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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

PESO SECO E GANHO DE PESO INTERDIALÍTICO

É comum ganhar peso entre sessões de hemodiálise e as causas prendem-se essencialmente com uma grande ingesta de líquidos, nutrição desadequada, sal em excesso e factores psicológicos.

Os estudos epidemiológicos têm demonstrado que o número de pessoas com doença renal crónica (DRC) tem aumentado ao longo dos anos. Esta patologia constitui-se assim como um problema de saúde pública. As causas mais comuns da DRC são a hipertensão arterial, diabetes, glomerulonefrite crónica, pielonefrite, problemas obstrutivos crónicos (calculose, bexiga neurogénica), lúpus eritematoso sistémico e doenças hereditárias como rins poliquísticos e síndrome de Alport.
Com o comprometimento da função excretora e, consequentemente, da filtração glomerular, vários produtos tóxicos acumulam-se no organismo e dificilmente a pessoa sobrevive. De modo a permitir que as pessoas com DRC em estágio avançado se mantenham vivas e com qualidade de vida, recorre-se a terapias substitutivas da função renal, nomeadamente a diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal) e ao transplante renal.
Dentro das opções de diálise, a hemodiálise (HD) é a opção mais utilizada, uma vez que permite uma sobrevida bastante elevada e representa uma maior esperança média de vida para a maioria das pessoas com perturbação renal.
A hemodiálise é um processo que conduz à eliminação do excesso de líquidos e metabólitos acumulados no organismo por meio da filtração do sangue, através do dialisador, uma espécie de “rim artificial”. Na HD, a transferência de solutos ocorre entre o sangue e a solução de diálise através de uma membrana semipermeável artificial (filtro de hemodiálise ou capilar), englobando três mecanismos: difusão, ultrafiltração e convenção. A difusão é um processo que ocorre através do fluxo de soluto, de acordo com o gradiente de concentração, em que é transferida massa de um local de maior concentração para um de menor concentração. Isto depende do peso molecular e das características da membrana. A ultrafiltração apresenta-se como a remoção de líquidos através de um gradiente de pressão hidrostática. Por sua vez, a convecção é a perda de solutos durante a ultrafiltração, havendo um arraste de solutos na mesma direcção do fluxo de líquidos, através da membrana.
Para se realizar a HD é indispensável que se saiba qual é o peso seco da pessoa, de modo a determinar o volume a ser retirado por ultrafiltração (UF). Na maioria dos casos, as pessoas com DRC a realizar hemodiálise urinam pouco (baixa diurese) ou nada, o que proporciona a que os líquidos fiquem retidos no organismo e haja um aumento do peso. É este aumento que deve ser retirado nas sessões de HD.
O peso seco é calculado pela equipa de saúde através dos sinais clínicos de hidratação e pressão arterial. A partir do peso seco, da diurese residual e da quantidade da ingesta hídrica, controla-se o balanço hídrico e avalia-se a hidratação da pessoa. O doente é pesado logo que chega ao centro de hemodiálise/hospital. Este peso é o que se denomina de peso pré-sessão e determina a quantidade de líquidos a serem retirados durante a sessão, subtraindo o peso seco da pessoa. Quando termina a sessão, o doente é pesado novamente, ou seja, tem-se o peso pós-sessão, e é verificado o cumprimento da meta de UF.
Resumindo, o peso seco é o peso ideal após uma sessão de hemodiálise. Com este peso, a pessoa com DRC deve sentir-se bem e sem inchaços, com uma pressão arterial dentro dos parâmetros normais. Uma vez que a HD é uma técnica intermitente, ocorrendo geralmente três vezes por semana, durante uma média de quatro horas cada, observa-se que há um acumular de substâncias e líquidos entre as sessões e uma ganho interdialítico. Este é o ganho de peso entre uma sessão de hemodiálise e a outra (intervalo dialítico). 

O ganho de peso interdialítico (GPID) considerado adequado não tem um valor consensual na literatura. A nível europeu, as orientações recomendam que a diferença de peso entre uma diálise e outra, em percentagem, fique no máximo entre 4 a 4,5%. Uma percentagem de GPID superior a 5,7% foi associada a um aumento na taxa de mortalidade de 35%, independentemente de outros factores de risco.

