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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Condenados ao Alzheimer...


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Não vislumbro iniciativa do governo para combater epidemia da doença em curso. Censos não pesquisam quantos portadores temos desta e de outras formas de demência



Retornando de recente congresso sobre a doença de Alzheimer em Londres, trago na bagagem uma certeza: a prevenção e o diagnóstico precoce da doença são os únicos meios eficazes de frear uma epidemia em curso.

Os números são inquietantes: 50% da população hoje viva chegarão aos 80 anos, e 45% destes novos octogenários desenvolverão Alzheimer. Ou seja, cerca de um em cada quatro de nós encontra-se hoje estatisticamente condenado.


E o que temos a nosso favor?

Sabe-se agora que a doença tem início décadas antes das manifestações clínicas mais evidentes de déficit de memória, e da cognição como um todo. Hoje, já dispomos de exames genéticos, de imagem (pet scan) e do liquor (líquido da medula espinhal) que permitem definir com mais de 90% de segurança não só o diagnóstico muito precoce, mas também quais pacientes nesta fase pré-clinica têm maior probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer.

Estes novos exames (chamados biomarcadores) são importantes porque apenas a impressão clínica e neuropsicológica, sem o emprego deles, apresenta um erro inaceitável de 30% tanto no grupo que tem a doença e não é identificada (falso negativo) quanto nos pacientes que apresentam outras causas para seus sintomas e são erroneamente diagnosticados com tendo Alzheimer (falso positivo).

Assim como não devemos começar a tomar remédio para osteoporose com o osso já fraturado, a doença de Alzheimer deverá ser identificada e combatida em pacientes com queixas apenas iniciais e subjetivas de memória, e não quando as ligações entre os neurônios (sinapses) já estejam comprometidas pela doença.

Os remédios atualmente em uso, concebidos para combate à doença em fase já estabelecida, não alcançaram bons resultados, devendo ser suspensos na maioria dos casos em que se revelam ineficazes após os primeiros meses de uso. Os métodos de prevenção não farmacológicos que se mostraram eficazes e apresentados no congresso foram uma dieta adequada, a atividade física aeróbica regular, o diagnóstico e tratamento da apneia do sono, o combate ao isolamento social, determinados exercícios cognitivos e de mindfulness, controle do stress e de todos os outros fatores de risco para doença cardiovascular.

Felizmente, dezenas de novas drogas estão sendo avaliadas, todas voltadas para emprego em fase precoce da doença. Quinze delas estão na última fase de pesquisa clínica, sendo testadas em um número já maior de seres humanos, embora a mais avançada delas (com resultados significativamente positivos), ainda tem seu lançamento previsto para somente daqui a três anos. Minha esperança é que esta e outras destas novas drogas, quando combinadas, permitam o controle total da doença, tal como foi alcançado com o diabetes, a doença coronariana, e tantas outras.


Não vislumbro, no entanto, qualquer iniciativa governamental para combater esta epidemia da doença em curso. Nossos censos (IBGE) não pesquisam quantos portadores temos desta e de outras formas de demência, e as entidades reguladoras de saúde (ANS) e de medicamentos (Anvisa) não facilitam a instalação de cíclotron (acelerador de partículas) e elaboração de radiofármacos essenciais para a pesquisa e o diagnóstico precoce.

Precisamos nos mobilizar para vencermos estes obstáculos e estarmos aptos a usufruir dos incríveis avanços realizados nos dois últimos anos em países que valorizam as pesquisas científicas, para que muito em breve nenhum de nós seja mais agredido por esta devastadora doença.


Sergio Abramoff é médico


stest 

https://oglobo.globo.com/opiniao/condenados-ao-alzheimer-21687775#ixzz4prc3geZk

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