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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

DIETAS RICAS EM PROTEÍNAS E OS RISCOS PARA O RIM

Públicado Este ano, por Virginia Gonçalves - Enfermeira no Serviço Nefrologia CHUC-HG
 
 
 
 
DIETAS RICAS EM PROTEÍNAS E OS RISCOS PARA O RIM
Dietas ricas em proteínas e os riscos para o rim
Imagem Flickr: Peppercorn Beef Shoulder Filet Steak, de TheBusybrain sob licença CC BY-NC-ND 2.0
 
As proteínas são as moléculas orgânicas mais importantes e mais presentes nas células, sendo também as moléculas mais abundantes nos seres humanos. Como são constituídas por diferentes combinações de aminoácidos, permitem a formação de diversas estruturas que se traduzem em inúmeras formas de actuação no nosso organismo. Deste modo, elas podem ter várias funções, nomeadamente de:
 
  • Catalisadoras (enzimas): Aumentam a velocidade de uma determinada reacção química;
  • Transportadoras: Podem encontrar-se na membrana plasmática e intracelular de todos os organismos, transportando substâncias como a glicose. A hemoglobina presente nos glóbulos vermelhos transporta o oxigénio para os tecidos;
  • Protecção imunitária: Os anticorpos são proteínas que actuam de modo a defender o corpo contra organismos invasores;
  • Estruturais: As proteínas proporcionam forma, suporte e resistência, como é o caso da cartilagem e dos tendões (colagénio);
  • Transmissão do impulso nervoso;
  • Armazenamento: Existem proteínas que são nutrientes na alimentação (albumina do ovo e a caseína do leite).
 
 
Necessidades diárias de proteína
 
O consumo diário de proteínas deve ser individualizado e específico, tendo em atenção a idade da pessoa, o género, o grau de actividade e exercício físico, a profissão, a condição de saúde-doença e os objectivos quanto à melhoria do desempenho desportivo.
 
 

A título de exemplo, para as pessoas com doença renal crónica em programa regular de hemodiálise, a ingestão de proteínas deve ser de 1 a 1,2g por quilo de peso por dia. Para pessoas com Doença Renal Crónica (DRC) em pré-diálise recomenda-se uma ingestão de 0,6 – 0,8g de proteína/Kg/dia, sendo que, pelo menos 60% destas proteínas sejam de alto valor biológico, isto é, devem ser proteínas bem absorvidas pelo organismo, como por exemplo as proteínas de origem animal.

 
 
Fontes alimentares de proteínas
 
Existem proteínas de origem animal e proteínas de origem vegetal. As proteínas de origem animal são as que advém de alimentos como a carne, queijo, ovos, iogurtes, leite e peixe, ou seja, provém de fontes animais. Já as proteínas de origem vegetal podem-se encontrar em maior quantidade em alimentos como a soja, o grão-de-bico, o feijão, as lentilhas, o tofu, a quinoa, as bebidas vegetais (amêndoa, soja, aveia, arroz, coco) e os frutos secos.
 
 
O organismo utiliza as proteínas da alimentação através dos aminoácidos que a compõe. As proteínas ingeridas são sujeitas a um processo de “quebra” no aparelho digestivo e os aminoácidos são distribuídos por todo organismo, cada um executando a sua função.
 
 
 
O sucesso das dietas/regimes alimentares ricos em proteínas
 
O que orienta todas a dietas/regimes alimentares hiperproteicos, é o facto de que a origem do que comemos é o mais relevante no que diz respeito à perda de peso/manutenção de um estilo de vida saudável e não a quantidade de calorias.
 
 
Uma das dietas mais famosas que contempla a ideia supracitada é a dieta de Atkins. Esta dieta baseia-se na premissa de que o consumo excessivo de hidratos de carbono leva a um aumento da produção de insulina, o que promove a formação de tecido adiposo (gordura) e, consequentemente, aumento de peso. Assim, a maioria das dietas de alto teor proteico defende que a grande maioria dos hidratos de carbono devem ser evitados, compensando as necessidades do organismo com alimentos ricos em proteínas e em gorduras. Os hidratos de carbono a ser evitados são os que estão presentes em alimentos altamente processados e, consoante a dieta, também algumas frutas, vegetais e cereais devem ser consumidos excepcionalmente. Além destes factos, os alimentos ricos em proteínas recomendados são especialmente de origem animal e não vegetal, pois os últimos possuem níveis de hidratos de carbono elevados.
 
 
Algumas dietas também recomendam o uso de suplementos nutricionais para evitar uma possível deficiência de micronutrientes, nomeadamente a toma de proteína em pó.         
 