Observa-se que algumas pessoas chegam a ganhar entre quatro a seis quilos de líquidos entre as sessões de diálise.
É comum ganhar peso entre sessões de hemodiálise e as causas prendem-se essencialmente com uma grande ingesta de líquidos, nutrição desadequada, sal em excesso e factores psicológicos. Outros factores associados ao aumento de peso incluem a idade, género, tempo em que se está num programa regular de HD e nível educacional.
Ganhar muito peso entre as sessões de hemodiálise gera múltiplas e graves consequências, nomeadamente hipertensão arterial, edemas em várias partes do corpo (inchaço), dispneia (falta de ar) edema agudo de pulmão e aumento de tamanho do coração que conduz ao cansaço fácil, falta de ar aos mínimos esforços e incapacidade de realizar as actividades do dia-a-dia.
O excessivo ganho de peso entre as sessões de diálise devido à ingestão de líquidos dificulta a sessão de hemodiálise e pode causar, durante a sessão, hipotensão, cãibras musculares, náuseas, cefaleias e edema agudo de pulmão, além do risco de elevação da pressão arterial posterior e complicações cardiovasculares.
Normalmente, recomenda-se que a ingesta de líquidos deve estar de acordo com a excreção urinária. A quantidade permitida considera o volume de urina de 24 horas acrescido de mais meio litro de líquidos (500 ml). Veja-se um exemplo: uma pessoa que excrete, em média, durante um dia inteiro, 300ml de urina, poderá ingerir, ao longo do dia, 800ml de líquidos (300 + 500ml). Dentro da soma diária de líquidos é importante considerar que a água está presente em variadíssimos alimentos. Desta forma, quando se fala em líquidos, além da água, deve-se considerar outros alimentos, designadamente a gelatina, gelados, fruta, gelo, refrigerantes, leite, iogurtes, sopas, etc. A carne apresenta cerca de 50% de água, e as frutas e hortaliças podem chegar aos 90%.
A restrição rigorosa da ingestão de líquidos talvez possa contribuir para a compulsão que muitas pessoas têm para os consumir, mas o sódio parece ser o principal factor estimulante da sede. É comum que as pessoas com DRC sintam a boca seca e sede intensa. Assim, evitar o sal não só é essencial para controlar a pressão arterial observada constantemente nestes doentes, mas também para controlar a ingestão hídrica e, como consequência, combater o ganho de peso interdialítico. A recomendação para o consumo de sódio varia entre pessoas e depende do volume e das perdas urinárias mas, de modo geral, situa-se entre 1 a 1,5g/dia.
Embora as pessoas submetidas a HD recebam as orientações nutricionais necessárias, nem todas aderem de modo adequado, obrigando a equipa de saúde a prescrever sessões de hemodiálise com retirada de volumes que nem sempre são suportadas pelos doentes. O acompanhamento nutricional é essencial numa fase prévia à HD e durante todo o tratamento. A intervenção dietética tem um carácter vasto e tem como objectivo controlar/prevenir os distúrbios hidroeletrolíticos, a síndrome urémica, as doenças metabólicas relacionadas (como a diabetes) e a desnutrição. Não obstante, o tratamento dialítico exige orientações nutricionais específicas para a melhoria das condições nutricionais da pessoa (como o aumento do aporte proteico e a restrição do potássio) e para a optimização da resposta terapêutica.
A dificuldade na adesão ao tratamento dialítico é enorme. Apesar dos benefícios que a hemodiálise proporciona à pessoa com DRC, é importante salientar que não conduz à recuperação integral da saúde do doente, ocasionando desgaste físico e stress mental e emocional, devido à dependência de um tratamento sistemático e às consequências incertas. A hemodiálise é um tratamento rigoroso e debilitante por exigir sessões semanais de algumas horas e técnicas invasivas. Logo, a pessoa sujeita a hemodiálise está submetida a limitações físicas, laborais e perdas sociais importantes. A depressão é uma das desordens psiquiátricas mais comuns nestas pessoas e relaciona-se com o aumento da morbilidade e mortalidade e com uma qualidade de vida menos satisfatória.
Concluindo, é importante reflectir sobre a importância que a equipa de saúde assume para com as pessoas em programa regular de hemodiálise. Não basta monitorizar os parâmetros vitais, as análises laboratoriais, o peso, etc. É necessário focar a atenção na pessoa como um todo, avaliando o seu contexto, as suas dificuldades e forças, o que ela pode conquistar e o que deve mudar. O reforço positivo, uma visão optimista, tempo de qualidade para responder a todas as dúvidas e segurança na educação para saúde, são práticas essenciais no acompanhamento destes doentes.
Se a prevenção se mantém como a pedra basilar em saúde, o tratamento segue a mesma linha no que respeita ao aumento da qualidade de vida da pessoa. E o tratamento não se pode ficar só pela parte mecanicista, deve almejar todo um potencial humano fundamental.
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obs. conteúdo meramente informativo procure seu médicoabsCarlaPublicado: virginia | 2016-09-20 17:58Última atualização: 2016-09-20 22:15:50Fonte:https://www.portaldadialise.com/articles/peso-seco-e-ganho-de-peso-interdialitico#.V-F6RMvzXys.facebook

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