justificam os meios? Um mau final não justifica um mau começo. Não basta que se viva criticando as posturas de nossos pais. E de seus pais, nossos avós. Um irmão mais novo, tanto quanto o mais velho pode nos fazer mal. Ou nos fazer bem. O que fazemos a eles, quando lhes viramos as costas?

Existe referências positivas de paternidade, maternidade e fraternidade, que sempre podem ser observadas e copiadas. Mesmo quando as mágoas que nos causaram foram intensas e eles não tenham sabido nos amar ou, amando, não souberam demonstrar esse amor, praticar o abandono afetivo inverso é de nossa única e exclusiva escolha.

Com certeza o amor não pode ser imposto, mas pode ser desenvolvido e
treinado. Há muitas, muitas formas de amar, mesmo sem conviver e se tornar íntimo. Há avós, pais e filhos que não fazem questão de agirem corretamente.

Há noras, que para se vingarem de seus ex-maridos, impedem a convivência das crianças com os avós paternos. Há mulheres que impedem o pai de verem seus filhos, porque o sujeito foi parar na prisão.

Há homens desalmados que, quando se separam, viram as costas para os
filhos do casal e desaparecem da vida destes jovens, destas crianças, agindo pior que um animal. Há avós ruins, que destratam sua descendências e netos que se envergonham de suas famílias de origem.

O fato é que a 'obrigação de cuidado' para com filhos e avós, os mais vulneráveis, não é facultativa. Está na lei. E não cumprir com esta lei se constitui em crime. Se o amor não pode ser ensinado, pode ser estimulado, pode ser espelhado, pode ser desenvolvido e amadurecido. O cerne da questão é evitar o abandono de uns e de outros. E, se cometido, tentar acreditar que nenhuma relação, por pior que tenha sido está, em definitivo condenada a ser esquecida, nem privada de ser reestruturada, ao menos para trazê-la para um patamar de respeito, dignidade e amor pelo próximo.

Muitos amores feridos podem ser reconstituídos, desde que ambas as
partes se empenhem, com cuidado e paciência, com respeito e autorrespeito, passo por passo, em cada segundo de um novo encontro, palavra ou gesto. O perdão deve ser trabalhado e retrabalhado. Não que o erro grave não deva ser cobrado e, que seus malefícios não devam ser restaurados e sanados.

Acreditar, porém, que estamos sendo corretos ao justificar o abandono de hoje, pelo abandono de ontem, não é pagar com a mesma moeda: é perpetuar o erro. Qual erro? Não os erros passados, porque estes já causaram a dor e o mal que podiam causar e isso não se pode mudar. Mas o erro de hoje, a cegueira emocional que impede de assumirmos que o caminho mais suave e justo é o da temperança que transforma, a dor e os sofrimentos de todo um passado, em experiências e aprendizados.

Nenhuma vingança escapa de exalar seu cheiro acre, nem de seu sabor
amargo. Abandonar familiares, porque um dia se foi, tristemente abandonado, perpetua o rancor e não dissolve o dissabor. E, se cuidá-los, dispensa amá-los, o desejo de vingança não é tão poderoso a ponto de dispensar o amor que cada qual tem por si próprio e pela sua descendência. Filhos sempre observam seus pais. Sempre.


A ignorância não é boa de ser praticada. Mas se presta a ser
corrigida e precisa ser superada.

obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla
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