O princípio de que as dietas hiperproteicas são mais eficazes do que outras deve-se a duas explicações: a de que uma dieta com alto teor proteico elimina o estímulo da fome e a de que este tipo de dietas aumenta os gastos em termos energéticos (termogénese).
 
 
Os macronutrientes (proteínas, lípidos e hidratos de carbono) actuam de forma diferente no controlo da fome e da ingestão alimentar. As proteínas conferem maior saciedade do que os hidratos de carbono, os quais, por sua vez, satisfazem mais do que os lipídios. A ingesta de proteínas em quantidades normais não provoca aumento imediato da glicémia (açúcar no sangue), ou seja, se se consumir quantidades equilibradas de proteína, estas assumem-se como tendo um baixo índice glicémico, evitando picos de hiperglicemia. Este facto melhora a sensibilidade à insulina, principalmente em pessoas com obesidade e/ou com diabetes.
 
 
A termogénese corresponde à energia na forma de calor gerada ao nível dos tecidos vivos. Enquanto que o efeito termogénico da dieta proteica é de 20-30%, o dos hidratos de carbono é de 5-10 % e das gorduras cerca de 1-3 %. Este elevado efeito termogénico da proteína foi atribuído a factores como o aumento do consumo de energia para ligações peptídicas e o aumento da síntese proteica.
 
 
Um estudo realizado por Mikkelsen et al. (2000) concluiu que, quando se substituiu 17-18% de hidratos de carbono por proteína de carne de porco ou de soja, ocorreu um aumento de 3% no gasto energético em 24h, em pessoas obesas, pré-obesas e pessoas saudáveis não obesas. Neste mesmo estudo verificou-se que o efeito termogénico induzido pela carne de porco foi seis vezes superior à soja, sugerindo que o efeito termogénico depende da qualidade e do tipo da proteína ingerida.
 
 
Existem estudos que concluem que regimes hiperproteicos e hipercalóricos favorecem uma maior preservação da massa magra e maior perda de gordura. No entanto, produzir evidência científica neste campo é bastante difícil pois não há uma definição universalmente aceite que quantifique e qualifique as dietas hiperproteicas e os estudos rigorosos em humanos a longo prazo são escassos (o que conduz a conclusões baseadas em evidências a curto prazo, muito menos fiáveis e estatisticamente signifiativas).
 
 
O efeito a longo prazo das dietas hiperproteicas foi estudado, pela primeira vez, em 1999 pela equipa de Arnie Astrup. Concluiu-se que os rins se adaptam ao consumo elevado de proteína sem manifestação de efeitos adversos na sua funcionalidade. Até então, os esforços tinham-se centrado em estudar o efeito da proteína alimentar na doença renal estabelecida e não na sua relação causa-efeito. Mas, depois desta investigação, não foram realizados muito mais estudos sobre a temática.
 
 
Riscos da dieta hiperprotéica
 

A longo prazo, as possíveis consequências de uma elevada ingestão de proteínas manifestam-se, geralmente, a nível cardiovascular e renal.

 
 
Sugere-se que o aumento do risco de doenças cardiovasculares aconteça devido ao consumo excessivo de proteínas animais, que estão associadas ao maior aporte de gorduras (gordura saturada e colesterol). No entanto, em estudos recentes, observou-se que o aumento do consumo de proteínas associado a um declínio no consumo de hidratos de carbono levou à diminuição dos níveis séricos de LDL (mau colesterol) e aumento do bom colesterol (HDL), havendo também uma diminuição importante dos triglicerídeos.
 
 
Em relação à sobrecarga renal, a ingestão proteica, em contraste com a ingestão de gorduras ou de hidratos de carbono, influencia a hemodinâmica renal, estimando-se que o consumo excessivo de proteína resulte em sobrecarga, devido ao aumento da taxa de filtração glomerular (TFG) (filtração dos rins). Este tipo de dietas também parece aumentar o volume renal e o peso do rim. No entanto, o efeito hemodinâmico a longo prazo no rim saudável não é bem compreendido. Também se sabe que um elevado consumo de proteínas predispõe à formação de cálculos renais (pedras nos rins.
 
 
A carga ácida é também um importante factor de risco para a DRC. A metabolização das proteínas, dos legumes e dos cereais aumenta os níveis de aniões e ácidos orgânicos no plasma, o que se traduz numa redução do pH do organismo. Já os vegetais e as frutas têm essência alcalina. Um obstáculo no equilíbrio ácido-base leva a problemas que podem culminar na morte se o corpo humano não possuir os mecanismos fisiológicos que asseguram a manutenção de um pH constante. Em resposta ao aumento da acidez, e de forma a que o organismo volta ao seu equilíbrio, são libertados compostos básicos como, por exemplo, catiões, especialmente o cálcio dos ossos, o que pode conduzir à perda de densidade óssea (osteoporose).
 
