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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O DESAFIO DA DIABETES PARA MÉDICOS E PACIENTES

desafio-diabetes
Meu paciente parecia um pobre coitado – morria de sede, vivia exausto e corria para ir ao banheiro a cada poucos minutos. Sua visão estava embaçada e ele vinha perdendo peso nas últimas semanas, apesar de comer vorazmente. Eu mal o havia conhecido, mas já era capaz de diagnosticá-lo com diabetes em cerca de um minuto. O incomum foi que esta era uma consulta programada porque, geralmente, a esmagadora maioria dos pacientes com esses sintomas chegam provenientes dos departamentos de emergência e centros de cuidados urgentes. Após uma aplicação de insulina de ação rápida e de cinco copos de água, o meu paciente se sentia como um novo homem, sem a necessidade de ter ido ao pronto-socorro. Mas agora, é claro, o trabalho iria começar.
Um novo diagnóstico de diabetes proporciona um enorme trabalho – muito o que explicar, grandes mudanças na vida para contemplar, dissipar os mitos, tratar de consultas com um nutricionista e uma enfermeira de diabetes. E logo dois dias depois, eu tinha um novo paciente para uma outra consulta programada – sede, cansaço, perda de peso, comendo e bebendo como um louco, os olhos com a visão tão turva que mal podia ver. Mal conseguimos passar das apresentações e eu já tinha feito outro novo diagnóstico de diabetes. Outra dose de insulina, outros cinco copos de água, e, em seguida, um mergulho no emaranhado de educação em diabetes.
A maioria das minhas consultas com pacientes diabéticos são programadas – mesmo com os pacientes recém-diagnosticados – e não envolvem tais apresentações dramáticas. Mais frequentemente a doença é verificada durante a triagem dos pacientes que possuem fatores de risco como obesidade ou histórico familiar da doença, que possuem comumente doenças como hipertensão, doenças do coração ou colesterol elevado co-existindo.
Estes dois pacientes destacaram o papel descomunal que o diabetes desempenha no contexto dos cuidados primários. A onda de diabetes ao longo das duas últimas décadas a tornou uma das doenças mais comuns que os internistas e médicos de família tratam. Atualmente, os médicos parecem ter apenas boas ou más notícias nessa guerra do diabetes, que em clínica médica geral, tem parecido ser a única frente que existe.
A boa notícia é que as taxas de obesidade infantil têm começado a reduzir em algumas cidades, inclusive entre as crianças pobres, o primeiro sinal positivo da epidemia de obesidade nos últimos anos. As crianças obesas são potenciais pacientes diabéticos, por isso mesmo este progresso incremental é uma vitória da saúde pública que devemos comemorar.
Também boa notícia é um estudo no qual adultos com obesidade e pré-diabetes foram capazes de perder peso com sensíveis mudanças de estilo de vida e acompanhamento terapêutico. Isso ocorreu em um cenário de atenção primária, e não um ambiente de pesquisa, então isso também sugere que podemos ser capazes de dobrar a curva de novos diagnósticos de diabetes.
O castigo de Sísifo e o desafio da diabetes. O tratamento exige esforço e perseverança.
O castigo de Sísifo e o desafio da diabetes. O tratamento exige esforço e perseverança.
Mas há também uma má notícia. Mudanças de estilo de vida intensivos para pacientes com diabetes, infelizmente, não reduz o risco de acidente vascular cerebral ou ataque cardíaco, embora esses pacientes sejam capazes de perder peso, melhorar suas qualidades de vida, tomar menos medicamentos e até mesmo diminuir os custos do tratamento. Mudanças de estilo de vida – dieta e exercício – exigem contínuos esforços e grandes investimento por parte dos pacientes, e nós gostaríamos de pensar que tal esforço seja refletido nos resultados clínicos. Esperamos que estudos futuros mostrem ainda mais benefícios.
Mesmo com todas as pesquisas e novos tratamentos disponíveis, o combate à diabetes pode parecer como uma tarefa de Sísifo. A contradição bizarra do fast food mais barato do que o alimento saudável, combinada com um bombardeio de publicidade – especialmente em direção às crianças – transforma em um desafio, até mesmo para pessoas mais motivadas, comer de forma saudável. Bebidas açucaradas em recipientes tamanho monstro, abundam. E a nossa fixação nas telas grandes e pequenas nos mantém cada vez mais sedentários.
Mas, apesar de todos estes desafios, existem sucessos, mesmo que não sejam perfeitos. Ambos os meus pacientes que vieram ao meu escritório e foram recém diagnosticados com diabetes essa semana melhoraram. Talvez fosse a concretude de seus sintomas que os motivaram, mas ambos têm feito um progresso constante fazendo os seus diabetes ficarem sob controle. Nos últimos meses, eles estão comendo de forma mais saudável e fazendo exercícios regularmente. Nós temos ainda de calibrar os seus medicamentos para que o açúcar no sangue não fique em níveis estratosféricos. No momento estão apenas moderadamente elevados.
Efeitos colaterais dos medicamentos, o custo dos suprimentos de seus medidores de glicose, a logística da vida real e os problemas concomitantes de pressão arterial e controle de colesterol tornam um desafio para se chegar à normalidade. Nós ainda estaríamos classificados como “falhas” se houvesse um departamento de controle de qualidade com medidas, pois ainda não atingimos as metas clínicas recomendadas, mas ambos os pacientes se sentem muito melhor e se encontram muito mais saudáveis agora. Portanto, não é uma má notícia e uma boa notícia.
Mas a verdadeira novidade para estes dois pacientes – e, para muitos, muitos mais como eles – é que o diabetes é uma maratona, não um corrida de curta distância. Embora tenha havido uma enxurrada de mudanças, o diabetes é algo com o qual irão conviver pelo resto de suas vidas. Eles sempre deverão estar cientes do que comem. Eles terão de manter o controle dos medicamentos, dos níveis de glicose, da ingestão de carboidratos, de suas consultas médicas, exercícios e peso. Eles terão que estar atentos para as muitas complicações que o diabetes pode trazer.
Isto, obviamente, não é novidade para quem tem diabetes ou trata de algum diabético, mas para estes dois pacientes isto era  uma coisa nova. Agora, se preparam para o longo curso, muitas vezes confuso, complicado e algo ocasionalmente gratificante de viver com uma doença crônica ao longo da vida.

well_ofri
  O novo livro de Dr. Danielle Ofri  “O que os médicos sentem: como as emoções afetam a prática da medicina.” Ela é professora associada de medicina na NYU School of Medicine e editora-chefe do Bellevue Literary Review .


 obs, conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs
Carla

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