 

Outro risco potencial de uma dieta hiperproteica é o ácido úrico elevado. No entanto, um estudo recente não encontrou qualquer aumento nos níveis de ácido úrico em pessoas submetidas uma dieta hiperproteica. Embora não exista qualquer evidência de uma relação causa-efeito, é recomendável que o consumo de alimentos ricos em purinas seja controlado.

 
 
Convém salientar que o impacto renal de uma adesão a uma dieta hiperproteica por um curto período de tempo é, provavelmente, diferente do impacto causado por um regime alimentar prolongado. Desta forma, apesar de não haver uma contra-indicação renal clara relativa às dietas hiperproteicas na pessoa com função renal normal, os riscos teóricos existem e devem ser analisados. Quem estiver disposto a aderir a este regime alimentar deve ser bem acompanhado por profissionais competentes.
 
 
Por outro lado, os riscos potenciais de uma dieta hiperproteica na pessoa com DRC, baseiam-se na progressão acelerada da doença, no aumento da proteinúria, em distúrbios electrolíticos e de volume graves, na tendência aumentada para a formação de cálculos renais e no agravamento de sintomas urémicos.
 
 
Recomendações gerais
 
Os rins são órgãos muito complexos e sensíveis a qualquer mudança na estrutura química do sangue e, deste modo, o nosso estilo de vida influencia significativamente a sua integridade e funcionalidade. Existem algumas recomendações básicas e transversais à maior parte da população mas, para qualquer dúvida, há sempre uma equipa de saúde por perto que o possa orientar e aconselhar especificamente. Assim, a nível da sua dieta:
 
  • Siga uma alimentação equilibrada, com base em hortaliças frescas e cruas, cereais integrais, feijões, frutos secos e sementes;
  • Eleja o peixe como a principal fonte de proteínas e, uma a duas vezes por semana, faça uma refeição sem proteínas de origem animal;
  • Opte por carnes brancas, magras e de alta qualidade;
  • Consuma alimentos ricos em vitamina A, que é benéfica para o trato urinário, como a cenoura, abóbora, espinafres e as folhas de brócolos;
  • Ingira uma quantidade equilibrada de proteínas (o equivalente à palma da mão) ao almoço e ao jantar;
 
Conclusão
 
Foi possível observar que não existem provas de um processo causa-efeito das dietas hiperproteicas no organismo de uma pessoa saudável, principalmente a nível renal. No entanto, em indivíduos de risco ou com doença prévia, é importante manter um consumo moderado de proteína de forma a abrandar o desenvolvimento da disfunção renal. A progressão da doença renal é, normalmente, silenciosa, portanto é necessário que se aposte na prevenção, com análises sanguíneas e urinárias regulares e, se houver necessidade, com o recurso a outros exames complementares de diagnóstico.
 
 

Um regime alimentar adequado e equilibrado é essencial para a manutenção de uma boa condição de saúde: por exemplo, um consumo elevado de proteínas deve ser compensado com vegetais e frutas, de modo a anular a natureza ácida da dieta hiperproteica. Um regime alimentar saudável deve englobar todos os macro e micronutrientes, com maior apetência para alimentos da época e biológicos e evitando os alimentos processados. Aposte na qualidade ao invés da quantidade pois só assim poderá garantir o bom funcionamento de todas as funções do seu organismo!


obs. conteúdo meramente informativo procure seu médico
abs,
Carla
extraído:http://www.portaldadialise.com/articles/dietas-ricas-em-proteinas-e-os-riscos-para-o-rim


 Referências Bibliográficas:
ATKINS R, - Dr Atkins’ New Diet Revolution. New York, 1999.
ASTRUP A. [et al.] -  Effect of protein and methionine intakes on plasma homocysteine concentrations: A 6-mo randomized controlled trial in overweight subjects. Am J Clin Nutr. Vol. 76, (2002) p.1202-1206.
OLIVEIRA, H.P. - Efeitos de uma dieta hiperproteica a nível renal. [Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina]. Covilhã: Faculdade de Ciências da Saúde Universidade da Beira Interior, 2008, 25p.
PORTAL DA DIÁLISE – Educar para Prevenir.
Revista Prevenir
SOCIEDADE PORTUGUESA DE NEFROLOGIA.
SEELEY, R.; STEPHANS, T.; TATE, P. – Anatomia e Fisiologia. 6ª edição. Loures: Lusociência, 2003. 1118 p. ISBN: 972- 8930-07-0.
THOMAS, Nicola. – Enfermagem em nefrologia. 2ª ed. Loures: Lusociência. 2005. 489 p. ISBN 978-972-8383-85-5.


 

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